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O 1% mais rico já emitiu cota anual de CO2 de 2025

Os muito ricos não sabem parar, transformam poder econômico em poder político e destroem o planeta

O 1% mais rico da população mundial vai terminou de consumir na última sexta-feira (10) sua “cota anual” de emissões de gases causadores do efeito estufa de 2025. Já a metade mais pobre da população levará 1.022 dias para emitir a mesma quantidade de gases – ou seja, quase 3 anos. É o que indica o estudo “A Desigualdade de Carbono Mata”, da organização internacional Oxfam, que discute a desigualdade social e econômica mundo afora. A organização divulgou o estudo justamente para marcar a data em que tal cota foi consumida. A entidade decidiu chamar o dia 10 de janeiro de 2025 de “Dia dos Ricos Poluidores”.

A Oxfam definiu a cota anual e individual considerando metas de emissão fixadas para que a temperatura média do planeta não suba mais do 1,5°C, tida por cientistas como o limite para a sustentabilidade da humanidade. Segundo a ong, essa cota é de 2,1 toneladas de carbono por pessoa por ano. Hoje, cada bilionário pertencente a 1% mais rico da população emite, em média, 76 toneladas de carbono por ano. Já cada pessoa da metade mais pobre emite, em média, apenas 0,7 toneladas de carbono.

Iates em Mônaco. O país europeu conta com a maior concentração de super-ricos per
capita de todo o mundo, com um bilionário a cada 12 mil residentes – Foto: Mike Palmer

Para limitar o aquecimento global a 1,5°C, os mais ricos deveriam cortar 97% de suas emissões até 2030. Mas os super-ricos continuam desperdiçando as chances da humanidade com estilos de vida extravagantes, investimentos poluentes e influência política nociva. Uma pequena elite está roubando bilhões de pessoas de seu futuro para alimentar sua ganância. Para exemplificar os absurdos dos super-ricos, um voo espacial como da Blue Origin, de Jeff Bezos, emite mais carbono do que a maioria da população mundial em toda a sua vida. Um voo espacial de 11 minutos emite mais de 75 toneladas de carbono por passageiro. Cerca de um bilhão de pessoas emitem menos de uma tonelada por pessoa por ano. Ao longo de sua vida, este grupo de um bilhão de indivíduos não emite mais de 75 toneladas de carbono por pessoa.

Um voo espacial como da Blue Origin, de Jeff Bezos, emite mais
carbono do que a maioria da população mundial em toda a sua vida

A pesquisa aponta ainda que, desde 1990, as emissões dos mais ricos já causaram trilhões de dólares em danos econômicos, perdas agrícolas extensas e milhões de mortes por calor extremo. Nos últimos 30 anos, os países de baixa e média-baixa renda sofreram danos econômicos três vezes maiores do que os valores de financiamento climático prometidos pelos países ricos. Ainda segundo a organização, até 2050, as emissões dos mais ricos podem levar a perdas agrícolas suficientes para alimentar 10 milhões de pessoas por ano.

Aumento do nível de financiamento – O argumento de que “não há dinheiro” é insustentável

Os governos precisam parar de servir aos interesses dos mais ricos. Esses grandes poluidores devem ser responsabilizados. A Oxfam recomenda a criação de impostos sobre os mais ricos e sobre bens de luxo, obrigar corporações a cortar emissões e aumentar o financiamento climático. A entidade estima que países ricos devem cerca de 5 trilhões de dólares (mais de R$ 30 trilhões) a países em desenvolvimento do que ela chama de “dívida climática”. O argumento de que “não há dinheiro” é insustentável. Se os governos estivessem realmente comprometidos em fazer com que pessoas e empresas ricas e altamente poluidoras pagassem, poderiam começar a ampliar o financiamento necessário.

Jatos particulares levando ao colapso climático

Globalmente, apenas 1% da população é responsável por metade de todas as emissões de carbono provenientes de aviões. A riqueza extrema está alimentando a crise climática, ao impulsionar o acesso a viagens aéreas de luxo e jatos particulares para os mais ricos. Nos últimos 20 anos, as vendas de jatos particulares altamente poluentes dobraram. Na pesquisa, a Oxfam conseguiu identificar os jatos particulares pertencentes a 23 dos 50 bilionários mais ricos; os outros não possuem jatos particulares ou os mantiveram fora do registro público.

Ativistas bloquearam um jato particular por seis horas e meia em
Amsterdã – Foto: Marten van Dijl/Greenpeace Netherlands (2022)

Em média, cada um desses 23 bilionários fez 184 voos – passando 425 horas no ar – em um período de 12 meses. Isso é o mesmo que cada um deles contornar o globo dez vezes. Os jatos particulares desses 23 indivíduos super-ricos emitiram em média 2.074 toneladas de carbono por ano. Isso equivale a 300 anos de emissões de uma pessoa de outra classe social ou a mais de 2.000 anos de emissões de alguém entre os 50% mais pobres do mundo. Elon Musk possui pelo menos dois jatos particulares que, juntos, produzem 5.497 toneladas de CO2 por ano. Isso equivale a 834 anos de emissões para uma pessoa de outra classe social, ou 5.437 anos para alguém que está entre os 50% mais pobres do mundo.

Mesmo diante dessas alarmantes estatísticas de emissões de carbono, ainda há esperança. Após protestos do Greenpeace e da Extinction Rebellion, o aeroporto de Schiphol, o maior da Holanda, anunciou que proibiria jatos particulares até 2069. No entanto, essa medida foi suspensa pelo novo governo.

Super iates super poluentes

Os super iates estão entre os fatores mais prejudiciais relacionados ao consumo dos super-ricos. Desde 2000, o número de super iates mais do que dobrou, com cerca de 150 novos lançamentos a cada ano. Embora passem a maior parte do ano atracados, aproximadamente 22% de suas emissões totais são geradas durante esse “tempo de inatividade”. A pesquisa identificou 23 super iates pertencentes a 18 bilionários e estima que cada um emite, em média, 5.672 toneladas de carbono por ano, mais de três vezes as emissões dos jatos particulares desses bilionários. Isso equivale a 860 anos de emissões de carbono para uma pessoa de outra classe social e 5.610 vezes a média de alguém entre os 50% mais pobres do mundo.

O megaiate Kaos de Nancy Walton Laurie, herdeira da rede
Walmart, um dos três megaiate da família

A família Walton, herdeiros da rede varejista Walmart, possui três super iates avaliados em mais de US$ 500 milhões. Em um ano, eles percorreram 56.000 milhas náuticas gerando uma emissão total de 18.000 toneladas de carbono, o equivalente às emissões de carbono de cerca de 1.714 funcionários da loja Walmart.

Para enfrentar as crises climática e de desigualdade, os governos devem intensificar seus esforços e priorizar as seguintes ações: reduzir emissões, responsabilizar os grandes poluidores e criar novos sistemas que coloquem a prosperidade humana e planetária em primeiro lugar. Somente conseguiremos evitar o colapso climático total se os mais ricos forem obrigados a reduzir suas emissões de maneira drástica e imediata. Eles estão esgotando nosso precioso orçamento de carbono com luxos excessivos e a constante acumulação de riqueza, trazendo consequências diretas e devastadoras para o planeta, especialmente para os países e comunidades mais pobres do mundo.

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