Previsão. 2050. Quase 10 bilhões de pessoas neste mundinho. ONU aponta que este crescimento será acompanhado por evolução da renda e da demanda por alimentos. Mas como alimentar tantas bocas?
Crescimento econômico e dinâmica populacional são fatores que desenharão o perfil da sociedade global. O que o futuro nos aponta é uma população mais urbana, mais idosa, mais rica e mais exigente!
Poluição, esgotamento do solo, da água e da biodiversidade… Essa realidade também indicará o caminho para o agronegócio. Mas qual será o tipo de unidades produtivas necessárias para garantia da segurança alimentar e nutricional das populações no futuro?
Uma coisa é certa: sem agricultores não haverá um sistema alimentar suficiente, adequado.
O desafio passa a ser buscar condições que viabilizem a produção de alimentos, proporcionando renda e condições de vida dignas aos trabalhadores do campo e suas famílias, e com critérios rígidos de proteção aos recursos naturais.
Pequenos produtores ou agricultura de maior escala? Qual dos modelos de produção de alimentos é o mais adequado para o futuro?
Vamos a alguns dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)…
Temos cerca de 570 milhões de propriedades rurais ao redor do mundo:
- 13% por cento das fazendas estão em países de baixa renda;
- 4% nos países mais ricos;
- 83% nos países de renda mediana, os mais conhecidos como “em desenvolvimento”,
Outra amostra da FAO que estudou 111 países e territórios aponta que dentre estes locais há um total de cerca de 460 milhões de propriedades rurais.
- 72% delas têm menos de um hectare;
- 12% têm entre 1 e 2 hectares;
- 10%, entre 2 e 5 hectares;
- Apenas 6% das fazendas do mundo são maiores que 5 hectares.
E mais… A crescente fragmentação destas pequenas propriedades é uma tendência nas unidades produtivas dos países mais pobres.
Resultado destas reduções?
Pequenos agricultores, com mais dificuldade de viver de maneira digna, resolvem se deslocar para os centros urbanos! Para agravar a situação, cresce, em todo o mundo, o número de agricultores ativos com mais de 60 anos de idade. Grande parte deles sem perspectivas de sucessão, já que os filhos também buscam as cidades ou outras profissões.
Resumindo: o progresso e o crescimento da renda provocam a redução no número de agricultores e o aumento no tamanho das já grandes propriedades. As maiores, com uma superfície superior a 5 hectares, cobrem 27% das terras em países de baixa renda, 43% nos países de renda média baixa, 96% nos países de renda média alta, e 97% em países de alta renda. Países desenvolvidos, grandes produtores e exportadores de alimentos, como Estados Unidos e Holanda, por exemplo, têm menos de 1% da força de trabalho no campo. Ainda assim, cerca de 14% da economia holandesa e 5,5% da gigantesca economia americana resultam da produção agrícola.
Diversidade de públicos e oportunidades
Este embate (pequeno x grande), a meu ver, se torna estéril. Ambos serão essenciais, uma vez que teremos que dobrar a produção de alimentos num prazo muito curto e isto exigirá uma agricultura cada vez mais diversificada e especializada.
A agricultura comercial de maior escala seguirá se ampliando com o avanço do progresso econômico, especialmente para prover produtos de grande demanda como soja, milho, carnes, açúcar, fibras, dentre outros.
Os pequenos produtores continuarão sendo uma maioria muito importante para o futuro da segurança alimentar, mas sua viabilidade dependerá de apoio e políticas públicas relacionadas à propriedade da terra e à sucessão, ao acesso a conhecimento, tecnologia e financiamento, além de mercados amigáveis à lógica da inclusão produtiva.
Suas produções se tornarão mais diversas e especializadas fazendo com que ganhem a preferência de consumidores cada vez mais exigentes. Hortaliças, frutas, cafés e produtos especiais ligados à moderna gastronomia já sustentam modelos mais sofisticados e rentáveis de pequena produção em muitos países, e certamente se expandirão no futuro.
A intensificação do uso das terras já destinadas à produção, com aumento de produtividade, e a expansão responsável destas áreas, com rigoroso balizamento na sustentabilidade, são desafios a serem enfrentados.
Conclusão? Todos serão importantes. Mas condições sustentáveis disponíveis para que isto aconteça são fundamentais.
Está mais do que na hora de o Brasil começar a sedimentar o futuro do agro com mais seriedade, assertividade e eficiência. Principalmente, quando falamos dos pequenos e médios produtores rurais.