
Produtores do interior do estado comercializaram safra recorde para cooperativas garantindo a sustentabilidade e a rentabilidade nas comunidades
É tempo de umbu pelos quatro cantos da Bahia! O verão na Bahia tem um sabor especial, o do umbu. A safra (pico dura de janeiro a março) do umbu espalha esse fruto originário da caatinga pelas mesas dos baianos e baianas. Este ano, a safra do umbu vem com força total, trazendo oportunidades para agricultores e agricultoras familiares de associações e cooperativas, que transformam a fruta em diversos derivados, gerando renda e fortalecendo a economia local. Com produção sazonal, a Bahia foi líder nacional em 2022 no cultivo do umbu, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Todos os anos, a Bahia produz quase seis mil toneladas da fruta e seu extrativismo proporciona renda para milhares de famílias. E não é só o umbu in natura que é comercializado pelo Estado. Por meio dos investimentos do governo da Bahia nas cooperativas e associações, construindo agroindústrias de beneficiamento e levando conhecimento de qualidade através da assistência técnica, o umbu está sendo transformado em outras delícias como geleias, doces, picolés, umbubom, cervejas e licores artesanais, exemplos de como o umbu está sendo introduzido na gastronomia brasileira.
Nativo da caatinga, o umbuzeiro (Spondias tuberosa), que faz parte da cultura alimentar baiana, ocorre nos chapadões semi-áridos do nordeste brasileiro (Piauí, Paraíba, Pernambuco e Bahia) e do Norte de Minas Gerais. Até o momento, essa planta não foi difundida para nenhum outro país, sendo possível sua adaptação para outras regiões secas fora do país de origem. A planta da famíla Anacardiaceae, é uma árvore de pequeno porte (6 m de altura), de tronco curto, copa em forma de guarda-chuva (10 a 15 m de diâmetro) que se destaca por sombra e aconchego, xerófita, adaptada às condições de falta de água, de vida longa, possui raiz túbera ou batata (xilopódio), onde armazena água, mucilagem, glicose, taninos, entre outras substâncias. As folhas são verdes, alternas, compostas, desaparecem nos períodos de seca, mas voltam a renascer ao cair das primeiras chuvas. As flores são brancas, perfumadas, melíferas e agrupadas em panícula de 10 a 15 cm de comprimento.


Nos tempos do Brasil Colônia era chamado de ambu, imbu, ombu, corruptelas da palavra tupi-guarani “y-mb-u”, que significa “árvore-que-dá-de-beber” (embora haja a possibilidade de que seja, de fato, uma palavra de origem Kariri). Dada a importância de suas raízes, foi chamada “árvore sagrada do sertão” por Euclides da Cunha em “Os Sertões”. A raiz conserva água e produz uma batata, que em época de grande estiagem, é utilizada como alimento. O Umbuzeiro vive mais ou menos 100 anos e é um símbolo de resistência. O consumo das folhas e do fruto do umbuzeiro por caprinos, ovinos e fauna silvestre no semiárido baiano demonstra o valor desta planta na alimentação animal. As folhas com gosto “azedinho”, também são usadas como alimento pelos seres humanos. O cultivo é de fácil manejo agrícola.
O umbu é o fruto do umbuzeiro. Colhido em sua maioria de forma extrativista, é a principal fonte de renda, em determinada época do ano, para milhares de famílias baianas. É uma drupa, com diâmetro de 3 cm, 10 a 20 g de peso, forma arredondada, constituído de casca (22%), polpa (68%) e semente (10%). Tem alto valor nutricional e um espaço importante na produção agroindustrial da agricultura familiar do estado, como aponta a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR).


De inconfundível sabor agridoce, muito rico em vitamina C, os frutos são coletados da natureza pelo vaqueiro, extrativista, agricultor familiar, agroecológico, que os transforma em geleias, doces, sorvetes, compotas, sucos e umbuzada, iguaria preparada com leite e açúcar, muito apreciada no nordeste. O fruto possui um caroço revestido por uma suculenta polpa e, na superfície, por uma película esverdeada, tendendo, à medida que amadurece, para a cor amarela. Tem, em média, de três a quatro centímetros de diâmetro. Alimenta as famílias, fortalece a economia solidária, o cooperativismo, mantendo muitos jovens que trabalham no seu processamento. A polpa dos frutos é processada na época da colheita e pode ser armazenada para consumo ao longo do ano. No município do Uauá, o fruto é transformado em cerveja artesanal, a Gravetero 100% umbu, pela cooperativa Coopercuc.

no nordeste e consumida durante o período de safra do umbu


Melhoramento e importância econômica
Atualmente a pesquisa tem feito a seleção de plantas que apresentem características de boa produtividade, frutos médios a grandes em relação ao seu tamanho normal (10 a 20 g), casca fina e lisa, maior percentagem de polpa e alto teor de brix. Assim, tem sido feita a seleção de plantas na região semi-árida, apresentando copas com frutos considerados gigantes, em torno ou acima de 100 gramas, e com bom paladar de polpa.
A partir de projetos de beneficiamento do umbu em mini-fábricas do sertão baiano, essa fruta passou a ter importância na geração de renda e organização das comunidades rurais da região. Advindo da seleção de espécies que produzem o fruto maior, conhecido como umbu gigante, traz consigo condições organolépticas que agradam ao paladar do consumidor. Bem como do fruto de menor tamanho, in natura para o processamento, vem sendo um grande incentivador para o crescimento da produção e também de unidades de beneficiamento e processamento do fruto, gerando agregação de valor, e consequentemente uma maior renda para os agricultores.
Segundo a CAR, neste primeiro trimestre, período de safra do umbuzeiro, as famílias extrativistas estão conseguindo comercializar o fruto por um preço justo, o que resulta aumento da oferta dessa matéria-prima para cooperativas baianas e em aumento de renda para essas famílias. No município de Itiúba, agricultores assessorados pela CAR, em parceria com a Associação Regional dos Grupos Solidários de Geração de Renda (Aresol), nas comunidades Cercadinho, Estreito, Maria dos Santos, Pedra do Dórea e Sítio do Meio, organizaram a produção do umbu, e comercializaram cerca de 3.500 quilos do fruto para a Cooperativa Regional de Agricultores Familiares e Extrativistas da Economia Solidária (Coopersabor). Todos os produtores se envolveram e conseguiram comercializar a produção.

Foi desenvolvida uma ação semelhante nas comunidades de Aroeira, Barro Vermelho, Cambueiro, ADJ e Volta, no município de Capim Grosso. Com apoio direto da CAR, em parceria com a Associação de Pequenos Produtores de Jaboticaba (APPJ), foi possível assegurar a venda de uma quantidade expressiva do fruto. Foram comercializados 1.349 quilos de umbu para a Cooperativa Ser do Sertão (Coopsertão), com sede no município de Pintadas. Em três semanas foram comercializadas seis toneladas de umbu. Além de Capim Grosso também foram envolvidas algumas comunidades de Quixabeira. Foi um evento histórico, pois tratava-se da primeira vez que o umbu era comercializado nessa quantidade. Com investimentos do governo do estado, por meio da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), a cooperativa ampliou a agroindústria e agora tem capacidade para processar e estocar um volume recorde da fruta.
Segundo a Coopsertão, o impacto dessa estruturação mostra que esse ano está sendo completamente diferente dos anteriores. Nos últimos dois anos, a cooperativa teve que buscar umbu em outros municípios, porque a produção local não foi suficiente. Agora, está recebendo entre 70 e 80 caixas de 25kg por dia só de Pintadas. Além disso, agricultores de nove municípios do território Bacia do Jacuípe estão entregando diretamente na cooperativa. A cooperativa nunca havia recebido uma quantidade tão grande de umbu. A produção deve alcançar entre 15 e 27 toneladas este ano, um crescimento expressivo, comparado às seis ou sete toneladas dos anos anteriores.


Da caatinga para o copo: a transformação do umbu
Com o aumento da produção, a Coopsertão tem ampliado a comercialização. Cerca de 80% das polpas são destinadas aos programas públicos, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), garantindo que estudantes da rede pública tenham acesso a alimentos saudáveis e nutritivos. Os outros 20% são vendidos no mercado privado, conquistando cada vez mais consumidores que buscam refrescância e qualidade nos sucos de polpa natural.
As polpas são encontradas em diversos estabelecimentos comerciais do território da Bacia do Jacuípe. Em Salvador, as polpas podem ser encontradas no Centro de Distribuição de Produtos da Agricultura Familiar, localizado em Itapuã. O apoio da CAR foi essencial para essa expansão. A ampliação da agroindústria elevou a capacidade de armazenamento da cooperativa para 89 toneladas – antes, eram apenas 27 toneladas. Com novas câmaras frias e um sistema de energia solar, que reduz em mais de 90% os custos com eletricidade, a produção tornou-se mais sustentável e eficiente.

das cooperativas baianas – Foto: Priscilla Souza/Coopercuc
Mais produção, mais renda e sustentabilidade
A Coopsertão reúne 326 famílias, que atuam em diferentes sistemas produtivos, incluindo leite, cordeiro, hortaliças e frutíferas. A assistência técnica específica, aliada à estrutura agroindustrial moderna, permite que os cooperados processem suas colheitas com mais segurança e consigam acessar novos mercados. Além da industrialização do umbu, a cooperativa também investe na recuperação ambiental. Com o modelo Agroflorestal de Recuperação de Áreas Degradadas para o Semiárido, implementado pela CAR, a Coopsertão fortalece a resiliência climática e reduz as emissões de carbono na atmosfera, garantindo um futuro mais sustentável para a produção agrícola da região.
O trabalho de assistência técnica contínua nestes municípios é ofertado no âmbito do Pró-Semiárido, projeto do governo da Bahia, executado pela CAR, empresa pública vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), que tem cofinanciamento do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida). O projeto oferece assistência técnica contínua para produtores das regiões semiáridas do estado, garantindo a sustentabilidade da produção e a rentabilidade dos agricultores extrativistas. A Bahia já possui diversas cooperativas que se dedicam à cultura do umbu.
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