Pesquisa da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) confirmou que a alimentação animal impacta no consumo de água
Bovinos confinados que seguem dieta com resíduos agrícolas contribuem para redução da pegada hídrica.
Mas o que é pegada hídrica?
A pegada hídrica é composta por componentes diretos (água ingerida pelo gado) e indiretos (água utilizada na produção de grãos).
A água verde representa a água consumida na produção das culturas vegetais e a contida nesses produtos.
A água azul é aquela extraída de fontes superficiais e subterrâneas e utilizada na irrigação das culturas, consumo direto dos animais, serviços na fazenda e no abate de animais e processamento dos produtos.
A água cinza é o volume necessário para assimilar a carga de poluentes com base nas concentrações naturais e nos padrões legais.
Dieta promoveu a redução do valor da pegada hídrica total
De acordo com os estudos, na dieta convencional a pegada foi de 1.688 litros por quilo de carne, na alimentação com coprodutos, foi de 1.655 litros, uma redução de cerca de 2%.
O manejo nutricional adequado é muito importante para o negócio, visto que a dieta representa entre 60% e 80% dos custos de produção na propriedade. No entanto, para substituir ingredientes convencionais por resíduos agrícolas deve-se observar a disponibilidade comercial, a qualidade nutricional, a proximidade e a oferta. Outro dado importante é que a utilização de alimentos alternativos mantém desempenho dos animais.
De resíduo agrícola a alimento do gado
A busca por estratégias para aumentar a produção de bovinos em confinamento, com viabilidade econômica, tem aumentado a participação de coprodutos na dieta animal.
Estudos demonstram que o uso de resíduos agrícolas mantém o ganho de peso e as características da carcaça. Além disso, é importante reduzir a dependência por produtos que poderiam servir de alimento para humanos, já que os bovinos são capazes de transformar ingredientes que não são úteis à alimentação humana em produtos com elevado valor nutricional.
Os coprodutos são indicados para pecuaristas que possam adquiri-los, considerando o valor nutricional e a viabilidade econômica, além da disponibilidade na região, caso contrário poderá não ser vantajoso em termos produtivos e econômicos.
A inclusão de coprodutos nas dietas brasileiras em confinamentos é significativa. Destacam-se como substitutos o caroço de algodão, polpa cítrica e cascas de diversos produtos (soja, amendoim, etc.).
Valores
A soma das pegadas hídricas verde e azul do confinamento apresentou valor de 1.695 litros por quilo de carne para a dieta convencional e de 1.545 litros para a alternativa.
A pegada da água verde representou 99,5% do valor total das duas dietas. A formulação apenas com coprodutos resultou em um impacto positivo pela redução da pegada hídrica total. Em contrapartida, a pegada hídrica azul foi 28,5% maior que a convencional.
Ao se adicionar o valor de pegada hídrica do processo de abate, as pegadas totalizam 1.802 litros por quilo de carne para a dieta convencional e 1.769 litros para a de coprodutos, representando um adicional de 6% nas duas pegadas. Os valores do abatedouro não diferiram entre as dietas, já que o processo de abate para os dois grupos foi igual. Ao somar a pegada hídrica do abatedouro, os valores de água verde passaram a representar em torno de 92% para as dietas.
Menos 33 litros por quilo de carne
A pegada hídrica azul do grupo convencional foi de sete litros por quilo de carne e do grupo com dieta de coprodutos, de nove litros. Assim, para se produzir um quilograma de produto, os animais alimentados com ingredientes alternativos consumiram dois litros por quilo de carne a mais do que os alimentados com produtos convencionais.
O consumo médio do grupo com dieta convencional foi de 19 litros por cabeça ao dia e da dieta com coprodutos, de 23 litros. O consumo de água azul foi maior na dieta alternativa, pois os animais ingeriram maior quantidade de matéria seca, com menor teor de umidade, determinando maior consumo de água via bebedouro.
Os resultados demonstram que é possível formular dietas com coprodutos em substituição total aos ingredientes convencionais e ter impactos positivos na melhoria da eficiência hídrica da carne e ainda manter os níveis de desempenho animal. Outro ponto positivo é o fato de se converter um coproduto em um produto nobre, a carne bovina.
Fonte: Embrapa Pecuária Sudeste