O estudo da Scot Consultoria encomendado pelo WWF, pela Tropical Forest Alliance (TFA) e pela fundação Solidariedad, chega a esse valor para a reforma de pouco mais de 100 milhões de hectares de pastos com alguma degradação
Os aportes são considerados fundamentais para elevar os ganhos na atividade e reduzir os impactos ambientais, o que tende a garantir o acesso a mercados já importantes, como a China, entre outros.
Apesar da cifra bilionária, o investimento, mesmo com uso de alta tecnologia, ainda é menor que o necessário para desmatar para criar gado. Um investimento de reforma de pasto com aplicação de alta tecnologia custa, em média, R$ 2.982,18 por hectare, conforme o estudo. Já o custo de desmatar – que inclui maquinário, retirada de tocos de madeira do solo, limpeza e semeadura de pasto – é de no mínimo R$ 3 mil por hectare, segundo cálculo da Scot Consultoria.
No estudo, a consultoria projetou três cenários de conversão de pastagens, com base em dados do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), da Universidade Federal de Goiás (UFG), e no custo de reforma com diferentes níveis de tecnologia. Os cenários combinaram investimentos mínimos nos pastos, de R$ 721 por hectare, com outros mais intensos.
No cenário mais agressivo de conversão de pastagens, com reformas usuais de pastos que estão leve a moderadamente degradados e reformas com alta tecnologia nas pastagens severamente degradadas, os desembolsos seriam de quase R$ 246 bilhões. Em um cenário intermediário, com investimentos graduais conforme o nível de degradação, o valor seria de R$ 209 bilhões. E, em um cenário mais conservador, com investimentos mínimos em pastos leve a moderadamente degradados e reformas usuais nos mais degradados, o valor ficaria em R$ 127 bilhões.
Se esses investimentos ocorressem ao longo de uma década, seriam necessários de cinco a dez vezes mais recursos que os disponíveis no Plano ABC neste Plano Safra (R$ 5 bilhões), observou o estudo. Porém, eles já ofereceriam ganhos mais robustos aos pecuaristas. Segundo a Scot, a rentabilidade de uma fazenda com emprego de alta tecnologia é de 3,8%, em média, enquanto a rentabilidade de uma com baixa tecnologia é de 0,6%.
Os aportes são necessários para evitar que a expansão da atividade continue pressionando florestas. Com os investimentos, 104,5 milhões de hectares de pastos com algum grau de degradação (segundo os dados do Lapig de 2020) seriam recuperados e alcançariam o perfil dos demais 77,9 milhões de hectares de pastos em boas condições.
A recuperação de pastagens poderia liberar entre 22,3 milhões e 67,7 milhões de hectares de terras, entre os cenários mais conservador e agressivo de investimentos. Ela permitiria, ainda, que o rebanho brasileiro crescesse de 14% a 59%, alcançando de 179 milhões a 250 milhões de cabeças. O estudo adota como premissa a conta do Lapig de que havia 156,9 milhões de unidades de animais em 2020.
O estudo indica que os pecuaristas precisarão investir também na rastreabilidade do rebanho para garantir a adequação da atividade às leis ambientais. Isso demandaria aportes de R$ 1,1 bilhão, segundo a Scot.
O estudo reforça que, mesmo com um cenário de demanda chinesa crescente na próxima década – a projeção é que as importações de carne bovina da China cresçam 32,8% entre 2020 e 2030 – e o país deve aumentar as exigências ambientais dos produtos que compra. A Scot lembra que a China tem mais de 700 fundos “verdes” com “trilhões de dólares” que poderiam ser acessados pelos produtores brasileiros.