O pantanal volta a ficar sob alerta. Segundo o Inpe, número de incêndios na região é o segundo maior dos últimos 15 anos, atrás apenas de 2020
O número de focos de incêndios no pantanal nos primeiros meses deste ano chegou a 1.026, um aumento de 980% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Programa de BDQueimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais e o maior registrado desde 2020, quando o bioma passou pelas maiores queimadas da sua história. Ainda no final do período de chuvas, a região não chegou no período de maior risco para incêndios, que costumam ocorrer a partir de julho, com pico nos meses de agosto e setembro.
O que mais preocupa os técnicos que acompanham a situação é que mesmo no que era período de chuva houve aumento nos focos de calor. É um dos piores inícios de ano em focos de calor desde o início da série histórica em 1998. O clima se mantém quente na maior parte do dia no pantanal e as chuvas abaixo das médias históricas desde o fim do ano passado colaboram uma situação preocupante. Entre os municípios mais afetados, segundo o levantamento, estão Aquidauana, Miranda, Corumbá e Porto Murtinho, no MS, e Poconé, Barão de Melgaço, Cáceres e Itiquira, no MT. As áreas fronteiriças com a Bolívia também estão entre as ameaçadas.
A região deve passar por mais uma seca extremamente forte este ano, depois do período chuvoso ter tido uma média de precipitação 60% abaixo da média, de acordo com dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). Os novos recordes de focos de incêndio vem depois de uma explosão de queimadas no final de 2023. Enquanto o início do ano passado foi dentro do esperado, os efeitos do El Niño no segundo semestre atrasaram o período chuvoso e levaram a uma explosão de queimadas em novembro, quando já deveria estar chovendo. Foram 4.134 focos registrados quando a média para o mês é de 584.
O que se tem é um cenário de chuvas abaixo da média no verão. Os meses de maior risco eram agosto e setembro, mas ano passado novembro foi um mês atípico, com muito incêndio e este ano já superou 2020 em quantidade de área queimada nos primeiros meses do ano. A previsão para o segundo semestre é uma nova seca extremamente forte, com os rios da região já muito abaixo das médias históricas. De acordo com dados do Centro de Hidrografia da Marinha, a medição do rio Paraguai na cidade de Ladário (MS), no último dia 3 de junho apontava para 1,40 metro de altura. Em 2023, estava em 3,55 metros.
A falta de chuvas deixa a vegetação mais seca, os rios baixos diminuem a área de inundação no pantanal, o que também deixa a terra mais seca e propensa a queimadas. Dados da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) mostram que a área queimada em 2024 já é maior que a queimada no mesmo período de 2020.
“O que estamos trabalhando no Pantanal são os desdobramentos desses eventos climáticos relacionados a fenômenos naturais. Nós não conseguimos a cota de cheia do Pantanal. A ANA (Agência Nacional de Águas), no dia 13, estabeleceu situação crítica hídrica em toda a bacia do rio Paraguai. Isso é a primeira vez que está acontecendo”, disse a Ministra do Meio Ambiente Marina Silva.
Soma-se a esses problemas, as ações humanas que estão entre as principais causas para o agravamento da situação, como o desmatamento, que deixa o solo mais vulnerável, e o próprio princípio de incêndio, causado de forma acidental ou intencionalmente criminosa.
Em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, foi assinado um pacto com governadores do pantanal e da amazônia legal para combate aos incêndios, já prevendo os riscos para este ano. O governo do Mato Grosso do Sul decretou estado de emergência ambiental.