Os traficantes movimentam cerca de 10 a 20 bilhões de dólares em todo o mundo e o Brasil participa com 15% desse valor, aproximadamente 900 milhões de dólares
As organizações não-governamentais Traffic e União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), com apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) revelam que, no Brasil, falta transparência nos dados de fiscalização a respeito do assunto.
Pior do que isso, identificam o Brasil como ponto de referência para o tráfico internacional de animais selvagens.
Segundo informações da Polícia Militar Ambiental, cerca de 82.040 animais foram traficados apenas no Estado de São Paulo entre janeiro de 2017 e agosto de 2019.
As rotas de circulação das diversas espécies se concentram entre o Nordeste e o Sudeste do país e abastecem países de fronteira, como Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname.
Falta de processo e análise dos dados
De acordo com os responsáveis pelo estudo, há informações geradas por diversos órgãos, como Polícia Militar, Polícia Federal, Polícia Ambiental, além dos municípios que têm outras forças que trabalham com apreensão. Mas o problema é que não há nenhum processo que concentre e analise estes dados.
Planejamento é viável e não faltam informações
Trinta mil animais vivos são apreendidos pela Polícia Ambiental de São Paulo por ano! Cinquenta mil animais são comercializados anualmente em cerca de sete feiras da região metropolitana de Recife! Ou seja, é possível criar um processo de intervenção. O que falta é uma atuação inteligente e conjunta.
Espécies preferidas
O tráfico de filhotes de papagaio, arara, tucano e maritacas tem crescido significativamente. Mas há também a grande demanda por saguis, macacos-prego e iguanas.
São Paulo é o estado que mais pratica a receptação destes animais. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia e Brasília são cidades que se destacam negativamente neste estudo. Certas regiões do Paraná têm entrado neste clube de degradação da fauna.
Outra situação que chama bastante atenção é a circulação livre de animais em diversos estados, como Goiás, oeste da Bahia, Tocantins, Maranhão e sul do Piauí.
O relatório ‘Tráfico de animais selvagens no Brasil’ e a Amazônia
O estudo indica que o problema é agravado pela infraestrutura precária de locomoção na região da Amazônia. As condições locais dificultam a fiscalização e o combate à prática.
Ações de grilagem e desmatamento que comprometem o habitat natural dos animais, abuso no turismo de fauna são outras questões que afetam o equilíbrio ambiental.
O tráfico de fauna silvestre tem várias características. Há comércio para consumo humano, desde carne de caça até iguarias culinárias, medicina, biotráfico, moda…
O Greenpeace afirma que 1 milhão de espécies correm o risco de extinção em escala global.
Outros dados
Segundo a Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres), o Brasil é um dos principais alvos dos traficantes da fauna silvestre devido a sua imensa biodiversidade. Esses traficantes movimentam cerca de 10 a 20 bilhões de dólares em todo o mundo, colocando o comércio ilegal de animais silvestres na terceira maior atividade ilícita do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas. O Brasil participa com 15% desse valor, aproximadamente 900 milhões de dólares!!!
A fauna brasileira apresenta números relevantes em relação à biodiversidade no mundo. Entre os vertebrados, o país abriga 517 espécies de anfíbios (das quais 294 são endêmicas), 468 de répteis (172 endêmicos), 524 de mamíferos (com 131 endêmicas), 1.622 de aves (191 endêmicas), cerca de 3 mil peixes de água doce e uma fantástica diversidade de artrópodos: só de insetos, são cerca de 15 milhões de espécies (Ministério do Meio Ambiente, Relatório Nacional sobre a biodiversidade, 1998).
Há quadrilhas organizadas e especializadas no tráfico de animais e que são bem estruturadas para a venda ilegal. Cerca de 70% do comércio é para o consumo interno e o restante é exportado. Este tráfico envolve um grande número de pessoas, iniciando com os capturadores ou caçadores (geralmente pessoas muito pobres e que conhecem o habitat dos animais).