A vida está paralisada, encalhada em planícies lamacentas formadas pela seca severa que atinge a região da floresta amazônica
Na Amazônia, a pesca gera uma receita anual de cerca de R$ 389 milhões, com uma produção de aproximadamente 173 mil toneladas de peixes. A região é uma das maiores consumidoras de peixe no mundo, com um consumo per capita anual variando entre 135 e 292 Kg, conforme dados da FAO. No entanto, essa pesca abundante está ameaçada devido à seca dos rios na região.
A pesca na Amazônia está intrinsecamente ligada às flutuações nos níveis de água dos rios, que alternam entre períodos de cheias e vazantes, afetando a disponibilidade de alimentos e abrigo para os peixes. Esses rios estão em risco devido às atividades humanas, que alteram as flutuações nos níveis de água e os padrões de chuva, resultando em consequências significativas para a pesca devido a eventos climáticos extremos.
Os cientistas afirmam qua ainda não têm total conhecimento sobre os prejuízos gerados pelos cenários de seca deste mês na pesca da região. A resposta das populações de peixe sob efeito de flutuações no nível de água leva um tempo, ou seja, os impactos da frequência e intensidade de eventos extremos nas últimas décadas só serão mapeados, totalmente, mais para a frente.
As espécies disponíveis para a captura no momento estiveram sob influência das flutuações no nível de água de anos anteriores. Por exemplo, o jaraqui (Semaprochilodus taeniurus – escama fina e Semaprochilodus insignis – escama grossa), peixe emblemático mais consumido da região amazônica, que é capturado hoje, levou, em média, dois anos para atingir um tamanho corporal para ser pescado. Se os anos anteriores foram adequados para a espécie, com disponibilidade de alimento e abrigo, esse jaraqui sobreviveu e se desenvolveu, sendo capturado para fins comerciais.
A falta de monitoramento oficial do desembarque pesqueiro na Amazônia desde 2011 agrava o cenário. O monitoramento tem o propósito de identificar comunidades pesqueiras que utilizam as proximidades dos portos para descarregar peixes, coletar dados estatísticos sobre a pesca e avaliar os impactos de eventos climáticos extremos. A ausência de dados prejudica a capacidade de resposta das comunidades e a formulação de políticas para proteger a pesca na região diante de eventos climáticos extremos.
Segundo os pesquisadores, para enfrentar essa situação, é preciso criar planos de manejo da pesca adequados ao contexto de crise climática, unindo conhecimento tradicional e científico sobre a atividade e as flutuações no nível de água. Só assim se poderá minimizar os graves danos às populações locais que comercializam peixes e vêem, agora, sua subsistência ameaçada.