Grupo de pesquisa no Institut Pasteur quer monitorar patógenos para investigar risco de doenças infecciosas emergentes
Um novo grupo de pesquisa está sendo formado no Institut Pasteur de São Paulo (IPSP) para investigar os grupos virais presentes nos morcegos que habitam diferentes porções de Mata Atlântica no estado de São Paulo, em ambientes urbanos e rurais. Os pesquisadores pretendem fazer uma vigilância ativa nesses mamíferos voadores, para conhecer a diversidade dos vírus existentes e sua evolução, além de identificar e monitorar patógenos capazes de infectar humanos.
Com duração prevista de quatro anos, o projeto conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Institut Pasteur de Paris, graças a um acordo feito com a Universidade de São Paulo (USP). É um estudo investigativo, de vigilância, que também possibilitará um maior entendimento da ecoepidemiologia de um determinado grupo viral, de como ele evolui, qual a sua diversidade no bioma brasileiro e qual seria o potencial zoonótico e de emergência desse agente.
Diversos estudos indicam que o Brasil está entre as regiões do globo com o maior potencial de surgimento de uma doença emergente, não apenas pela densidade populacional, mas pela diversidade de animais e pelas pressões antropogênicas, como desmatamento e queimadas. Considerada um dos pontos principais da biodiversidade brasileira, a Mata Atlântica abriga 117 espécies de morcegos – tidos como um importante reservatório de agentes possivelmente patogênicos – e tem os principais centros urbanos do país inseridos nela, como São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, há uma agricultura e uma pecuária intensiva nas proximidades.
Os técnicos planejam coletar morcegos em diferentes áreas florestais do município de São Paulo, além de áreas mais afastadas das cidades, próximas a fazendas e áreas de cultivo de cana-de-açúcar. Também contará com colaborações dos centros de controle de zoonoses da cidade de São Paulo, que recebe morcegos de diferentes municípios para o diagnóstico da raiva.
Após isolar o DNA e o RNA do material, o grupo fará buscas específicas de vírus por técnicas de biologia molecular usando testes de PCR, por exemplo. Uma vez feito o sequenciamento genético do fragmento, serão conduzidas análises filogenéticas preliminares, a fim de ver se a sequência viral se parece com algo já descrito na literatura. Com isso, os pesquisadores terão ideia se o material possui sequências virais, qual o grupo e, mais especificamente, se os vírus encontrados têm alguma relação genética com vírus emergentes já reconhecidos.
Quando os cientistas considerarem a pré-análise relevante, farão o sequenciamento completo do genoma viral da amostra por uma tecnologia conhecida como NGS (sigla em inglês para sequenciamento de nova geração), que é automatizada e de alto rendimento. Assim, conseguirão fazer uma análise evolutiva, considerando os diferentes genes e os dados já disponíveis no banco mundial de dados genéticos, se é um vírus novo ou não é. Posteriormente, tentarão isolar o vírus usando diferentes linhagens celulares convencionais.
Caso as linhagens celulares já conhecidas não forem suficientes para o isolamento em laboratório, o grupo pretende criar linhagens celulares específicas para isso. Com o vírus isolado, poderão trabalhar para identificar o receptor celular usado por ele e traçar uma primeira análise para ver se tem potencial de infectar outras espécies de animais, incluindo o homem, avaliando assim seu potencial zoonótico. Pesquisas anteriores sugerem que esses animais são um reservatório subestimado de arenavírus, que podem causar uma grave síndrome febril hemorrágica em humanos.