O fenômeno é de alto risco uma vez que costuma trazer acumulados de precipitação muito altos e superando as previsões
A chuva orográfica, também conhecida com chuva de relevo, e a designação dada pela climatologia a um tipo de precipitação que ocorre quando a massa de ar úmida entra e encontra um obstáculo do relevo – uma montanha, por exemplo – condensa e precipita. É a chuva provocada pelas condições do relevo. O termo orografia designa a parte da geografia física ou geomorfologia que se ocupa da descrição do relevo, das montanhas. O fenômeno acontece quando uma massa de ar carregada de umidade sobe ao encontrar uma elevação do relevo, como uma montanha. O ar mais quente (mais leve e, geralmente, mais úmido) é empurrado para cima. Com a queda de temperatura, o vapor se condensa, provocando chuva.
As chuvas orográficas são de pequena a média intensidade mas longa duração. Ocorrem a barlavento, ou seja, na vertente da montanha para onde o vento sopra. A face oposta, a sotavento, é mais seca, sendo chamada de região de sombra da chuva. O fenômeno é comum na Serra do Mar.
Os episódios de chuva orográfica são de alto risco uma vez que costumam trazer acumulados de precipitação muito altos e que geralmente superam as previsões. Ultimamente o país é testemunho do fenômeno em Santa Catarina. Impressionantes inundações deixam desabrigados, arrastaram carros, casas, deixando cidades em situação de emergência. A combinação de vento de Leste/Sudeste gera um forte fluxo de umidade que ao encontrar a região montanhosa da Serra do Mar gera o que a chuva orográfica, cuja relação com relevo gera grandes volumes de chuva. Esse tipo de chuva não surpreende na região por ter mesmo essa peculiaridade de ao Leste da cadeia de montanhas ter cidades próximas ao mar e praticamente ao nível do mar. Como resultado a umidade sobe a montanha como vapor e desce na forma de chuva sempre muito intensa em poucas horas.
Recentemente a combinação de ventos fortes, perturbações da pressão atmosférica com as barreiras de montanhas originaram um tsunami meteorológico ou meteotsunami. O fenômeno, considerado pelos meteorologistas “de difícil previsão”, foi detectado por marégrafos da Epagri/Ciram em Imbituba e Laguna. O meteotsunami arrastou carros e assustou frequentadores da praia do Cardoso em Laguna, com quatro ondas que duraram entre 14 e 16 minutos cada (uma onda normal costuma durar cerca de 15 segundos). Embora seja longas, essas ondas não são altas, segundo o especialista. Dessa forma, um observador da praia não consegue perceber o risco quando elas se aproximam. Atualmente, ainda não há tecnologia no mundo capaz de prever a ocorrência de meteotsunamis.
Embora incomum, esse fenômeno foi observado e descrito em Santa Catarina algumas vezes, segundo a Epagri/Ciram:
- 19 de novembro de 2009: praia do Pântano do Sul, em Florianópolis;
- 16 de outubro de 2016: praia do Morro dos Conventos, em Araranguá;
- 29 de outubro de 2019: praia da Guarda do Embaú, em Palhoça;
- 11 de novembro de 2023: praia do Cardoso, em Laguna.
A barreira orográfica condiciona o clima e a vegetação
Em regiões situadas antes da montanha, da serra, ou outro tipo de elevação, que se configure como barreira para a circulação de massas de ar, teremos áreas com climas úmidos e com índices pluviométricos regulares ao longo do ano. Consequentemente, a vegetação será mais densa e desenvolvida.
Em áreas situadas depois da barreira orográfica com elevada altitude, o clima será mais seco, caracterizado por baixos índices pluviométricos e altas temperaturas, apresentando longos períodos de estiagem. Desse modo, a vegetação característica dessa região será mais rasteira e menos densa. Nessas áreas situadas no lado oposto da montanha em que ocorrem as chuvas orográficas, é comum encontrar extensas áreas com baixos índices de precipitação e que são características de climas desérticos ou semiáridos, como por exemplo, em algumas áreas da China, que se encontra climas desérticos, por conta das chuvas orográficas que ocorrem nas áreas montanhosas no Sul da Ásia. O deserto de Gobi está imediatamente após a Cordilheira do Himalaia. O deserto existe e sofre com a aridez em função do efeito orográfico.
No Brasil, o exemplo mais significativo de chuva orográfica, ocorre na região nordeste, em decorrência da barreira orográfica do Planalto da Borborema que abrange os estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Esta região apresenta os picos mais altos da região, podendo chegar até a 1200 metros de altitude. Em virtude de sua elevação, o planalto constitui-se como uma barreira natural que impede ou dificulta a passagem das massas úmidas que se formam no Oceano Atlântico – e é responsável pela maior parte das chuvas das sub-regiões Zona da Mata e Agreste, ou seja, nas regiões que estão antes do planalto. A massa de ar ao adentrar o sertão nordestino, já se encontra seca e contribui para os baixos índices pluviométricos da área quando comparados ao restante da Região Nordeste. Esse fenômeno resulta em longos períodos de estiagem que podem durar de seis a oito meses, contribuindo para agravar os inúmeros problemas sociais de parte da população que ali reside.
A serra do mar que se estende do norte do litoral do Rio Grande do Sul até o norte do estado do Rio de Janeiro também é um ótimo exemplo para formação de chuvas orográficas.