CAMPING -  Dicas para escolher a barraca ideal

AgriculturaCultura e SocialGastronomiaGestão, Mercado e EconomiaNotícias

Starbucks é processada por exploração de trabalho escravo no Brasil

Letreiro da loja Starbucks

A rede de cafeterias americana Starbucks enfrenta um novo escândalo relacionado à exploração de trabalho escravo em plantações de café no Brasil. Segundo a RTBrasil, a empresa de advocacia International Rights Advocates iniciou um processo legal contra a empresa, acusando-a de estar implicada em casos de tráfico de pessoas em fazendas fornecedoras de café no país. Oito trabalhadores brasileiros entraram com uma ação contra a multinacional, maior rede de cafeterias do mundo, no Tribunal de Columbia, nos Estados Unidos. As acusações surgem após denúncias de trabalhadores terem sido resgatados em condições análogas à escravidão em propriedades que fornecem café à Starbucks. As oito vítimas, que tiveram a identidade preservada, foram submetidas ao trabalho forçado em fazendas de Minas Gerais entre 2023 e 2024. Um dos trabalhadores tinha 16 anos quando foi resgatado. Eles pedem indenização de USD 200 milhões (cerca de R$ 1,1 bilhão).

Segundo a denúncia, as fazendas pertencem a cooperados da Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), que seria uma das principais fornecedoras da multinacional norte-americana. O mais alarmante é que algumas dessas fazendas operavam sob a certificação “C.A.F.E Practices” (Coffee and Farmer Equity), um selo concedido pela Starbucks que supostamente garante o cumprimento de normas éticas na produção de café. Esta não é a primeira vez que a Starbucks se envolve em denúncias de trabalho escravo no Brasil. Uma investigação da organização independente Repórter Brasil, pelo menos duas fazendas fornecedoras da companhia já haviam sido indiciadas anteriormente por práticas trabalhistas abusivas, apesar de também possuírem o mencionado selo de qualidade.

A empresa é acusada de estar implicada em casos de tráfico de pessoas em fazendas fornecedoras de café no país - Foto: Kent Gilbert
A empresa é acusada de estar implicada em casos de tráfico de
pessoas em fazendas fornecedoras de café no país – Foto: Kent Gilbert

Os brasileiros resgatados teriam sido alvo de ameaças e coerção. Eles alegam que não tinham equipamentos de proteção adequados, foram alojados em condições precárias e contraíram dívidas com os intermediadores da contratação. Normalmente o trabalhador vai para a colheita ouvindo promessas dos intermediários que recrutam mão de obra nos municípios de origem, dizendo que as condições serão boas, que haverá alojamento decente e limpo, que o salário será adequado e, ao chegar no local, a realidade é totalmente diferente. A acusação cita ao menos nove amputações e duas mortes de trabalhadores em acidentes com maquinário de café nos últimos dois anos. Quando tentaram deixar as fazendas, as vítimas foram proibidas.

Em um trecho da ação, revelado pela Repórter Brasil, a IRA afirma que “a Starbucks lucra conscientemente com um sistema arraigado de tráfico e trabalho forçado nas plantações de café com as quais tem parceria no Brasil”. “O fato da Starbucks cobrar seis dólares por um copo de café, em que a maior parte foi colhida por trabalho forçado e infantil, é mais do que um ato criminoso. É moralmente repugnante“, declarou Terrence Collingsworth, diretor executivo da IRAdvocates ao jornal The Guardian.

Xícara da Starbucks refletindo trabalho escravo
Montagem de uma xícara da Starbucks com café refletindo trabalho escravo

Além da ação contra a Starbucks, uma denúncia da organização Coffee Watch pede a suspensão das importações de café brasileiro por multinacionais estadunidenses. A denúncia foi registrada semana passada na Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos. A Coffee Watch exige que o governo americano proíba a distribuição de qualquer produto do Brasil que integral ou parcialmente utilize tráfico humano e trabalho análogo à escravidão.

A organização cita que 3,7 mil trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão em fazendas brasileiras desde 1996. O país representa 11,4% dos resgates no mundo entre 2013 e 2023. Em declaração à imprensa, a fundadora e diretora da Coffee Watch, Etelle Higonnet, ressaltou que não se trata de casos isolados. “Estamos expondo um sistema arraigado que aprisiona milhões na pobreza extrema e milhares na escravidão absoluta. Em um momento em que os americanos sentem o impacto da inflação, eles merecem saber que as corporações que cobram preços exorbitantes estão lucrando com o sofrimento humano“, denuncia.

Starbucks comprava grãos de produtor do Triângulo Mineiro que foi flagrado explorando mão de obra análoga à de escravos - Foto: Lilo Clareto/Repórter Brasil
Starbucks comprava grãos de produtor do Triângulo Mineiro
que foi flagrado explorando mão de obra análoga à de escravos
Foto: Lilo Clareto/Repórter Brasil

O Brasil reconheceu oficialmente a existência de escravidão moderna no país há mais de 30 anos perante a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Essas práticas persistem em setores como a agricultura, onde a vulnerabilidade social e econômica facilita a exploração. Com uma produção anual que supera os 3.252 milhões de toneladas, o Brasil é o maior exportador de café do mundo. Seus principais mercados são Estados Unidos, Alemanha e Bélgica. A Starbucks consome aproximadamente 3% do café produzido em todo o mundo, consolidando-se como um dos principais compradores do grão.

Leia também: