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Produção de lúpulo nacional ganha cada vez mais força

Punhado de lúpulo nas mãos

Recentemente, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo recebeu representantes do Grupo Petrópolis para debater um projeto inovador que almeja impulsionar o cultivo de lúpulo (Humulus lupulus) no estado. A iniciativa tem como principal objetivo diminuir a dependência do Brasil da importação dessa matéria-prima essencial para a fabricação de cerveja.

Apesar de liderar o maior número de cervejarias registradas no país, contando com 387 estabelecimentos, mais de 90% do lúpulo utilizado na produção de cerveja é importado dos Estados Unidos e da Alemanha, como apontam os dados do Anuário da Cerveja do Ministério da Agricultura e Pecuária.

O Brasil enfrenta desafios climáticos significativos para o cultivo do lúpulo, já que as condições ideais demandam baixas temperaturas, altitude e uma elevada incidência de luz solar. Com apenas 14 horas de luz por dia, o país não oferece as mesmas condições encontradas no hemisfério norte, onde o cultivo de lúpulo é mais vigoroso.

Plantação de lúpulo com suplementação luminosa – Foto: Stéfano Kretzer
Fazenda de lúpulo Ira Hops em Itapetininga, SP – Foto: Fernando Gonçales

Diante desse panorama, a Secretaria de Agricultura de São Paulo propõe a criação de um amplo ecossistema de pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologia para viabilizar o cultivo do lúpulo no estado. Este projeto ambiciona impulsionar a produção local desta planta, contribuindo assim para a conquista da autossuficiência na matéria-prima cervejeira e promovendo o fortalecimento da economia regional.

Santa Catarina também avança

Paralelamente ao projeto de São Paulo, a Epagri e a Ambev têm uma parceria para implantação de lavouras de lúpulo em Santa Catarina. Um dos resultados foi a colheita realizada em um hectare em propriedade rural de São Joaquim, entre o final de fevereiro e início de março. Essa é a segunda safra da lavoura e os resultados são animadores. Pôde-se observar uma grande diferença positiva na produtividade na área, que recebeu aporte adicional de iluminação artificial, com lâmpadas de led por três horas por dia, por cerca de 80 dias.

O produtor obteve até o momento cerca de R$ 30 mil, ou seja, 30% de retorno do investimento realizado, que foi em torno de R$ 100 mil. A lavoura foi implantada na localidade do Monte Alegre, que fica a aproximadamente 1,2 mil metros de altitude.

O Brasil é um dos maiores consumidores de cerveja do mundo, porém e como mencionado anteriormente, importa mais de 90% do lúpulo utilizado na produção da bebida. Foi pensando nisso que a Ambev procurou a Epagri em 2020 para o estabelecimento da parceria. Após a identificação de agricultores interessados em implantar a cultura, a fabricante de cervejas cedeu as mudas e contribuiu com assistência técnica nos manejos das safras.

Predominam no Planalto Sul catarinense as pequenas propriedades rurais, com características familiares. Elas desenvolvem diferentes atividades econômicas para composição da renda, como fruticultura, olericultura, pecuária, produção de queijo artesanal, turismo rural, apicultura, coleta de pinhão, entre outros. Essa diversificação de cultivos e busca de alternativas para composição da renda familiar foi uma das características que levou Epagri e Ambev a escolherem a região para os primeiros testes com cultivo de lúpulo.

Desafios

O lúpulo é uma planta trepadeira muito vigorosa, que exige solos bem drenados, corrigidos, adubados, em áreas planas, com irrigação, e iluminação artificial por meio da instalação de lâmpadas de led, para expressar seu maior potencial produtivo. Mas os desafios para cultivo de lúpulo no Planalto Sul não encerram aí. O controle de plantas daninhas, a concorrência de mão de obra com a maçã no momento da colheita e a inexistência de agroquímicos registrados para os controles fitossanitários da cultura são outros entraves a serem superados pelos potenciais produtores.

Lúpulo in natura e peletizado pronto para a indústria cervejeira

Somam-se a isso o elevado custo das mudas, a inexistência de uma cadeia para o beneficiamento da produção, além da necessidade de dados dos teores de alfa e beta ácidos e resinas contidos na lupulina, que conferem o aroma e amargor à cerveja. Desta forma, a Epagri ainda não recomenda o cultivo para o município de São Joaquim e prefere aguardar mais algumas safras para estudar a viabilidade financeira da produção de lúpulo.

Para tentar contornar as adversidades, a Epagri vem desenvolvendo estudos na sua Estação Experimental de São Joaquim, de modo a fornecer bases técnicas para os manejos das safras. Conta ainda com apoio de técnicos especialistas argentinos e alemães, bem como com pesquisas realizadas pelo campus da Udesc em Lages.

Faça o download da publicação “A cultura do lúpulo” da Esalq CLICANDO AQUI.

Faça o download do livro “Lúpulo no Brasil: perspectivas e realidades” do MAPA CLICANDO AQUI.

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