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Rios voadores da amazônia viram corredores de fumaça

Fumaça no céu de Porto Alegre no último dia 15 de agosto - Foto: MetSul

Brasileiros de norte a sul do país perderam o direito de ver o céu limpo. Em vez disso, quando alguém olha para cima não só vê uma “espécie de cobertor”, que faz o azul ficar com tons de cinza, como começa a sentir o cheiro da poluição do ar que afeta diretamente a saúde humana. A fumaça que há semanas queima a amazônia, cerrado e o pantanal, já atinge extensas áreas do sul e sudeste. Ela vem carregada dos perigos do carbono tóxico, emitido pela queima da vegetação. Este material, altamente absorvente, provoca o aquecimento atmosférico e causa doenças respiratórias.

As imagens de satélite mostram que o sul do Amazonas concentra os maiores focos de incêndio. O rastro de queimadas começa na região norte do país, incluindo também os estados do Acre e de Rondônia, estendendo-se pelo centro-oeste (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul). A amazônia boliviana é outra fonte emissora de fumaça, já que a prática de queimadas também ocorre no país vizinho.

Imagem da plataforma WorldView da Nasa em 20 de agosto mostra fumaça em deslocamento pela América do Sul

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já registrou 5.454 focos de queimadas no Amazonas nos primeiros 20 dias de agosto. No mesmo período do ano passado foram registrados 2.331 focos, o que significa um crescimento de 233%. A fumaça das queimadas na amazônia segue praticamente a mesma rota que os rios voadores, fenômeno que ocorre quando a umidade da floresta tropical desce com força total por um corredor que passa pelo centro-oeste e chega até o sul e o sudeste – que intensificou a grande enchente no início deste ano.

Agora, em vez de grandes volumes de água suspensa, o que está “descendo” para o sul do país são gases tóxicos. Essa fumaça das queimadas na amazônia vem avançando por diversas cidades brasileiras, incluindo Cuiabá, Campo Grande, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Florianópolis. A qualidade do ar está péssima, justamente em função do material particulado pequeno, 2,5 micrômetro ou abaixo disso.

Fumaça e frente fria vistas de satélite – Foto: Climatempo

Antes mesmo de “viajar” pelo Brasil, a fumaça que encobre os céus de Manaus já deixou um rastro de hospitais lotados, seja nas redes pública ou privada de saúde. A exposição prolongada aos alérgenos e poluentes presentes na fumaça resulta em uma série de problemas de saúde. No sistema respiratório, observa-se ressecamento das fossas nasais, crises de espirros e, muitas vezes, sangramentos nasais. A garganta pode ficar ressecada, com a presença de pigarro e tosse intensa, seca ou irritativa. Os pacientes podem sentir falta de ar, fôlego curto, chiado no peito e dor ou desconforto no peito ou nas costas. Outros sintomas, como lacrimejamento, vermelhidão e coceira nos olhos, também são comuns devido à exposição aos poluentes presentes na fumaça.

Imagem de satélite Copernicus de 20 de agosto de 2024 mostra o rastro da fumaça tóxica

A médio e longo prazo, a exposição constante à biomassa das queimadas pode levar ao desenvolvimento de doenças respiratórias crônicas, similares às que acometem fumantes. As pessoas podem desenvolver bronquites crônicas e se tornarem mais suscetíveis a doenças respiratórias e infecciosas, como pneumonia ou infecções virais, especialmente idosos e crianças, que são os mais afetados. Pessoas com doenças respiratórias pré-existentes, como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, fibrose pulmonar ou pulmão sequelado por infecções passadas, como a tuberculose, são especialmente vulneráveis aos danos causados pela fumaça das queimadas.

No ano de 2019, a fumaça das queimadas na amazônia chamou a atenção do país ao chegar aos céus de São Paulo, escurecendo o dia. A mesma cena voltou a ser notada em 2022, com a chegada de uma imensa “língua” de materiais particulados mais uma vez em São Paulo e baixado a uma altitude de 2 mil metros, portanto, facilmente visível.

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