Com um bom planejamento e suporte técnico adequado, a piscicultura é uma das atividades mais rentáveis de produção animal para a mesa
A piscicultura é uma boa oportunidade. Novas tecnologias, novas regulamentações e novos incentivos fazem da atividade um negócio com grandes probabilidades de sucesso.
No entanto, como em qualquer outra criação animal, precisa ser muito bem planejado e operado com técnica e competência em toda a cadeia produtiva (desde a implantação até o pós-venda). Segundo alguns produtores, com um bom planejamento e suporte técnico adequado, a piscicultura é uma das atividades mais rentáveis de produção animal para a mesa.
Confira uma lista de peixes de água doce com bom desempenho para criação em cativeiro.
Matrinxã (Brycon amazonicus) – Peixe de escamas, coloração prateada e corpo alongado, capaz de atingir 80 centímetros de comprimento e 5 Kg de peso. Encontrado tradicionalmente nas bacias Amazônica e Araguaia-Tocantins, o peixe se adapta bem ao ambiente dos criatórios.
No rio, tem preferência pelo consumo de frutos, sementes, insetos e peixes pequenos. Em cativeiro, pode ser alimentado com ração peletizada para peixes carnívoros. O uso de hormônios para a reprodução induzida do matrinxã é uma prática complexa, que necessita de tecnologia específica e, portanto, reservada para quem já é profissional.
Piauçu (Leporinus macrocephalus) – O piauçu forma o grupo de peixes com boca pequena composta de dentes incisivos que possuem características adequadas para criação em cativeiro. Tem crescimento rápido, boa adaptação para viver em espaços pequenos, como tanques escavados, e não demanda muito investimento.
De origem da bacia do Rio Paraguai, abrangendo toda a área do Pantanal e o Baixo Rio Paraná, o piauçu enfrenta, na natureza, corredeiras de águas para a realização da desova, que vai de setembro a janeiro. Por isso, durante o período de reprodução em cativeiro, onde não há correntezas, o peixe precisa receber estímulos por meio da aplicação de hormônios. O procedimento, que tem registros bem-sucedidos, deve ser feito com o auxílio de um produtor experiente ou profissional da área com conhecimentos no assunto.
Piapara (Leporinus elongatus) – Outro peixe de baixo custo adaptado às técnicas de criação é a piapara que, conta com várias vantagens tanto produtivas quanto comerciais. Peixe que come de tudo, desde vegetais, algas, larvas, insetos até crustáceos, podendo até viver apenas com uma dieta herbívora, tem rápido ganho de peso e boa conversão alimentar com o consumo de ração peletizada.
Apesar de necessitar de aplicação de hormônios, assim como o piauçu, a reprodução em cativeiro apresenta bom resultado. Como a piapara, é onívora não tendo muitas restrições alimentares. É recomendado comprar ração comercial para peixes onívoros em lojas agropecuárias. Estudos científicos revelaram que 25% da proteína da ração devem ser de origem animal, para melhor desempenho da criação em cativeiro.
Dourado (Salminus brasiliensis) – Com rápido crescimento e ganho de peso, o dourado também responde positivamente ao manejo em cativeiro e alcança bons preços de venda no varejo para consumo. A carne é de ótima qualidade e agradável ao paladar do brasileiro.
Entre as espécies do gênero Salminus, a S. brasiliensis é a mais indicada para criação. Apesar de responder bem à alimentação com ração artificial, o dourado é um peixe carnívoro exigente em alimentos ricos em proteína. Criá-lo em consórcio com outras espécies é uma alternativa para baratear os custos da atividade.
Piau (Leporinus obtusidens) – O piau é uma espécie de crescimento rápido, sobretudo nos primeiros 12 a 18 meses de vida. Pode ser criada para várias finalidades, como a produção de carne, a pesca esportiva e a ornamentação. Dotados de carne suave e saborosa, e por resistirem com força ao serem fisgados no anzol, têm no manejo em cativeiro a possibilidade de atender o varejo alimentício e o comércio de pesque e pague.
No caso da reprodução fora de seu ambiente natural, a liberação dos óvulos e espermatozoides exige a realização de uma indução hormonal, pois os piaus precisam fazer piracema para que os órgãos reprodutores amadureçam totalmente antes da desova. A aplicação de hormônio nos machos é feita logo após a segunda dose dada às fêmeas. Uma sugestão é solicitar auxílio de um profissional ou criador mais experiente até obter prática no procedimento.
Pirarucu (Arapaima gigas) – Além do piauçu e da piapara, o pirarucu é uma boa opção de peixe para ser criado em cativeiro. Um dos maiores peixes de água doce, o pirarucu pode ultrapassar 2 m de comprimento e pesar mais de 200 Kg. Gosta de viver em água calma e em rios de correnteza fraca.
Pelas vantagens comerciais, o pirarucu tornou-se, no entanto, presa cobiçada pela pesca predatória, sendo a criação em cativeiro uma alternativa para manter os estoques da espécie. Quanto à alimentação, há duas opções de dieta para o pirarucu de cativeiro. Se a escolha for pela alimentação natural, com o consumo de lambaris, tilápias e espécies forrageiras, os juvenis devem ser separados dos pais quando atingem 40 g.
Robalo (Centropomus undecimalis) – Pesquisas realizadas ao longo dos últimos anos abriram a possibilidade de criação de robalo em cativeiro. As técnicas de reprodução, larvicultura e engorda estão hoje dominadas e permitem incluir a espécie entre as opções da piscicultura comercial.
A criação pode ser manejada em tanques escavados, açudes e represas. Em criações cujo objetivo é a engorda de alevinos a dica é deixar a fase de reprodução aos cuidados de especialistas. O processo é complicado e exige experiência e habilidade para lidar com a indução de hormônios nas matrizes.
Black bass (Micropterus salmoides) – Peixe exótico e muito apreciado na prática da pesca esportiva, o black bass pode ser produzido em cativeiro com autorização do Ibama, de acordo com a Portaria n° 145/98. Voraz e agressivo, está entre os peixes mais apreciados da pesca esportiva em água doce. Por ser carnívoro, o black bass exige um período de adaptação para acostumar a comer rações industrializadas.
A ração deve ser palatável e úmida, além de ser fornecida com frequência e regularmente. Quanto à desova, os especialistas alertam que cada fêmea realiza, em média, três processos, que geram individualmente cerca de 4.000 larvas.
Tilápia (Sarotherodon niloticus) – A tilápia se adaptou tão bem às águas brasileiras que muita gente se esquece que ela é exótica. O peixe de água doce é originário do rio Nilo, mas teve seu cultivo iniciado no Quênia, na década de 1920. A partir dos anos 50, ganhou força na criação comercial, ficando atrás só da carpa como espécie de peixe mais explorada em todo o mundo.
No Brasil, a criação do peixe em lagoas, açudes e represas tem se destacado na piscicultura. Fáceis de alimentar, resistentes a doenças e boas reprodutoras, as tilápias logo se tornam negócio rentável. Toleram bem grandes variações de temperatura e água com pouco oxigênio dissolvido.
Criadas sozinhas no tanque, podem alcançar produtividade de 5 t por hectare ao ano. Com incremento de investimentos em tecnologia, pode-se chegar a 50 t por hectare.
Além da carne, a pele é também um produto de valor comercial. Aliás, bastante valorizado, sobretudo no exterior. Outros subprodutos, como carcaça, vísceras, rabo e escamas, podem servir como adubo para plantações ou entrar na composição de rações para diferentes tipos de peixes e animais.
O comprimento médio da tilápia é de cerca de 20 centímetros, mas pode chegar a 40 centímetros ao longo dos anos. É um peixe de escamas, com corpo um pouco alongado. No Brasil existem três espécies de tilápia: a do nilo ou nilótica, que pode pesar até cinco quilos; rendali, com um quilo; e zanzibar, variedade desenvolvida em Israel.
A nilótica é a mais indicada para a criação em pesqueiros. Onívoros, elas comem de tudo. Gostam de alimentos naturais presentes no meio aquático, mas aceitam ração, o que acelera o crescimento. A partir dos quatro meses de idade há fêmeas prontas para a reprodução.
A desova ocorre mais de quatro vezes no ano, mas quando criadas em regiões mais quentes, elas desovam durante todo o ano. Os ovos seguem protegidos na boca das tilápias até a eclosão, quando nascem de 800 a mil peixes. O começo da criação pode ser facilitado com a compra de machos revertidos. A técnica foi desenvolvida para aproveitar a velocidade de crescimento do exemplares masculinos, duas vezes maior que o das fêmeas. Feita em laboratórios na fase de ova, a reversão sexual mistura hormônio masculino com a ração para os alevinos.
Recomendações gerais:
- Utilizar um tanque com água limpa para facilitar a visualização e coleta das larvas, que são protegidas pelos machos.
- As larvas podem ser removidas para um viveiro adubado com zooplâncton, com dois centímetros de comprimento. Se alimentando do zooplâncton, as larvas devem chegar a 3,5 cm, antes de 20 dias.
Em seguida, inicia-se o período de condicionamento alimentar.