O doce de leite se popularizou entre os mineiros ainda nos primeiros anos de sua descoberta, passando a ser apreciado por todos
A história do doce de leite remonta a muitos séculos atrás, com registros de produtos semelhantes em diversas culturas ao redor do mundo. Acredita-se que a origem do doce esteja ligada à domesticação do gado e à produção de leite. A partir do momento em que o homem começou a criar animais para obtenção de leite, ele passou a utilizar esse ingrediente de diversas formas, inclusive para a produção de doces. Antigamente, os povos do Oriente Médio e do Mediterrâneo já produziam doces de leite utilizando técnicas rudimentares de cozimento do leite com açúcar ou mel, resultando em uma mistura densa e doce. Na Índia, por exemplo, o “khoya” é um doce tradicional feito a partir do leite fervido até que todo o líquido evapore, resultando em uma massa sólida doce.
Na Idade Média, a produção de doce de leite se espalhou pela europa e ganhou popularidade em países como Espanha, Portugal e França, onde era conhecido como “cajeta” ou “leite condensado”. Nessa época, era considerado uma iguaria de luxo, devido ao alto custo do açúcar e do leite na época. A origem do doce de leite é motivo de disputa entre países da América Latina, principalmente entre Argentina e Uruguai. Ambos os países reivindicam a autoria do doce de leite como uma de suas iguarias tradicionais, havendo, assim, divergências sobre a sua origem.
Na Argentina, o doce de leite é conhecido como “dulce de leche” e é considerado um símbolo da cultura argentina. Acredita-se que ele tenha surgido no século XIX. Há um relato popular de que o doce teria sido inventado pela criada do governador Juan Manuel de Rosas, que esqueceu o leite com açúcar no fogo, resultando no doce de leite. No entanto, há também a hipótese de que o doce de leite já era produzido na região antes da chegada dos espanhóis, por influência dos povos indígenas locais.
No Uruguai, o “dulce de leche” também é considerado uma iguaria tradicional. Os uruguaios afirmam que ele foi trazido ao país por imigrantes espanhóis e que sua produção se consolidou na região no século XIX. Apesar da disputa entre Argentina e Uruguai, a verdade é que o doce de leite é uma iguaria presente em muitos países ao redor do mundo, com diferentes variações e nomes, mas com a mesma base: leite e açúcar cozidos juntos até obter uma consistência cremosa e doce.
A verdade é que trem bão é doce de leite, hein, sô? Se for mineiro, mió ainda! Aquela textura cremosa e gostim caramelizado conquistam até os paladares mais exigentes. Segundo opinião de historiadores, o doce de leite foi criado em Minas Gerais. Surgiu pela necessidade da criação de alimentos, numa terra que a cada dia recebia aventureiros, bandeirantes e portugueses, que chegaram à Minas Gerais, com a descoberta de ouro, no século XVIII.
Ea í, o doce de leite saiu das cozinhas mineiras, nos primórdios do povoamento de Minas Gerais por um erro. Ao ferver o leite de vaca com açúcar, o leite foi esquecido no fogo, o que resultou num creme amarronzado (parece que foi inspirada na história da Argentina sobre a pela criada do governador). O sabor ficou ótimo, surgindo assim o doce de leite, passando a iguaria a ser feita pelas famílias mineiras com a receita passada de geração para geração, desde o século XVIII.
O doce de leite se popularizou entre os mineiros ainda nos primeiros anos de sua descoberta, passando a ser apreciado por todos, chegando à nobreza e passando a ser feito também em outras regiões brasileiras. Não há nenhum relato em nossa história de doce de leite feito antes da popularização do doce em Minas Gerais.
A verdade é que doce de leite, junto com o pão de queijo e o queijo, são as principais identidades mineiras. No Brasil, o doce de leite é um verdadeiro patrimônio cultural e tem uma forte ligação com o estado de Minas Gerais. A tradição de produzir doce de leite em Minas Gerais remonta ao século XVIII, tendo sida muito influenciada com a introdução da pecuária na região. A riqueza dos pastos mineiros e a abundância de leite de qualidade favoreceram o desenvolvimento da produção de doce de leite na região.
O doce de leite mineiro é conhecido por sua qualidade e sabor inigualáveis, sendo considerado um dos melhores do país. A técnica de produção artesanal, utilizando leite fresco e açúcar, é passada de geração em geração, preservando a tradição e o saber-fazer local. A produção de doce de leite em Minas Gerais é tão importante para a cultura mineira que a iguaria tornou-se um símbolo do estado, a ponto de o doce de leite de Viçosa, famoso em todo o país, ser reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais.
Ele também é frequentemente associado ao queijo, outro produto típico da região. A mistura de doce de leite com queijo é uma tradição enraizada na culinária mineira há muitos séculos, quando os produtores locais descobriram que o sabor doce do doce de leite combinado ao salgado do queijo resultava em uma combinação deliciosa. Desde então, essa dupla tornou-se uma marca registrada da culinária mineira, sendo apreciada em diversas receitas e sobremesas locais. Leite de alta qualidade, açúcar e bicarbonato de sódio. Esses são os ingredientes básicos de uma dessa iguaria tão tradicional e apreciada em todo o país.
Minas Gerais se destaca não apenas por ser o maior produtor de leite do país, mas também como o principal responsável pela produção desse derivado, essencial na cultura mineira. O doce de leite conquistou, não só o paladar dos mineiros, mas também de todos os brasileiros, a partir da segunda metade do século XIX, quando começou a se popularizar em todo o Brasil. Embora tenha centenas de fábricas de doces por todas as cidades mineiras, o doce de leite caseiro ainda é o mais popular entre os mineiros.
Segundo dados do Serviço de Inspeção Federal (SIF), em 2020, Minas Gerais foi responsável por 58,1% da produção de doce de leite no Brasil. Essa liderança se deve a diversos fatores, como a qualidade do leite produzido no estado, a tradição na fabricação artesanal e o apoio a pequenos produtores. Seja em pasta ou de corte, essa iguaria se consolidou, onde cada região possui seus modos e segredos de preparo. Um dos exemplos mais notáveis é o famoso doce de leite de Viçosa, fabricado no Laticínio Escola da Funarbe, na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Eleito dez vezes o melhor doce de leite do Brasil, o produto ganhou reconhecimento oficial em 2021, quando foi considerado de relevante interesse cultural para o estado de Minas Gerais. Não é a toa que o processo de fabricação do Doce de Leite Tradicional Viçosa passou a ser considerado Patrimônio Cultural Imaterial do estado, conforme a Lei Estadual nº 24.033, de 05 de janeiro de 2022. Em 2023, a cidade de Viçosa, localizada na Zona da Mata, foi agraciada com o título de Capital Estadual do Doce de Leite, reforçando ainda mais a sua tradição e importância.
A Funarbe foi instituída como fundação de apoio para as atividades de ensino, pesquisa e extensão da UFV e o reconhecimento do processo de fabricação do produto como Patrimônio Cultural Imaterial traz um orgulho imensurável para todos que estão envolvidos nessa cadeia produtiva, além de reafirmar a importância de garantir a preservação da herança cultural, a conservação da memória e a valorização da identidade mineira.
A simplicidade no preparo do doce não diminui seu alto valor agregado, tornando-o uma excelente opção para incrementar a renda de pequenos produtores, pois trata-se de um produto muito versátil e apreciado pelo consumidor. Em Minas, ele vai direto à mesa como sobremesa, mas também é muito utilizado em receitas de panificação e confeitaria. Muitas pessoas, depois de treinamento, iniciam a produção e acabam tendo no doce de leite uma importante fonte de renda e também a oportunidade de preservar tradições familiares.
O futuro do produto mineiro é promissor. Com a crescente demanda por produtos artesanais e de qualidade, os pequenos produtores encontram um mercado cada vez mais receptivo. Além disso, o doce de leite tem sido utilizado em diversas receitas, como bolos, tortas e sorvetes, ampliando ainda mais as possibilidades de consumo. Definitivamente, o doce de leite mineiro é muito mais do que um alimento, é um símbolo da cultura e da identidade do estado. Sua produção artesanal, aliada à qualidade dos ingredientes e à paixão dos produtores, garante a preservação de uma tradição secular e é a delícia que fortalece a economia local.