Fazendas da região fluminense vivenciam um momento de renovação e investem na qualificação dos cafezais associando à experiência turística
O Vale do Café, na região sul do Estado do Rio de Janeiro, vivencia um momento de renovação. Após anos de dificuldades, produtores locais estão experimentando a retomada da atividade cafeeira, graças, principalmente, à reintrodução dos cafés especiais.
O Rio de Janeiro produz em torno de 300 mil sacas de café por ano, provenientes de uma plantação de 11 mil hectares. Do total, 80% estão na região Noroeste, 19% na região Serrana e apenas 1% no sul do Estado. Mas é nesse 1% que está o café especial da Fazenda Florença, vencedor do Concurso de Qualidade do Café realizado em 2019, no Palácio da Guanabara.
A fazenda fica em Conservatória, Distrito de Valença, e tem 24 mil pés de café plantados. Por ano, são colhidas cerca de três toneladas de café especial. A propriedade tem 110 hectares, sendo que cinco hectares são de plantação.
O Brasil foi o maior produtor do mundo no século XIX e, por inúmeros fatores, essa produção foi praticamente extinta. A Fazenda Florença desenvolve esse projeto desde 2015, no qual se adotou cafés de excelente qualidade, que são chamados cafés especiais, participando do projeto de APL (Arranjo Produtivo Local), que vem estimulando o retorno do plantio no vale. A iniciativa é governo do estado, com o apoio das secretarias de Desenvolvimento Econômico, Agricultura e Turismo.
O potencial do café especial e seu impacto positivo na economia regional é reconhecida pelo governo, que está oferecendo incentivos e apoio técnico aos produtores locais, estimulando a adoção de práticas sustentáveis e promovendo a comercialização dos grãos no mercado nacional e internacional.
Os produtores também vêm recebendo apoio da Emater por meio de eventos e capacitações que vão desde a produção de mudas até o produto final.
O café especial, devido às características únicas de sabor e aroma, tem ganhado cada vez mais espaço no mercado global. Com a reintrodução desse tipo de cultivo no Vale do Café, a região está se reposicionando como um importante polo produtor, capaz de competir com outras localidades tradicionalmente reconhecidas pela excelência dos seus grãos.
O turismo na região do vale
E a atração vai além do sabor diferenciado. Com paisagens deslumbrantes e rica história, o Vale do Café também se destaca como destino turístico.
As fazendas históricas da região estão abrindo suas portas para receber visitantes, compartilhando a história e o processo de produção, enquanto proporcionam a oportunidade de degustar o café fresco torrado na hora.
No local da Fazenda Saint Robert funcionava um hospital para tuberculosos na década 1960/70. Após o plano cruzado, transformou-se num hotel fazenda. O espaço foi administrado até pouco tempo atrás pelo Henrique Marques Lisboa e sua esposa, a chef Ana Catharina. Atualmente seus filhos assumiram a administração. Eles começaram a plantação em 2017 das variedades IPR 100 e catuaí vermelho.
Além das atividades agropecuárias o projeto contempla um hotel onde era o antigo hospital, uma pousada e um restaurante. Próximo ao cafezal o visitante pode provar o Café Aroeira lá produzido e conhecer todo o processo de beneficiamento, além de também conhecer a microcervejaria Zodiac.
A região do Vale do Café preserva estruturas importantes dessas fazendas históricas, além das antigas estações de trem, dos atrativos de natureza, uma rica gastronomia e o artesanato local. Não à toa, o vale figura entre as regiões mais procuradas em 2022 e ao longo deste ano, com seguidos recordes de ocupação hoteleira.
História
Entre as fazendas que estão liderando o movimento está a São Luiz da Boa Sorte, em Vassouras, também na região sul do Estado, cujos cafezais estão sendo revitalizados. A propriedade tem origem em 1835, no período áureo do ciclo do café. Hoje, é aberta ao turismo de experiência que destaca a história e a memória do ciclo cafeeiro.
A fazenda, que conta com o Museu do Café e o Memorial do Escravizado, tem 1,2 mil pés de cafés e gera em torno de 60 empregos diretos e indiretos.
A São Luiz da Boa Sorte prioriza práticas agrícolas sustentáveis, investindo em sistemas de irrigação eficientes e preservação ambiental. Desde que a fazenda foi recuperada, já foram plantadas mais de 3 mil mudas de pau-brasil, espécies da Mata Atlântica e frutíferas.