Descrito pela ciência há apenas 30 anos, o kaapori ainda é um mistério, justamente por seu comportamento arisco
Estudo revelou a identificação de um exemplar de primata da espécie Cebus kaapori, conhecido como caiarara ou macaco prego kaapori, listado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) como um dos cinco primatas mais ameaçados de extinção em todo o mundo, em uma das fazenda produtora de óleo de palma, parceira da Agropalma.
Trata-se de uma espécie exclusiva da Amazônia brasileira, historicamente reconhecida por sua raridade na região. No entanto, houve um declínio significativo em sua população devido à derrubada de florestas e outras atividades que impactam seu habitat.
Descrito pela ciência há apenas 30 anos, o kaapori (Cebus kaapori) ainda é um mistério. Justamente por seu comportamento arisco, é difícil estudá-lo na natureza. A maioria das informações sobre a espécie são “suposições” baseadas no comportamento do gênero. Com cinco espécies conhecidas no Brasil, todas nativas da Amazônia, o próprio gênero, entretanto, ainda foi pouco estudado.
Não há diferenças visuais claras para distinguir machos e fêmeas. Com uma face esbranquiçada que lhe rendeu o apelido “cara-branca” – um dos nomes pelos quais é conhecido entre os locais – adornada com um topete de pelos pretos que lembram um moicano, o kaapori tem uma aparência singular. As costas apresentam um tom mais castanho que ao descer para barriga e pros braços se mescla com os pelos brancos. Ao todo, da cabeça ao corpo são aproximadamente 45 cm. Como outros macacos arborícolas, a cauda é mais comprida que o resto do corpo, com cerca de 50 cm. O grito de alerta assemelha-se a um latido. Um som peculiar e inconfundível.
Nem mesmo o arisco kaapori consegue fugir de certas ameaças, como o desmatamento, a caça, as queimadas e a degradação ambiental. A espécie é avaliada pelo ICMBio como criticamente em perigo de extinção. O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB) e o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP), aponta que o kaapori foi a espécie de primata que mais perdeu habitat nas suas últimas três gerações. No período, equivalente a 35 anos (1972 a 2020), a redução foi de 32,94%. Além disso, estima-se que, em toda a história, o macaco amazônico já perdeu cerca de 80% do seu habitat original.
A destruição das florestas que o kaapori precisa para sobreviver se reflete diretamente na população da espécie. Segundo pesquisa, a estimativa é que apenas entre 1972 e 2020 a espécie tenha sofrido uma redução populacional de 85,28%. A projeção futura não é nada animadora. Além dos impactos antrópicos diretos, com o avanço do desmatamento e da degradação das florestas, o habitat também pode ser comprometido pelos impactos da crise climática.
O monitoramento que identificou a espécie na fazenda é realizado regularmente pela Agropalma em parceria com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e biólogos da Universidade Federal do Pará (UFPA) para avaliar a biodiversidade nas áreas de preservação sob sua responsabilidade.
Na última atualização do relatório, realizada entre julho e outubro de 2023, foram conduzidas expedições para identificação de peixes, aves e mamíferos. Oficialmente, foram catalogadas 1.029 espécies nas áreas observadas. O projeto inclui 18 trilhas florestais para monitoramento da biodiversidade, sendo oito em áreas da Agropalma e dez em áreas de produtores parceiros.
Os profissionais responsáveis pelo monitoramento seguem uma série de critérios para definir as rotas das trilhas, variando em tamanhos de 400 metros a 4 milhas, com a exigência de serem lineares e sem curvas. A vigilância dos mamíferos é realizada através de uma grade de câmeras, instalada em áreas de circulação de animais para capturar imagens.
Durante as expedições, foram recolhidas armadilhas fotográficas após dois meses de funcionamento ininterrupto, enquanto outras câmeras foram instaladas em novos 27 pontos, com revisão planejada para dezembro de 2023. Para a identificação de aves, os profissionais realizaram observações de 360 graus nas trilhas por meio de binóculos e equipamentos que reproduzem o canto de pássaros para atrair espécies, convertendo essas observações em dados válidos e adicionando-os ao relatório.
Os dados do relatório funcionam como bioindicadores, orientando e avaliando a adequação do monitoramento nas áreas de preservação para as espécies presentes.