MEIO AMBIENTE -  Como atrair corrupião

Mulher com um maço de trigo

No Brasil, o agronegócio é uma das atividades que mais movimenta a economia do país, gerando empregos e bilhões de reais anualmente. O sucesso e o crescimento do setor estão fortemente ligados à incorporação de tecnologias no campo, que têm revolucionado a forma como a agricultura vem sendo conduzida. Agora, que o mundo do agronegócio é um segmento dominado majoritariamente por homens, todo mundo sabe. Mas a boa notícia é que de uns tempos para cá, as coisas têm mudado. A mulher sempre fez parte do agro no seu anonimato. Hoje, a realidade é outra. Ganharam mais protagonismo por meio da capacitação e sensibilidade. As mulheres estão mais participativas no mercado de trabalho e no controle das operações. Se um dia as posições de chefia no agronegócio foram exclusivas dos homens, esse cenário tem mudado aos poucos.

Produtoras, mas também empreendedoras e líderes. A presença feminina no agronegócio demonstra que a resiliência e a inovação são suas marcas em propriedades rurais, até então dominadas por homens. O papel das mulheres no campo vem transcendendo a tradicional figura de filhas ou esposas dos proprietários rurais. Das mais jovens às idosas, a coragem de empreender faz a agricultura ganhar novos sentidos. Entre as iniciativas desenvolvidas, está produção especializada para adicionar valor agregado ou até a gestão de atividades não-agrícolas, como o turismo, dando mais autonomia e qualidade de vida às mulheres, ao mesmo tempo em que auxiliam na permanência no ambiente rural.

É a determinação de impulsionar a comunidade agro que promovem a inovação respeitando as tradições, transpassando a competição, abraçando uma filosofia de colaboração e apoio mútuo. O objetivo dessas mulheres não é apenas crescer individualmente, mas fomentar um ambiente onde todos possam prosperar, equilibrando a preservação dos valores ancestrais com a adoção de práticas inovadoras. Elas têm o poder da união e da determinação feminina em transformar o setor agro, não somente mantendo o legado de gerações passadas, mas também pavimentando o caminho para futuras gerações. Representam uma força emergente, prontas para enfrentar os desafios do agronegócio com sabedoria, coragem e uma visão progressista, assegurando que o campo seja um lugar de oportunidades iguais para todos.

Operadora de máquinas
Operadora de máquinas

Elas almejam um futuro em que a participação feminina seja uma força motriz no agronegócio, promovendo a educação e o conhecimento como pilares para o crescimento. Busca-se uma representatividade significativa em esferas políticas e eventos do setor, como congressos e palestras, além de uma ativa participação em associações e cooperativas. Seus valores refletem um compromisso com a família, o trabalho, o reconhecimento, a honestidade, a disciplina e, acima de tudo, o respeito.

Participação das mulheres no campo

Segundo dados do último Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, o número de propriedades agrícolas administradas por mulheres no Brasil mostram muito do trabalho feminino no campo: são 30 milhões de hectares, representando 8,5% das áreas ocupadas por propriedades no país. Mas elas ainda são minoria: 79% das fazendas são geridas por homens. Essa tendência é mundial. Dados da FAO indicam que menos de 15% dos proprietários agrícolas em todo o mundo são mulheres enquanto 85% são homens. As maiores desigualdades de gênero no acesso à terra são encontradas no norte da África e no Oriente Médio, onde apenas cerca de 5% de todos os proprietários de terras são mulheres.

Apesar de ainda ser a minoria na gestão das fazendas, os dados mostram que a expressão das mulheres vem crescendo significativamente. Os dados dos dois últimos Censos Agropecuários (de 2006 e 2017) mostram que houve um aumento de 44,16% no número de estabelecimentos administrados por mulheres – de 656.225 para 946.075, respectivamente, mesmo com uma redução de 5.175.636 para 5.056.525 no número de estabelecimentos agropecuários.

O censo destaca não apenas a presença crescente, mas também a diversificação das responsabilidades assumidas pelas mulheres no setor agrícola, consolidando sua importância e contribuição para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro. A cada dia está melhor para as mulheres que trabalham no campo, devido às tecnologias e também à compreensão dos homens, que passaram a enxergar a mulher como parceira, unindo forças. Outro diferencial é que a mulher hoje estuda e se capacita para exercer qualquer função na fazenda. Além de ocuparem posições de destaque na administração das fazendas, as mulheres agora desempenham funções que anteriormente eram consideradas tipicamente masculinas, como a operação de máquinas agrícolas.

Duas gerações. Mulheres sofrem com falta de financiamento para agricultura familiar no nordeste - Foto: Juliano Adriano/MST
Duas gerações. Mulheres sofrem com falta de financiamento para
agricultura familiar no nordeste – Foto: Juliano Adriano/MST

Dos mais de 900 mil estabelecimentos rurais chefiados por mulheres no país, 57% ficam na região nordeste. Estudo da Conab, de 2019, mostrou aumento da ação de mulheres na agricultura familiar – na Região Nordeste, elas representavam 84% das fornecedoras do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), indicando a tendência da presença das agricultoras nas cooperativas e associações que participam.

Apesar de os programas voltados para a agricultura familiar terem a preocupação de estimular a participação feminina, as produtoras rurais ainda se queixam que o acesso se torna mais complicado para as mulheres. Muitas mulheres se sentem desanimadas com a falta de incentivos federais, estaduais e municipais. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) em estudo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), quase 11 milhões de mulheres trabalharam no agronegócio brasileiro em 2023, nos segmentos:

  • 4,5 milhões de mulheres trabalham dentro da porteira (33% das pessoas que estão no setor);
  • 4,3 milhões estão empregadas em agrosserviços (43% do total);
  • 1,9 milhão de mulheres na agroindústria (41% do total);
  • 82 mil mulheres estão na parte de insumos.
Mulher pastoreando seu rebanho de ovinos
Mulher pastoreando seu rebanho de ovinos

Nos cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 31% das mulheres do setor atuam como gestoras das propriedades rurais no Brasil, 19% estão em cargos de direção em empresas do agronegócio brasileiro, sendo 73,1% atuando dentro da porteira, 13,9% nos elos da cadeia produtiva depois da porteira e 13% antes da porteira. As mulheres entrevistadas declararam que, 59,2% são proprietárias ou sócias; 30,5% são funcionárias ou colaboradoras; e 10,4% são gestoras, diretoras, gerentes, coordenadoras ou atuam em funções administrativas. A atuação feminina é mais forte na produção das lavouras permanentes, com 57% das mulheres; seguida pela produção da pecuária e criação de animais (24%), produção de lavouras temporárias (9%), horticultura e floricultura (8%) e produção florestal (1%).

As mulheres atuam em diversos segmentos do setor do agronegócio como pesquisadoras, aliando a ciência ao campo, pecuaristas, agricultoras, produtoras, engenheiras agrônomas, professoras universitárias, executivas, empreendedoras, trabalhadoras rurais entre outros, o que mostra que o feminino vem se destacando na agricultura. De acordo com pesquisa realizada pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG): 59,2% das mulheres que atuam na área são proprietárias ou sócias, 30,5% fazem parte da diretoria e atuam como gerentes, administradoras ou coordenadoras e 10,4% são funcionárias ou colaboradoras. Além disso, 57% participam ativamente de sindicatos e associações rurais.

Números que destacam a participação das mulheres no agronegócio brasileiro
Números que destacam a participação das mulheres no agronegócio brasileiro

Para elas, é muito importante o empenho na busca pelo lugar de liderança no agro, fazendo com que cada vez mais a mulher ocupe lugares e trabalhem lado a lado em cargos que antigamente eram ocupados apenas por homens. Um dos grandes desafios para elas são as múltiplas funções do dia a dia. A grande maioria delas precisa equilibrar várias frentes e atuar como proprietária, administradora, mãe e dona de casa e nesse ponto, 71% das mulheres ligadas ao agronegócio têm múltiplas tarefas e responsabilidades.

Capacitação profissional

O crescimento da mão de obra no agronegócio foi impulsionado por trabalhadores com e sem carteira assinada que possuem nível educacional elevado, bem como por mulheres, no segundo trimestre de 2024. Em relação à distribuição espacial das mulheres na direção dos estabelecimentos agropecuários no Brasil, a formação profissional das gestoras foi o fator mais importante para a expansão dos estabelecimentos agrícolas administrados por mulheres. A escolaridade foi o principal atributo a influenciar positivamente os rendimentos das mulheres que atuam no agronegócio. Esse aumento do nível de escolaridade das mulheres ocupadas no setor do agronegócio de 2004 a 2015 respondeu por cerca de 22% do aumento real observado nos rendimentos médios nesse mesmo período, que foi de 57%. É muito importante estarem sempre atualizada, afinal, o agronegócio é um setor vibrante, que vem mudando exponencialmente com a chegada das tecnologias digitais nos campos e nos escritórios.

Ao refletirem sobre as preocupações atuais das mulheres na produção rural, 95% delas prezam pelo bom desempenho dos negócios. Para 95%, melhorar a capacitação profissional está entre as principais prioridades no trabalho, enquanto 90% querem aumentar a capacidade produtiva de suas propriedades.

Capacitação técnica em máquinas agrícolas
Capacitação técnica em máquinas agrícolas
Preocupações atuais para as mulheres do agro - Fonte: Agroligadas, 2021
Preocupações atuais para as mulheres do agro – Fonte: Agroligadas, 2021

A importância do networking e formação de novos negócios não fica de lado para essas mulheres. Estabelecer redes de contato é fundamental para mulheres no agronegócio, facilitando a troca de experiências, o acesso a mentores e a criação de novas oportunidades de negócios. O empreendedorismo feminino no agro é impulsionado por essas conexões, facilitando o acesso a novos mercados e tecnologias. Eventos específicos para mulheres são fundamentais para encorajar a liderança feminina, colocando-as em posições estratégicas. Assim, elas continuam desbravando e revolucionando o setor, fortalecendo seus papéis como líderes e empreendedoras.

Observar esta mudança e a transformação cultural do setor ao longo dos anos é inspirador para elas e para todos. Elas são otimistas sobre o futuro, mas não ignoram os desafios vencidos e a serem enfrentados no setor. Muitas vezes nessa trajetória, participaram de reuniões em que eram a única mulher na sala. O que pode parecer ser uma situação desconfortável e intimidadora à primeira vista, essa situação oferece a oportunidade delas ocuparem o espaço e abrirem caminho para que outras também possam ter o seu lugar.

Todos devem ter espaço de fala e de desenvolvimento independentemente do gênero. Todos são diferentes, é fato, mas isto tem que ser visto como algo positivo, porque todos têm muito a agregar aos negócios. É importante que haja mais de um caminho para elas chegarem nas suas ambições profissionais. É por isso que ter oportunidades é tão importante. Não se trata somente de serem “todos iguais” mas sim, de terem ambientes cada vez mais inclusivos para que cada uma delas possa atuar sem receios e julgamentos.

Encontro de mulheres do agro - Foto: Sistema Faemg Senar
Encontro de mulheres do agro – Foto: Sistema Faemg Senar

Ao frequentar ambientes bastante masculinos, é importante dar o exemplo e ter uma postura que não faça distinção entre homens e mulheres. Esta postura passa também por uma comunicação feita com clareza, firmeza e objetividade. Somos exemplos de que, apesar dos desafios, é possível ocupar o nosso espaço.

O machismo no setor

O machismo afeta nove em cada 10 mulheres que trabalham no agro. Pesquisa da AgTech Garage, adquirida pela PWC (PricewaterhouseCoopers), mapeia situações constrangedoras sofridas por trabalhadoras. Dar nome às coisas para torná-las concretas, foi uma das estratégias da pesquisa #MulheresQueInovamOAgro para ampliar o mapeamento de casos de machismo sofrido por mulheres no agronegócio. Uma pequena mudança na abordagem fez o número de mulheres que dizem ter passado por situações constrangedoras saltar de 53%, na primeira edição da pesquisa, para 90% na segunda edição.

Muitas vezes a mulher só percebe que passou por uma situação quando se dá nome a essas práticas. É tão comum que não se considera como machismo. Aprofundou-se os questionamentos, apresentando definições de práticas machistas no ambiente de trabalho, como o manterrupting (ser interrompida a todo momento durante uma conversa) e 53,7% das entrevistadas já tinham sido interrompidas por homens em uma conversa e pouco mais da metade das entrevistadas disseram que já foram impactadas pela falta de representatividade em eventos ou reuniões no ambiente de trabalho.

Dentre os principais apontamentos, 47,5% sofreram mansplaining, que consiste em um homem explicando algo óbvio a uma mulher, e 45,3% dizem não ser chamadas para contribuir em assuntos que dominam. Muitas delas expuseram casos que escancaram quão complexo é o problema: mulheres capacitadas que são deixadas de lado nos planos de sucessão e outras não são consideradas para trabalhos no campo porque seus chefes temem casos de assédio ou de ciúmes por parte das esposas dos agricultores.

Reunião com equipe técnica de uma empresa agropecuária
Reunião com equipe técnica de uma empresa agropecuária

Para as entrevistadas, a mudança desse cenário dependerá muito delas mesmas: quase 84% falam em uma mudança no comportamento feminino e 54% apostam na união entre mulheres como vetores de mudanças. Daí talvez se explique outro dado importante da pesquisa: 8 em cada 10 mulheres se sentem acolhidas no ambiente de trabalho. Para 52% delas, o suporte vem de coletivos e grupos de mulheres. Apesar de passarem por situações desrespeitosas, elas veem mulheres acolhendo outras mulheres.

Segundo a pesquisa, as mulheres ainda se sentem sozinhas, visto que apenas 13% acredita que o cenário vai ser diferente devido à uma mudança no comportamento dos homens. Para mudar esse quadro, é importante fortalecer esse entendimento, trazendo os homens para a discussão, fazendo-se a pergunta contrária para eles, isto é, se eles já interromperam uma mulher. O movimento He For She, idealizado pela ONU Mulheres, acredita que para que haja uma real transformação de comportamento quando se trata de equidade de gênero, é fundamental a participação de todas e todos, incluindo homens e meninos.

Nessa pesquisa, quase 50% das mulheres consultadas trabalham em grandes empresas, enquanto apenas 11% estão em propriedades rurais. Acredita-se que essa diferença na participação deve-se, pelo menos em parte, ao fato de que mulheres subestimam o próprio trabalho e não se enxergam como inovadoras naquilo que fazem. É importante se trabalhar o empoderamento individual e coletivo dessas mulheres, como mulheres que inovam o agro, que capacitam e acolhem outras produtoras, fortalecendo esse movimento de representatividade e empoderamento também no campo.

Técnica numa inspeção de campo rotineira na lavoura
Técnica numa inspeção de campo rotineira na lavoura

Independentemente do seu grau de instrução, tamanho da corporação, do elo da cadeia ou da posição hierárquica, as mulheres que decidiram fazer carreira no agronegócio estão sujeitas a desafios. Na pesquisa, 9 em cada 10 relataram já terem passado por situações de machismo ou constrangimento no ambiente de trabalho. Abaixo, exemplo das situações pelas quais já passaram no trabalho:

  • Interrupção masculina em uma conversa (Manterrupting): 53,7%
  • Pouca representação em eventos e reuniões: 50,4%
  • Explicação de algo óbvio por pessoas do sexo masculino (Mansplaining): 47,5%
  • Falta de serem chamadas para contribuir em assuntos que dominam: 45,3%
  • Apropriação de ideias (Bropriating): 37,7%
  • Dominação da conversa/sequestro de assunto por homens (Manologue): 37,7%
  • Repetição da explicação dada anteriormente (Hepeating): 36,7%
  • Elevação do tom da voz de um terceiro para provar seu ponto: 30,9%
  • Anulação em uma discussão: 26,5%
  • Violência psicológica com distorção da realidade (Gaslighting): 23,2%
  • Julgamento pela maneira como estava se vestindo: 18,3%
  • Xingamentos ou comunicação desrespeitosa: 11,3%
  • Outros: 2,6%

Apenas 12,6% responderam não ter sido impactadas por nenhuma dessas situações.

As mulheres que inovam o agro

As mulheres de 25 a 55 anos foram a maioria entre as respondentes, 85,7% da amostra. Assim como as profissionais casadas (54,4%), autodeclaradas brancas (76,3%), que se identificam como cisgêneras (termo utilizado para se referir ao indivíduo que se identifica, em todos os aspectos, com o seu “gênero de nascença”) (90,4%) e que não têm filhos (52,2%). Elas são altamente instruídas e 64,5% delas têm, no mínimo, pós-graduação.

Como área de formação, 35,6% vêm das Ciências Agrárias; 32,3% das Ciências Humanas; 19,1% das Ciências Exatas e 8,1% das Ciências Biológicas. Apenas 4,9% informaram não ter formação técnica. Além disso, 55,3% das respondentes afirmam ter iniciado suas carreiras no setor, enquanto 44,7% fizeram transições de carreira.

A força feminina cada vez mais forte no campo
A força feminina cada vez mais forte no campo

Em relação à cadeia do agronegócio, elas se fazem presentes em todas as etapas produtivas. Das áreas administrativas do setor (37%) à prestação de serviços (34%), desenvolvimento de tecnologias (22,9%), produção agrícola (19%), P&D (18,6%), pecuária (12,9%), produção de insumos (11,9%), comercialização e distribuição (9,8%), agroindústrias (9,7%), tradings (4,4%) até o mercado consumidor (6%). E trabalham a partir de empresas de diversos portes: grandes (500+ colaboradores) 41,8%; médias (100 a 499 colaboradores) 13%; micro ou pequena empresa (até 99 colaboradores) 11,6%; propriedade rural 11,7%; startup 8,2%; consultoria 5,3%; academia ou instituto de pesquisa 1,4%; ONGs e terceiro setor 1,4%.

Entre as respondentes, há uma predominância ainda de mulheres em cargos de liderança e gestão. Quase um quarto delas se identifica como proprietária ou co-fundadora de empresas (21,1%), gerente (18,9%) e especialista (16,8%). As coordenadoras (10,7%) e diretoras (6,6%) também têm representatividade na amostra. As estagiárias são 1,8% e as estudantes, 3,2%. As mulheres na operação somam 12,1% e 8,8% se identificam na categoria outros (supervisora etc).

Cenário das mulheres que inovam o agro

Quando o assunto é a origem da transformação no cenário em que vivemos hoje, a esmagadora maioria credita os avanços recentes à mudança no comportamento das mulheres, com maior independência (84,4%) e à maior união entre as mulheres (54,1%). Outros 40,7% são atribuídos a ações de inclusão em empresas privadas; 24,2% à transformação social desde as escolas; 24% a políticas públicas de equidade de gênero e 22,7% ao apoio financeiro ao empreendedorismo feminino. Somente 13,7% das entrevistadas acreditam que a transformação em curso também tenha relação com a mudança no comportamento masculino.

Engenheira agrônoma em trabalho de campo
Engenheira agrônoma em trabalho de campo

Na pesquisa, as mulheres relataram se apoiar em cursos de capacitação (56,5%); grupos de mulheres (52,2%); apoio psicológico (36,9%); mentoria de carreira (36,3%); comitês de diversidade (17,5%); políticas de inclusão (13,4%) e canais de denúncia (6,4%) para suportarem sua atuação frente os desafios do setor. Não à toa, as mulheres entendem que a habilidade mais demandada delas no mercado agro pelas empresas é a inteligência emocional. Na lista de habilidades esperadas das profissionais do agro, a inteligência emocional aparece em primeiro lugar (67,5%), seguida da capacidade de resolver problemas (66,9%) e de liderar pessoas (58,8%). Já no ranking das habilidades em que as mulheres do agro mais se reconhecem, a inteligência emocional aparece na sexta posição (43,9%).

Antes disso, elas se reconhecem primeiro: na capacidade de resolver problemas (79,1%), alta produtividade e eficiência (59,5%), liderança de pessoas (52,4%), habilidade de falar em público (46,2%) e capacidade analítica (45,7%) — todas com perfil mais técnico do que comportamental. Na visão das respondentes, o principal desafio para promover a inovação no agronegócio está na mudança cultural (69,8%) e na capacitação das pessoas (58,7%), estruturais para edificar o futuro do setor. Em relação aos movimentos que terão maior impacto a longo prazo para o agronegócio, as mulheres enxergam a tríade avanços tecnológicos (75,9%), mudanças climáticas (71,4%) e pessoas, com a mudança comportamental e geracional (55%), direcionando os passos que serão percorridos nos próximos anos.

Iniciativas para o fortalecimento das mulheres no agronegócio

A presença das mulheres no agronegócio têm ganhado visibilidade através de diversas iniciativas que promovem seu papel no setor. Investimentos em programas de desenvolvimento e microcrédito, bem como eventos e congressos especializados, são algumas das estratégias para reforçar essa tendência.

Essas iniciativas transformam e empoderam cada vez mais mulheres, fortalecendo não só seus negócios, mas também suas vidas e suas comunidades
Essas iniciativas transformam e empoderam cada vez mais mulheres,
fortalecendo não só seus negócios, mas também suas vidas e suas comunidades

Programas voltados para o desenvolvimento das mulheres no agronegócio são fundamentais. Estes programas oferecem capacitação, gerenciamento de negócios e técnicas agrícolas modernas. Organizações como a FAO promovem políticas públicas que incluem acesso facilitado ao microcrédito, essencial para a agricultura familiar.

– Projetos de microcrédito – possibilitam a criação e o crescimento de pequenos negócios, oferecendo suporte financeiro. Isso contribui significativamente para que essas mulheres obtenham autonomia financeira, melhorando suas condições de vida e promovendo o conhecimento entre as comunidades rurais.

– Congressos e eventos específicos – são plataformas importantes, pois permitem a troca de experiências e conhecimento sobre inovação e sustentabilidade no agronegócio. Eles são uma oportunidade para as mulheres que trabalham na área se conectarem e aprenderem com líderes do setor. Esses eventos também desempenham um papel importante na disseminação de políticas públicas que visam o suporte e empoderamento das mulheres no agronegócio, encorajando o desenvolvimento de redes de apoio e reforçando a presença feminina em todas as fases da cadeia produtiva agrícola.

Programas de microcrédito possibilitam a criação e o crescimento de pequenos negócios, oferecendo suporte financeiro
Programas de microcrédito possibilitam a criação e o crescimento
de pequenos negócios, oferecendo suporte financeiro

O futuro das mulheres da terra

As mulheres no agronegócio estão moldando o futuro com tecnologia e inovação. Cada vez mais, as mulheres no agronegócio estão envolvidas na incorporação de tecnologias avançadas para o setor. Elas utilizam drones, sensores e big data para otimizar a produção agrícola, aumentando assim a eficiência e a sustentabilidade do setor. A participação feminina em startups de agrotecnologia está crescendo, promovendo soluções inovadoras para desafios antigos.

Essas inovações não só melhoram a produtividade, mas também ajudam na gestão de recursos naturais. As mulheres do agro têm desempenhado um papel cada vez mais relevante na expansão do agronegócio no Brasil e no mundo. Trazendo novas perspectivas e soluções inovadoras para o setor, a presença feminina no campo não apenas promove a igualdade de gênero, mas também está diretamente ligada à eficiência, à produtividade e ao desenvolvimento sustentável da agricultura. Essas mulheres enfrentam desafios únicos, mas continuam a superar barreiras tradicionais e culturais, contribuindo para um setor mais diversificado e resiliente, influenciando positivamente as comunidades rurais e promovendo a justiça social.

Muitas estão envolvidas em discussões políticas e econômicas, defendendo causas como equidade e inclusão no setor, incentivando práticas agrícolas que cuidam do meio ambiente ao mesmo tempo que impulsionam o desenvolvimento econômico local e contribuindo para o aumento da competitividade nacional. Essa atuação também se reflete na liderança de mulheres em áreas como agroindústria e pesquisa agrícola. Elas estão formando redes de cooperação que promovem o compartilhamento de conhecimento, fortalecendo o setor e preparando-o para enfrentar desafios como as mudanças climáticas e a crescente demanda por alimentos.

Curso de operação de drones reúne mulheres na Unesp
Curso de operação de drones reúne mulheres na Unesp

Estudar, compartilhar conhecimento e incentivar quem está ao redor a fazer o mesmo é essencial porque homens e mulheres devem estar atualizados neste mercado tão dinâmico. Elas estão convencidas de que têm que se manter relevantes. Não importa a posição, elas sabem que cada uma é inspiração para as outras. Ser mulher e trabalhar com agronegócio é abraçar uma jornada repleta de determinação, resiliência e paixão, desbravando fronteiras e promovendo uma transformação cultural do setor. Elas têm a plena consciência que tê o papel de apoiar, ajudar e ser exemplo para que mais e mais mulheres tenham oportunidades e cheguem nas posições que almejam.

Elas se veem contribuindo como agentes de mudança para as agendas que versam sobretudo a respeito da sustentabilidade e agricultura regenerativa, educação no agronegócio e gestão da mudança e cultura, tecnologia no campo, governança e gestão corporativa, diversidade, pessoas e saúde mental. Mais do que nunca, as características que, por muito tempo, foram entendidas como sinais de fraqueza e incapacidade de uma gestão firme por parte das mulheres, hoje são vistas como forças que nos permitem olhar com sensibilidade e integridade para os desafios da humanidade.

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