O espaço virtual disponibiliza serviços inéditos aos criadores de abelhas reunindo informações técnico-científicas, econômicas e de mercado
A Embrapa apresentou recentemente a plataforma Infobee, um espaço virtual que disponibiliza serviços inéditos aos criadores de abelhas de todo o Brasil. A iniciativa, fruto da parceria público-privada entre a Embrapa Amazônia Oriental (PA) e a empresa Equilibrium Web, reúne informações técnico-científicas, econômicas e de mercado sobre a apicultura e a meliponicultura. O novo espaço digital pode ser acessado por computador e equipamentos móveis, como smartphones e tablets.
A Infobee traz os resultados da pesquisa agropecuária nas áreas de apicultura e meliponicultura (atividade de criação de abelhas nativas sem ferrão), na forma de publicações, cursos, vídeos, animações e aplicações web. O propósito da solução é auxiliar o processo de tomada de decisão dos criadores de abelhas a partir do acesso a informações relevantes que possam promover a melhoria na gestão ou a superação de gargalos tecnológicos na atividade.
Entre os destaques da nova plataforma estão: o Calendário Apícola Digital, que disponibiliza informações sobre o local de ocorrência e a época de floração das plantas mais visitadas pelas abelhas na região amazônica; o meliponário virtual, uma maquete em três dimensões da estrutura do ninho, das caixas de criação e da morfologia da abelha; e o serviço denominado “zapbee”, respostas com o uso de inteligência artificial para atender aos criadores a qualquer hora e lugar.
A ferramenta também disponibiliza painéis interativos sobre produção e exportação de mel e derivados no Brasil, funcionalidade que permite conhecer a produção de mel por mesorregião do Brasil nos últimos dez anos, bem como acessar dados sobre a exportação do produto por ano nos estados brasileiros.
O mercado de mel e derivados no Brasil é um setor em crescimento, tanto na produção quanto na exportação. Segundo a Pesquisa Pecuária Municipal do IBGE, o país alcançou em 2022 um recorde de produção, com quase 70 mil toneladas de mel, obtendo aumento de 9% em relação a 2021.
A plataforma é dinâmica e aberta a incorporar novas funcionalidades e informações, pois foi desenvolvida a partir de um gerenciador de conteúdo intuitivo, maleável e de fácil utilização, permitindo que novos conteúdos podem ser criados e disponibilizados a partir da indicação e sugestão dos próprios usuários. Isso significa que a Infobee vai crescendo de acordo com as necessidades da comunidade.
O trabalho de escuta dos usuários é permanente, segundo os desenvolvedores. O próprio desenvolvimento da plataforma é fruto de um trabalho de escuta realizado junto aos atores da cadeia produtiva do mel no estado do Pará, em 2019, que motivou o desenvolvimento do projeto.
Inteligência artificial na palma da mão
Uma das inovações da plataforma Infobee é o serviço chamado “zapbee”, que responde às dúvidas de criadores de abelhas e interessados no tema a qualquer hora e em qualquer lugar. O serviço está disponível na modalidade web e usa a tecnologia de inteligência artificial (IA) para interagir com os usuários.
O processo de ensinar a IA sobre a criação de abelhas envolveu a conversão em dados de resultados da pesquisa agropecuária sobre o tema já publicados em texto, áudio e vídeo. A ferramenta transforma esses dados inseridos em conhecimento para que possa responder às perguntas dos usuários. A primeira etapa do “zapbee” já foi feita e está disponível na versão web. A segunda etapa levará o serviço ao aplicativo de mensagem nos dispositivos móveis.
O Calendário Apícola Digital é um dos serviços desenvolvidos a partir da demanda dos criadores de abelhas no estado do Pará. O serviço traz a identificação correta das plantas mais relevantes para as abelhas, sejam elas do gênero Apis ou Melipona, a região de ocorrência e a época de floração, inicialmente para a região nordeste paraense. Com esse produto os criadores conseguem visualizar claramente o período de floração de cada planta, a importância dessas plantas para a apicultura e a meliponicultura, e conseguem planejar o manejo das colônias para a produção de mel.
O calendário foi construído em oficinas realizadas pela Embrapa e pelo Senar em 11 municípios paraenses, nas regiões do Baixo Amazonas, nordeste e sudeste paraense, quando pesquisadores, técnicos e criadores de abelhas trocaram informações e conhecimentos sobre a flora local e a importância dela na alimentação das abelhas. Esse processo gerou um produto que levou à identificação de cerca de 400 plantas, possibilitando acessar o nome popular, de acordo com a localidade, o nome científico e o período de floração de cada planta na região.
Ferramenta em 3D reproduz um meliponário
O meliponário virtual é uma ferramenta de apoio à criação das abelhas sociais nativas, as abelhas-sem-ferrão. Com informações em texto, áudio e imagens em três dimensões, ele traz todos os elementos presentes em um meliponário físico: as caixas de criação, as estruturas do ninho e a morfologia da abelha. A ferramenta mostra ainda a importância e o trabalho da abelha canudo (Scaptotrigona postica) na polinização do açaizeiro.
Acesse o meliponáiro virtual CLICANDO AQUI.
A meliponicultura como ferramenta de Inclusão social e conservação ambiental
A meliponicultura é uma atividade exercida em diferentes regiões do Brasil. O País tem 244 espécies de abelhas sociais nativas conhecidas pela ciência. Dessas, 215 estão na Amazônia Legal. A criação dessas abelhas é desenvolvida em complemento à renda e conciliada com outras atividades agrícolas, especialmente na agricultura familiar. É uma atividade inclusiva, geradora de renda e que contribui muito para a conservação ambiental.
A atividade de criação das abelhas exóticas africanizadas (Apis melífera) tem sido a que gera renda de forma mais rápida, em volume de mel. A partir dessa experiência, o produtor passa a conhecer mais sobre as abelhas e, muitas vezes, se torna meliponicultor. Nos últimos anos, a atividade vem crescendo nos estados do Amazonas, Rondônia e Pará, em função da existência de abelhas nativas especialistas na polinização do guaraná, do cafeeiro, e do açaizeiro.
As espécies de abelhas-sem-ferrão (meliponicultura) são de ocorrência ecorregional, mesmo considerando um bioma único, como no amazônico. Por exemplo, no Pará, a jupará (Melipona interrupta) é encontrada com dominância no oeste do estado, a uruçu (M. seminigra), na região sudeste paraense, e as uruçus amarela (M. flavolineata) e cinzenta (M. fasciculata), no nordeste do estado.
Desafios da atividade
Apesar do enorme potencial, a meliponicultura ainda é limitada devido a diversos fatores, como volume, homogeneidade e qualidade da produção, além da falta de organização do segmento produtivo. Já a apicultura consegue potencializar a organização dos produtores em associações, seja pelo uso dos equipamentos, pela mão de obra compartilhada e pelo volume de produção, que é maior em relação à produção da meliponicultura.
Considerando que as atividades de criação racional de abelhas sociais são tipicamente exercidas por agricultores familiares, cada uma delas possui especificidades próprias, sejam relativas aos seus produtos ou ao comportamento das espécies de abelhas com relação ao ambiente.
Para os meliponicultores da região, um dos maiores entraves à atividade é em relação à legislação. Para vender a produção, os meliponários precisam estar registrados juntos aos órgãos responsáveis e a produção deve atender às boas práticas. Esse tipo de informação precisa chegar na ponta para transformar a realidade.
Nos últimos anos, os estados do Amazonas e Pará implementaram legislações para potencializar a criação das abelhas nativas (Resolução Cemaam nº 34, de 27/12/2021) e a comercialização de produtos (Portaria n° 7.554/2021). Essas legislações vêm fomentando a organização da cadeia produtiva em seus estados, porém a atividade ainda carece de subsídios. Pesquisadores vêem o pagamento por serviços ecossistêmicos como uma ferramenta importante para subsidiar os produtores e fortalecer a atividade na Amazônia.