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Terras caídas é um processo de erosão que ocorre nas margens dos rios com registros frequentes na Amazônia - Foto: Paula dos Santos Silva/Instituto Mamirauá

Mais de cinco mil ribeirinhos da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a cerca de 600 quilômetros da capital amazonense, estão em situação de risco devido à erosão e ao acúmulo de sedimentos nos rios. O número representa cerca de metade da população localizada nesta região amazônica que é banhada pelos rios Amazonas e Japurá. É o que indica estudo liderado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, em colaboração com as universidades de Brasília (UnB), do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e de Toulouse, na França, publicado na revista científica Communications Earth & Environment.

A erosão (localmente conhecida como “terras caídas”) está relacionada à remoção de sedimentos por desgaste causado pelas variações no nível da água ao longo do ano – na região estudada, a diferença pode chegar a 11 metros. Já o assoreamento se refere à deposição de sedimentos no leito e nas margens do rio, o que pode alterar seu curso, formando praias. Enquanto terras caídas destroem construções e territórios, a criação de obstáculos para acesso da população ao rio em áreas de formação de grandes praias dificulta a locomoção e o acesso a serviços e alimentos. Os impactos são agravados em períodos de diminuição do nível das águas, como durante a seca prolongada que afetou a Amazônia em 2023 e 2024.

Mapa de risco das comunidades na Reserva Mamirauá
Mapa de risco das comunidades na Reserva Mamirauá

A partir de informações de satélite, os pesquisadores consideraram os dados de água na superfície relativos ao período de 1986 a 2021 e combinaram os resultados a informações socioeconômicas da região para mapear o risco de 51 comunidades na região da Amazônia Central. Destas, pelo menos quatro estão sob risco muito alto (comunidades de Santa Domícia, Canariá, Boiador e Acapuri de Baixo) e sete estão sob risco considerado alto (Barroso, Porto Braga, Punã, Ingá, São Raimundo do Panauã, Triunfo e Caburini). Entre os fatores que aumentam a vulnerabilidade das comunidades, estão a maior distância até os serviços disponíveis nos centros urbanos, a ausência de estruturas de organização social e a falta de experiências prévias com desastres do tipo.

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá está localizada na Amazônia Central. As comunidades estudadas destacadas em vermelho. A imagem de fundo mostra a topografia do Modelo Digital de Elevação Fabdem
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá está localizada na Amazônia
Central. As comunidades estudadas destacadas em vermelho. A imagem
de fundo mostra a topografia do Modelo Digital de Elevação Fabdem

Além disso, foi possível mapear, com o uso de satélites, a ocorrência de perigo de terras caídas e formação de praias em 254 comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Do total de comunidades analisadas, 18,5% são afetadas por processos de sedimentação, com impactos importantes no transporte fluvial, 26%, pela erosão das margens fluviais, o que gera perdas diretas de áreas nos territórios, enquanto 55,5% estão em uma situação estável. Mais de 80% destas comunidades estão às margens dos rios e apenas 18% vivem em terras altas, mas que também são impactadas pelo desgaste do solo.

Intensificação de eventos como a seca, agravam o desgaste do solo e o acúmulo de sedimentos, como a erosão na comunidade de Coadi - Foto: Paula dos Santos Silva/Instituto Mamirauá
Intensificação de eventos como a seca, agravam o desgaste do solo e
o acúmulo de sedimentos, como a erosão na comunidade de Coadi
Foto: Paula dos Santos Silva/Instituto Mamirauá
Municípios ficam isolados e com falta de alimentos e água potável - Foto: Defesa Civil/AM
Municípios ficam isolados e com falta de alimentos e água potável – Foto: Defesa Civil/AM

As condições da região analisada podem impactar na qualidade de vida dos povos tradicionais da região. Além de ficarem isolados devido à baixa do nível dos rios, eles podem sofrer com insegurança alimentar devido aos reflexos das mudanças no solo na produção agropecuária e na pesca. Em decorrência das mudanças climáticas, que intensificam eventos como as secas, os estragos podem ser ainda mais graves. As secas extremas dificultam a mobilidade dessas comunidades que residem ao longo das margens dos rios. A exposição de algumas áreas durante a seca registrada em 2024, por exemplo, proporcionou eventos chamados de terras caídas, com mortes, inclusive, numa relação direta com as mudanças climáticas, porém são necessários mais estudos para entender melhor esta relação.

A pesquisa destaca o trabalho de mapeamento do Serviço Geológico Brasileiro (SGB) na região, mas alerta que ainda é preciso implementar mais estudos e ações preventivas de desastres. A investigação pode orientar políticas públicas voltadas para solucionar e mitigar os efeitos destes processos. As informações geradas com esta investigação, principalmente a metodologia, que pode ser replicada em outras áreas, já podem ser utilizadas pelo SGB e Defesa Civil dos municípios, auxiliando na identificação de áreas de risco em comunidades ao longo dos rios na Amazônia.

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