Nova unidade de proteção integral contará com espécies ameaçadas, além de impulsionar o turismo ecológico e as pesquisas científicas
Foi oficializada a criação do Parque Estadual Ambiental das Árvores Gigantes da Amazônia, conforme o Decreto nº 4.219, de 28 de setembro de 2024 publicado no Diário Oficial do Estado (DOE). A nova Unidade de Conservação (UC), localizada em Almeirim, no oeste do Pará, tem como objetivo preservar ecossistemas de alta relevância ecológica, populações de flora e fauna ameaçadas de extinção, com destaque para as árvores gigantes, além de espécies raras e endêmicas que habitam a região, promover pesquisas científicas, educação ambiental e incentivar o turismo ecológico.
Com uma área de 560 mil hectares, o parque será gerenciado pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio). Esta é a 29ª UC sob a gestão do órgão, que busca equilibrar a proteção da biodiversidade com o uso sustentável dos recursos naturais. A criação da nova área protegida deriva de uma porção da Floresta Estadual (Flota) do Paru, que teve sua área reduzida de 3.612.914 hectares para 3.052.914 hectares com o decreto.
O principal destaque da nova unidade é a presença de árvores gigantes, incluindo um exemplar de angelim-vermelho (Dinizia excelsa) com 88,5 metros de altura, considerada a maior árvore do Brasil e da América Latina, e uma das dez maiores do mundo. Para o instituto, o parque é um marco na preservação da biodiversidade amazônica, garantindo que espécies únicas e de grande relevância ecológica continuem existindo para as futuras gerações, passo fundamental para o fortalecimento da proteção ambiental no Pará, associando a conservação à geração de conhecimento científico. A criação da unidade oferece oportunidades para estudos aprofundados sobre as espécies que habitam a região e para a implementação de projetos de turismo ecológico que respeitem o meio ambiente e gerem renda para as comunidades locais.
Os pesquisadores estimam que a gigante tenha aproximadamente 400 anos de vida. Com cálculos matemáticos baseados na dendrocronologia — uma das técnicas de datação que se baseia nos anéis de crescimento das árvores — os cientistas pretendem comprovar o palpite. A altura do angelim pode ser comparada a um prédio de 30 andares.
A busca às gigantes começou depois de o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) fazer mais de 800 sobrevoos na amazônia, que resultaram na descoberta de sete árvores maiores de 60 metros. Em 2016, pesquisadores de universidades do Brasil, da Finlândia e do Reino Unido também já haviam analisado por satélite 594 coleções de árvores espalhadas por toda a amazônia brasileira.
Em outubro de 2020, outra expedição levou estudiosos a quatro novas gigantes, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru, após uma pausa de sete meses no mapeamento devido à pandemia da Covid-19. A aventura possibilitou encontrar a mais alta castanheira (Bertholletia excelsa) já registrada na Amazônia, com 66,66 metros. Em 2021, a equipe chegou à segunda maior árvore da espécie angelim-vermelho com 85,44 metros de altura e idade estimada em cerca de meio milênio.
As pesquisas ao longo das cinco expedições mostram que a região do Rio Jari é uma área diferenciada na floresta amazônica, motivo de ter sido o único local em que as árvores gigantes foram identificadas. O local favorece o crescimento da espécie devido à baixa incidência de ventos e insolação direta, somada à quantidade regular de chuvas e solos profundos e bem estruturados. Além disso, por estar em uma unidade de conservação, o angelim-vermelho de quase 90 metros não corre tanto risco de sofrer com a ação ilegal de madeireiros. Porém, os pesquisadores apontam que são necessárias leis que garantam sua proteção integral, com o crescente desmatamento do bioma amazônico.
Atividades permitidas no parque
A zona de amortecimento do parque terá um papel importante na proteção da biodiversidade e na compatibilização das atividades das populações tradicionais que vivem no entorno. A coleta de produtos como castanha-do-pará (Bertholletia excelsa) e camu-camu (Myrciaria dubia), bem como a pesca esportiva nos ecossistemas aquáticos, será permitida, respeitando a legislação vigente e as regras estabelecidas pelo futuro plano de gestão da unidade.
As atividades desenvolvidas pelas comunidades tradicionais e povos indígenas que habitam a região, como o acesso ao rio Jari, não sofrerão restrições, de acordo com o decreto. As ações e o modo de vida dessas populações serão respeitados, desde que em harmonia com os objetivos de preservação.
O conselho consultivo do parque, que será criado e gerido pelo Ideflor-Bio, terá como uma de suas funções a regulação das atividades já consolidadas na área, como a coleta de castanhas-do-pará (Bertholletia excelsa), assegurando que essas práticas sejam mantidas de forma sustentável. O comitê também terá a missão de acompanhar o desenvolvimento das atividades de conservação e uso sustentável dos recursos naturais.
Proteção de áreas
A criação do parque também contribuirá para a proteção de áreas contíguas, tanto estaduais quanto federais, fortalecendo a rede de áreas protegidas na região. Com a preservação de uma rica biodiversidade, o novo parque se tornará um importante ponto de referência para a conservação na amazônia.
Em maio deste ano, uma equipe multidisciplinar de pesquisadores e técnicos do Ideflor-Bio, da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e do Instituto Federal do Amapá (Ifap) percorreu rios e trilhas da então Flota do Paru, para aprofundar análises físicas e biológicas na região, o que levou à descoberta de um novo santuário de árvores gigantes. Esse levantamento forneceu subsídios para transformar parte da antiga unidade de conservação de uso sustentável na nova área de proteção integral.
Faça o download de material da Embrapa Amazônia Oriental sobre as características do angelim vermelho (Dinizia excelsa) CLICANDO AQUI.