Em um ano e três meses, de abril do ano passado a julho deste ano, as propriedades receberam mais de 50 mil visitantes
Desde o ano passado o Paraná conta com um novo atrativo que deixa as pessoas encantadas com a beleza e o aroma dos campos de lavanda. A Rota da Lavanda, que possui diversos atrativos, entre eles os lindos campos cultivados. Eles estão localizados em quatro propriedades de diferentes regiões, incluindo o laboratório do campus de Umuarama da Universidade Estadual de Maringá-UEM, onde é possível ver, por exemplo, o processo de extração do óleo essencial da planta. Palmeira, Carambeí, Londrina e Umuarama são os municípios que fazem parte da rota.
Quem faz a Rota da Lavanda pode apreciar o aroma inconfundível da lavanda e ainda provar produtos como o chá e a geleia feitos com a planta. A iniciativa de fomentar o turismo rural como mais uma opção de renda para estas propriedades vai ao encontro com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de quem vive no campo.
É importante uma agricultura diversificada e que o agricultor tenha alternativas inovadoras para uma lavoura que ofereça maior resultado. A Rota da Lavanda é um jeito novo de pensar em agricultura para que o produtor tenha mais renda e mais opções para venda dos seus produtos.
A rota, além de oferecer informações técnicas sobre a produção e trazer a beleza dos lavandários, conta com novidades como sorvete, chocolate e geleia produzidos com a planta. E quem completar a roteiro pode conhecer o método para extração de óleos essenciais, tanto na lavoura quanto no laboratório da UEM.
A criação da rota foi uma iniciativa do programa de Turismo Rural do IDR-Paraná. O instituto já trabalhava diretamente com estes produtores ao orientar sobre extração de óleo e comercialização dos produtos e, então, a proposta surgiu justamente com a ideia de roteirizar os produtos da agricultura paranaense para diversificar a geração de renda desses produtores.
Trata-se de mais uma iniciativa para incentivar a produção desta planta medicinal que pode ser altamente lucrativa aos produtores. A produtividade média da lavanda é de 70 litros de óleo essencial por hectare, podendo ser ainda maior. O Paraná já é referência na produção de plantas aromáticas e medicinais. O Brasil exporta 120 toneladas de lavanda por ano e o estado produz em torno de 1% deste total, tendo capacidade para aumentar a produção e o mercado consumidor.
Atrações
As cidades que compõem a rota já apresentam um certo destaque tradicionalmente. São cidades fortes para atrair turistas e têm uma forte economia. O IDR espera que a iniciativa contagie novos produtores e que gestores municipais contribuam com a logística de acesso às propriedades e a divulgação dos destinos.
Renda para o produtor, experiência sensorial, lembranças, produtos e suvenires para os visitantes. No mapa da lavanda do estado, os itens variam de sabonetes e cremes hidratantes a sorvetes e chocolates feitos com a planta medicinal.
Em Carambeí, na região sul do Paraná, a rota passa pelo Het Dorp, um vilarejo com características holandesas com foco no turismo rural. Além de conhecer a lavoura, o visitante pode acompanhar o processo que transforma a planta em uma variedade de produtos artesanais. A propriedade conta ainda com uma queijaria e também oferece o contato com bezerros.
Em Londrina, norte do estado, está a propriedade Santa Lavanda, no segmento do turismo de experiência. Os turistas são recebidos com uma água saborizada e shortbread de lavanda, um tradicional biscoito holandês. Em seguida, assistem a uma palestra sobre os benefícios da planta e a diferença das espécies e, então, seguem para o campo onde aprendem a podar e podem levar um buquê de lavandas para casa como presente.
Quem não conhece o sorvete, a geleia de lavanda e o chocolate feitos com a planta poderá experimentá-los no Lavandário Vale dos Sonhos, na Colônia de Witmarsum que fica em Palmeira, nos Campos Gerais. Além do campo de lavandas, o espaço conta também com três lagos e um celeiro country, e oferece ensaios fotográficos e visita guiada, com agendamento prévio. É possível comprar produtos no armazém e participar de cursos de aromaterapia.
Toledo, na região oeste, também faz parte do roteiro com a propriedade Alfazenda, que possui um espaço para venda do que é produzido no local e os produtores explicam sobre o cultivo da lavanda e a extração do óleo essencial.
Em Umuarama, no Noroeste do Paraná, fica o laboratório da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Aqueles que desejam saber mais sobre a extração do óleo, especificamente, e como ele pode ser utilizado no dia a dia devem visitar o laboratório Tecbio. No espaço, os turistas podem conhecer sobre a extração do óleo e a aplicação do produto no dia a dia. É possível acompanhar o preparo das amostras e a montagem dos equipamentos para extração do óleo e a análise de qualidade, além de ajudar na produção de um creme hidratante. O visitante tem a oportunidade de conhecer o cheiro de 25 diferentes óleos essenciais e testar diversas combinações de sinergias.
A Rota da Lavanda já movimentou mais de R$ 1,3 milhão neste primeiro ano de funcionamento. O valor leva em consideração apenas os ganhos que os produtores que integram o programa têm com as visitações.
A lavanda
Entre as vantagens da cultura destaca-se o fato de a lavanda ser uma planta perene, de baixo custo e de fácil manutenção, com fins para ornamentação de paisagismo e campo. Não é necessário uma área muito grande para o plantio, e o produtor pode entrar com outros atrativos na área para complementar a atividade turística.
A produção de lavanda no Brasil é pouco expressiva. Além do Paraná, onde a cultura é explorada em pequenas propriedades, há cultivo em regiões de São Paulo — com destaque para o lavandário de Cunha, com cerca de 15 hectares – e nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais.
Não há dados nacionais precisos sobre a produção, e a maioria dos agricultores implanta a cultura com foco em turismo rural. Há também produção fracionada de óleo essencial e de artigos artesanais, como sabonetes e cremes. Como a produção doméstica é pequena, o Brasil importa grande parte do óleo essencial de lavanda utilizado nas indústrias farmacêutica, fitoterápica e de cosméticos e perfumaria.
Dados da importação do óleo de lavanda em 2022, registrados pelo sistema AgroStat, do Ministério da Agricultura e Pecuária, compilados pelo Deral/Seab, apontam que o Brasil importou 122.715 litros do produto, ao custo de US$ 4,116 milhões. O maior volume foi importado da França, com 84.302 litros, seguido da Espanha, com 24.173 litros e dos EUA, com 11.053 litros.
A França é uma das principais produtoras mundiais da flor e maior fornecedor de óleo de lavanda ao Brasil. As mudanças climáticas têm afetado a cultura da lavanda, alterando o volume de produção da planta em regiões como a Riviera Francesa. Mas os problemas com a oferta francesa ainda não tiveram repercussão sobre as importações de óleo de lavanda pelo Brasil.
A extração do óleo essencial da lavanda é o que agrega mais valor à atividade. Porém, no Brasil, a lavanda mais cultivada não é a espécie que tem o maior preço e que tem um óleo de mais qualidade.
A lavanda verdadeira da espécie Lavandula angustifolia, que tem a cor mais azulada — elegance purple — é a espécie dos famosos campos franceses, bastante valorizada na indústria da perfumaria.
Há uma normativa internacional — a ISO 3515:2002 — para o óleo de lavanda da angustifolia, que define os limites de cânfora e outros componentes majoritários do produto. Mas essa espécie não se desenvolve tão bem no Brasil, onde floresce com porte menor e rende menos.
Já a lavanda francesa da espécie Lavandula dentata, que se desenvolve melhor no Brasil, não tem as propriedades necessárias, o que reduz o valor agregado do produto para a indústria. Além do alto teor de cânfora, a dentata tem menor teor de outros componentes majoritários, como o linalol e o acetato de linalila.
Originária do Mediterrâneo europeu, a Lavandula angustifolia não encontra facilmente no Brasil características ideais para florescer, como clima frio e solo rochoso. É uma espécie que tem baixa tolerância à umidade e encharcamento, por isso precisa de solos pobres e bem drenados. Pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM), do campus de Umuarama, têm realizado estudos para avaliar as melhores espécies e regiões para o cultivo no Paraná.
Pesquisadores trabalham com foco na produção de mudas e óleo essencial de Lavandula dentata e na adaptação da espécie Lavandula angustifolia na região do Arenito Caiuá, no Noroeste do Estado.
A melhor época para visitar uma plantação de lavanda em plena floração é na primavera, entre setembro e dezembro.