O sucesso notável do agro é impulsionado por investimentos contínuos em tecnologia e inovação, que estão redefinindo as práticas agrícolas e impulsionando a eficiência
O primeiro semestre de 2023 revelou os números para o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, atingindo a marca de R$ 1,35 trilhão. As previsões do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) indicam que até o final do ano, esse valor poderá alcançar incríveis R$ 2,63 trilhões. Esses dados ressaltam a importância vital do setor, consolidando-o como um dos principais pilares da economia nacional.
Este sucesso notável é impulsionado por investimentos contínuos em tecnologia e inovação, que estão redefinindo as práticas agrícolas e impulsionando a eficiência em todas as etapas da produção, desde o plantio até a colheita. Destacamos algumas tecnologias que continuarão a transformar o agro durante este ano:
Robôs colaborativos
Os robôs colaborativos, conhecidos como cobots, estão se tornando aliados valiosos no agronegócio. Leves, fáceis de instalar e flexíveis, esses robôs estão otimizando as linhas de produção de maquinários agrícolas e mesmo em atividades no campo, seja no plantio, na colheita ou nos tratos culturais da lavoura. Além de aumentarem a produtividade e qualidade, destacam-se por garantirem maior segurança aos trabalhadores, realizando tarefas perigosas de forma complementar. Os robôs também ajudam no manejo das criações, monitorando o estado nutricional e de bem-estar dos animais, principalmente em ambientes protegidos, como granjas ou em criação de gado confinado. Podem ser aplicados até mesmo na condução dos animais quando o direcionamento de locais deve ser utilizado durante o dia — por exemplo, durante a noite, eles devem ser instruídos a ficarem em locais mais protegidos (sejam baias de alimentação, de repouso ou qualquer outra condução necessária). Bovinos e equinos, mesmo mansos, em grande quantidade apresentam risco de acidentes aos humanos quando na condução, sendo que um robô conseguiria fazer a condução sem grandes perigos.
Algumas barreiras para utilização de robôs no agronegócio ainda são detectadas no Brasil. Assim como existiu muita polêmica focada na diminuição da força de trabalho com a introdução dos robôs nas mais diversas indústrias (automobilística, principalmente), este debate existe em relação à mão-de-obra no campo. Entretanto, diferentemente da indústria, a agropecuária tem apresentado problemas com relação à disponibilidade da mão-de-obra pelos mais diversos motivos. Essa dificuldade na obtenção de mão-de-obra agrícola tende a acelerar o processo de robotização do campo, principalmente nas tarefas mais repetitivas, pesadas, tediosas e de maior risco, desta forma favorecendo a redução da necessidade de mão-de-obra. Como exemplo, podemos citar tarefas como pulverizações, colheita, análise das condições climáticas e do solo e manejo de animais de grande porte.
Inteligência artificial
A inteligência artificial no campo é o conjunto de ferramentas e recursos que auxiliam o agricultor a coletar dados, processar informações e tomar decisões que influenciam no desempenho das atividades agropecuárias. Para isso, o produtor se utiliza softwares e dispositivos equipados com sistemas computacionais inteligentes. Essas ferramentas são capazes de coletar um grande volume de dados do que ocorre na propriedade rural, identificar padrões e realizar diagnósticos em tempo real. A IA está ganhando espaço no agronegócio brasileiro. Levantamento recente revela que 20% dos empresários do setor já utilizam IA, e 32% planejam adotar essa tecnologia. O papel revolucionário da IA na melhoria da eficiência, redução de custos e aumento da receita no agronegócio. O uso da IA está acontecendo em várias frentes, monitorando a saúde da colheita, orientando decisões de plantios, detectando doenças e pragas, gerenciando operações de campo, levantando e mapeando solos, gerenciando desafios e recursos ambientais, otimizando a utilização de insumos e maquinários, gestão de estoques, dentre outras aplicações
Carne de laboratório
É um produto no qual o agronegócio mundial já investiu US$ 1,9 bilhão desde 2016, segundo estimativa da ONG The Good Food Institute (GFI), que apoia o desenvolvimento do mercado de proteínas alternativas. O Brasil é um dos países que estão na vanguarda mundial da pesquisa e produção. Com 20% dos brasileiros evitando o consumo de carne de animais, alternativas como a carne de laboratório ganham destaque. Essa opção atende às demandas de veganos, vegetarianos e pescetarianos, tornando-se cada vez mais comum. No Brasil, o produto ainda não tem aval do governo para ser consumido, mas a carne cultivada obteve as primeiras aprovações nos EUA e o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) para a criação de protocolos de fiscalização. No Brasil ainda existe resistências para esse produto. Existe projeto de lei tramitando na câmara dos deputados para proibir a pesquisa privada, produção, reprodução, importação, exportação, transporte e comercialização de carne feita em laboratório. A justificativa é para proteger a indústria pecuária nacional. O autor do projeto alega que a produção de carne em laboratório pode se tornar uma ameaça à cultura e identidade nacional brasileira.
Telemetria e geoprocessamento
Investir em ferramentas como telemetria e geoprocessamento é essencial para otimizar a utilização e disponibilidade de maquinário no agronegócio. Destaca-se a redução de custos e aumento da produtividade, resultando na centralização da gestão de múltiplas operações agrícolas. A telemetria é um sistema que permite monitoramento, controle e rastreamento de equipamentos e máquinas de forma remota. Para que esse processo aconteça com sucesso, é preciso utilizar sinais de rádio ou de satélite, pois a sua metodologia envolve o uso de tecnologia sem fio. A tecnologia consiste em capturar dados importantes sobre o desempenho da lavoura e auxiliar no monitoramento de operações da fazenda, a fim de torná-la mais eficiente e produtiva.
Cultivo regenerativo
A agricultura regenerativa abrange diferentes técnicas agrícolas que têm como objetivo reabilitar e conservar os sistemas agrícolas e alimentares. Tem seu foco na regeneração do solo, aumentando a biodiversidade, melhorando o ciclo da água, ampliando os serviços de ecossistema, aumentando a resiliência às mudanças climáticas e fortalecendo a saúde e vitalidade das terras agrícolas, reunindo práticas focadas em resultados, como aumento da produtividade, captura de carbono no solo, incremento da biodiversidade, diminuição da irrigação – principalmente onde recursos hídricos são mais escassos – entre outros. O Brasil é destaque mundial, pois tem implementado muitas destas técnicas na sua prática habitual como os sistemas agroflorestais que são essenciais para a recuperação de áreas degradadas. A adoção do sistema ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) viabiliza a redução de custos, o ganho duplo de produtividade e de sustentabilidade, propiciando o aumento da produção sem aumentar a área da fazenda. Além do impacto ambiental, esses métodos envolvem pequenos produtores, promovendo responsabilidade socioambiental. As árvores são rastreadas por geotecnologias, proporcionando transparência no processo. A fertilidade do solo é necessária não só para cultivar culturas destinadas a apoiar as necessidades humanas, mas também para fornecer forragem para o gado.
Outros pilares da agricultura regenerativa são a recuperação de áreas degradadas e o Sistema de Plantio Direto (SPD), baseado no mínimo revolvimento do solo, mantendo as palhas e plantas das culturas anteriores de modo que formem uma cobertura orgânica, o manejo ou manutenção do solo pode com cobertura morta durante todo o ano e a rotação ou consorciação de culturas, técnica que consiste em variar as espécies plantadas a cada ciclo de plantio para evitar a exaustão do solo.