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Primeiro registro de volta espontânea de antas na Costa Verde do RJ

Parque Estadual Cunhambebe, Angra dos Reis, RJ - Foto: Gustavo Pedro

Para o biólogo especialista em fauna Izar Aximoff, essa é uma das melhores notícias do ano em conservação da fauna. Mostra que o Rio está com uma qualidade de habitat para receber animais maiores, mais sensíveis. A boa notícia se materializa no estado do Rio de Janeiro com a volta do maior mamífero terrestre do Brasil, a anta (Tapirus terrestris). Uma família de antas foi flagrada no Parque Estadual do Cunhambebe, na Costa Verde, 110 anos depois da espécie ter sido extinta no estado. É o primeiro registro de volta espontânea desse animal ao estado.

Mas ainda existe muito mistério nesse revelação. Ninguém sabe de onde as antas vieram e se há outras além da pequena família. Comprovadamente, há uma mãe e seu filhote e a presença deles é um indicador de que também há um macho. Ainda assim, os pesquisadores celebram a volta da espécie à natureza destacando que é um sinal de que algumas das matas fluminenses têm saúde o suficiente para sustentar alguns dos mais magníficos animais do país.

A anta, também conhecida por tapir, é um mamífero que ocorre desde o sul da Venezuela até o norte da Argentina, em áreas abertas ou florestas próximas a cursos d’água, com abundância de palmeiras, sendo uma excelente nadadora. Conhecida por sua docilidade, é o maior mamífero terrestre do Brasil e o segundo da América do Sul, tendo até 300 Kg de peso e 242 cm de comprimento. Apresenta uma probóscide (apêndice alongado que se localiza na cabeça), como se fosse uma trombinha, na verdade, um focinho alongado, muito útil para um bicho que adora água e para coletar alimento. Os filhotes nascem com os pelos claros, cobertos por listras e pintas brancas, como as do Bambi. É um animal solitário e vive em territórios de 5 Km2 de área, em média.

Mapa de localização do Parque Estadual Cunhambebe
Mapa de localização do Parque Estadual Cunhambebe
Uma das antas da Reserva Ecológica de Guapiaçu (Regua), em Cachoeiras de Macacu: na região, animais foram reintroduzidos na natureza — Foto: Maron Galliez/Rede Refauna
Uma das antas da Reserva Ecológica de Guapiaçu (Regua), em
Cachoeiras de Macacu: na região, animais foram reintroduzidos
na natureza — Foto: Maron Galliez/Rede Refauna

O animal é um semeador de floresta e uma atração turística em potencial. A descoberta no Cunhambebe foi anunciada na COP-16, da Biodiversidade, realizada em outubro, em Cali, na Colômbia. O último registro da espécie era de 1914, na Serra dos Órgãos. Nas imagens captadas por armadilhas fotográficas do parque se vê uma fêmea seguida pelo filhote.

Segundo o coordenador do projeto da reintrodução de antas do Refauna e maior especialista na espécie do Rio, Maron Galliez, do Laboratório de Ecologia e Manejo de Animais Silvestres do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (Lemas-IFRJ), trata-se realmente de uma grande notícia para o estado e as antas merecem ser bem protegidas, ter sua sobrevivência assegurada, são patrimônio de todos, um orgulho para a sociedade. lembrando que o estado do Rio perdeu todos os outros grandes mamíferos terrestres, à exceção da onça-parda e do porco queixada, cuja última população vive na Reserva Biológica do Tinguá.

Desde 2017, a Rede para Reintrodução de Fauna e Restabelecimento de Interações Ecológicas (Rede Refauna) tem trabalhado na reintrodução de antas na Reserva Ecológica de Guapiaçu, em Cachoeiras de Macacu. Os animais têm trilhado uma história de sucesso. Lá já há uma saudável população da espécie, dando provas de resiliência. Na Regua já são 20 animais, sete deles filhotes nascidos lá. Reintroduzidas inicialmente sete, foram trazidas de outros estados, acompanhadas e depois soltas na reserva, num projeto pioneiro.

As antas durante a reintrodução na Reserva Ecológica de Guapiaçu
As antas durante a reintrodução na Reserva Ecológica de Guapiaçu
Uma das antas reintroduzidas na Reserva Ecológica de Guapiaçu com detalhe de uma das câmaras de monitoramento- Foto: Vitor Marigo
Uma das antas reintroduzidas na Reserva Ecológica de Guapiaçu com
detalhe de uma das câmaras de monitoramento- Foto: Vitor Marigo
Pico das Três Orelhas, no Parque Estadual Cunhambebe, Mangaratiba, RJ - Foto: Gustavo Pedro
Pico das Três Orelhas, no Parque Estadual Cunhambebe, Mangaratiba, RJ
Foto: Gustavo Pedro

Já as antas do Cunhambebe podem ter vindo originalmente do Parque Estadual da Serra do Mar, em São Paulo, onde existe uma razoável população da espécie. O parque paulista fica na divisa com o estado do Rio e, com 332 mil hectares, abriga a maior área contínua de Mata Atlântica preservada do Brasil. Outra possibilidade é o mais próximo, o Parque Nacional da Serra da Bocaina.

O Cunhambebe tem 38 mil hectares e se estende por territórios dos municípios de Angra dos Reis, Mangaratiba, Rio Claro e Itaguaí. Segundo os pesquisadores, análises genéticas podem elucidar de onde vieram as antas e quantos são os animais. Aximoff lembra, porém, que as antas outrora existiam em muitas áreas do estado. É só lembrar o nome da Reserva Biológica de Poço das Antas. Perda de habitat e a caça as exterminaram. A caça segue sendo uma inimiga feroz da natureza no estado. Para ele é preciso assegurar a proteção desses três indivíduos descobertos e, talvez, implementar um reforço populacional.

Fonte: O Globo

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