APICULTURA -  Como montar um apiário

Palmito pupunha

A pupunha é uma palmeira nativa da América do Sul, especialmente encontrada em regiões tropicais como a amazônia. Seu nome científico é Bactris gasipaes, amplamente cultivada por suas propriedades alimentícias e econômicas. A palmeira é conhecida por seus frutos comestíveis e muito apreciados na culinária brasileira, além de ser utilizada para a produção de palmito. Trata-se de uma planta de porte médio, podendo atingir até 10 m de altura. Suas folhas são grandes e pinadas, conferindo um aspecto exuberante à planta. Os frutos da pupunha são pequenos, de coloração amarelada a laranja, e possuem uma polpa macia e saborosa.

Além disso, a pupunha é uma planta que se adapta bem a diferentes tipos de solo, embora prefira solos úmidos e ricos em nutrientes. A produção de pupunha tem crescido nos últimos anos, devido à sua alta demanda no mercado. O cultivo é realizado principalmente em áreas de clima tropical, onde a planta se desenvolve melhor. Apresenta crescimento rápido, e sua colheita pode ser feita em até três anos após o plantio. Além disso, é considerada uma cultura sustentável, pois sua exploração não compromete o meio ambiente. Ao contrário de outras espécies de palmeiras, a pupunha pode ser cultivada sem a necessidade de desmatamento, preservando a biodiversidade local. Além disso, seu cultivo contribui para a conservação do solo e a manutenção dos recursos hídricos, tornando-se uma opção ecologicamente correta para a agricultura. A planta é resistente a pragas e doenças, o que a torna uma opção atrativa para os agricultores. Em algumas culturas indígenas, a pupunha é considerada um alimento sagrado, sendo utilizada em rituais e celebrações.

Angra dos Reis é o principal produtor de palmito pupunha do estado do Rio de Janeiro. O distrito de Mambucaba se destaca na produção do palmito por meio da Associação dos Produtores Rurais do Vale de Mambucaba. A proposta do grupo tem em sua essência a agricultura familiar, desenvolvendo e difundindo a culinária caiçara, tendo como base o palmito pupunha. A produção é feita pelas comunidades locais, utilizando práticas agrícolas sustentáveis. A associação foi fundada em 21 de janeiro de 1986, tendo como objetivo a organização da produção com assistência técnica, a agregação de valor e a comercialização de seus produtos.

O Rio Mambucaba
O Rio Mambucaba

Hoje possui hoje 47 associados que são divididos em grupos de interesse: grupo de produção e beneficiamento do palmito (pupunha); de produção e beneficiamento da banana (banana passa); de produção de mudas diversas (agrofloresta); de agro turismo comunitário; de psicultura tendo como forte da produção a tilápia; e de cultivo (aipim e farinha de mesa, jiló, quiabo, couve, batata doce, inhame, alface, salsa e cebolinha). Em 2013, os produtores inauguraram uma fábrica de beneficiamento, com capacidade para processar mais de 2.200 Kg de palmito por mês. O palmito pupunha de Angra faz parte da alimentação escolar do município.

O Território da Baía da Ilha Grande, onde está localizada a associação, é uma região que ainda possui 80% de Mata Atlântica relativamente preservada, com algumas intervenções antrópicas. Porém, 20% de suas terras, são planas constituídas de solos hidromórficos, rico em matéria orgânica excelente para produção de todas as culturas citadas. As propriedades estão localizadas no entorno do Parque Nacional da Serra da Bocaina e os que estão dentro da unidade de conservação são reconhecidos como agricultores familiares pelo ICMBio.

A comunidade está localizada na Bacia Hidrográfica do Vale do Rio Mambucaba, que é formado por dois rios principais: Rio Funil e o principal, o Rio Mambucaba, fazendo divisa dos municípios de Paraty e Angra dos Reis. A associação comercializada seus produtores na merenda escolar tanto em Paraty quanto em Angra dos Reis, aos visitantes e nativos da região, em São Paulo, Rio de Janeiro e para um grupo de restaurantes em Paraty, que se organizam e fazem a festa da gastronomia sustentável.

A estrutura de beneficiamento com capacidade para processar mais de 2.200 Kg de palmito por mês
A estrutura de beneficiamento com capacidade para processar
mais de 2.200 Kg de palmito por mês
O trabalho de beneficiamento do palmito de pupunha
O trabalho de beneficiamento do palmito de pupunha

Os pequenos produtores rurais do Vale do Mambucaba se uniram para buscar apoio e para conseguirem o reconhecimento da Indicação Geográfica (IG) por Denominação de Origem (DO) junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Para isso, os agricultores buscaram apoio e orientação junto à Embrapa, Sebrae e da Superintendência Federal de Agricultura do RJ. Primeiramente, constituíram o Conselho Regulador do projeto de Indicação Geográfica (IG) para o palmito de pupunha do Vale do Mambucaba.

O Conselho Regulador é a instância que vai atuar para que os produtores que tenham direito ao selo de IG sigam e mantenham as características peculiares, a qualidade e outros atributos relacionados no Caderno de Especificações Técnicas do produto. O Caderno é o instrumento mandatório para a obtenção da Indicação Geográfica junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), que será elaborado no processo de solicitação da indicação.

As diversas formas de comercialização do palmito de pupunha de Mambucaba
As diversas formas de comercialização do palmito de pupunha de Mambucaba
O macarrão da pupunha de Mambucaba
O macarrão da pupunha de Mambucaba

Os produtores buscam o selo de IG/DO como uma estratégia para aumentar a visibilidade do produto e mostrar a qualidade do que é produzido. Os associados têm investido pesado em infraestrutura para transformar o palmito pupunha em diversos produtos como macarrão, palmito em conserva, entre outros. O processo para obter a certificação envolve várias etapas até o reconhecimento, incluindo estudos técnicos, comprovação da tradição local e padronização da produção.

O palmito de pupunha do Vale do Mambucaba foi apontado em levantamento do Sebrae em 2020 como um produto que reunia as condições para ter solicitada a IG. Em 2022, o pesquisador Marcos Fonseca de Oliveira, da Embrapa, submeteu à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio (Faperj), a Proposta de Indicação Geográfica no formato de Denominação de Origem (IG/DO) do palmito de pupunha do Vale do Rio Mambucaba. Estudos estão em andamento com as equipes da Embrapa Solos e Agroindústria de Alimentos, compreendendo a coleta de amostras de solos e palmitos para análises laboratoriais em propriedades na vertente do lado de Paraty e do lado de Angra dos Reis, e procedendo ao georreferenciamento das mesmas.

A Indicação Geográfica é um fator mercadológico significativo, agrega valor ao produto e propicia um conjunto de benefícios para os produtores e para a região em que este produto é produzido, inclusive para ramos da economia local que não trabalham diretamente com o produto ou sua produção. No município de Paraty, desde 2008 há a Indicação de Procedência das Cachaças de Paraty, com benefícios atestados pelos produtores da bebida que detém o selo da IG. Em 2024, a IG da cachaça de Paraty, obteve também a Denominação de Origem.

O palmito de pupunha em conserva
O palmito de pupunha em conserva

Tradicionalmente cultivado no norte e no centro-oeste, o palmito pupunha tem se adaptado bem ao sudeste. E as condições não poderiam ser melhores: temperaturas médias entre 22°C e 28°C, chuvas regulares e solo bem drenado. Ou seja, o clima litorâneo de Mambucaba é praticamente perfeito para o desenvolvimento da palmeira.

Os agricultores têm se dedicado ao manejo agroecológico, com adubação orgânica. Tudo para contribuir na qualidade do produto e fortalecer a imagem da iguaria como uma opção saudável e sustentável. Com a Indicação Geográfica de Denominação de Origem em andamento, o apoio das instituições tem sido fundamental para que o palmito pupunha se torne um grande destaque no mercado.

A previsão é que a entrada formal do reconhecimento no Inpi aconteça ainda este ano, após a conclusão dos levantamentos necessários. E a certificação não só pode valorizar ainda mais o produto, como também abrir muitas portas para novos mercados. A produção de palmito pupunha tem tudo para crescer no sudeste, fortalecendo a economia, o turismo e o empreendedorismo, tornando o Vale de Mambucaba uma referência, quem sabe, na expansão nacional e até internacional em agricultura sustentável.

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