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Reconhecimento feito pelo Inpi valoriza produção da região mineira realizada com cultivo de dupla poda, em ciclo invertido, abrangendo 10 municípios já internacionalmente conhecidos pela produção de vinhos finos
A produção de vinhos de inverno do sul de Minas Gerais conquistou reconhecimento do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) como Indicação de Procedência (IP). Isso significa que a região tem reputação e tradição como produtora da bebida, exclusivamente elaborada com o cultivo da uva do tipo Vitis vinifera. Com esse registro, o país alcança 129 Indicações Geográficas chanceladas pelo instituto aos produtores e prestadores de serviços de determinadas áreas geograficamente delimitadas. No caso do vinho nacional, é o 13º registro.
O produto, vinhos de inverno, é assim considerado para a produção de uvas conduzidas em regime de dupla poda, em ciclo invertido, para colheita no período de inverno, compreendida entre os dias 01 de junho e 21 de setembro, em condições climáticas específicas. A “IP Vinhos de Inverno Sul de Minas”, como é chamada, se restringe às áreas dos municípios de São João da Mata, Cordislândia, São Gonçalo do Sapucaí, Três Corações, Três Pontas, Campos Gerais, Boa Esperança, Bom Sucesso, Ibituruna e Ijaci.
A adoção da técnica da dupla poda da videira fez com que não só Minas Gerais, mas todo o sudeste brasileiro, conquistasse espaço na produção nacional de vinhos finos. A técnica possibilita que o período de maturação e de colheita das uvas aconteça no inverno, consistindo na realização de duas podas, uma em agosto e outra em janeiro, em que se inverte o ciclo natural da planta e colhe-se no inverno, driblando períodos chuvosos e elevada amplitude térmica (diferença de temperatura entre o dia e a noite), favorecendo índices mais satisfatórios de qualidade.
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que acaba de ganhar o selo de Indicação de Procedência
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em épocas mais favoráveis, obtendo uvas de melhor qualidade
Na produção de vinhos finos de inverno, as exigências são distintas das práticas de regiões produtoras tradicionais, onde a maturação e a colheita das uvas acontecem no verão. A dupla poda não se aplica, por exemplo, às regiões produtoras do sul do Brasil. Lá o inverno é chuvoso e o frio é mais intenso. Regiões onde há geadas frequentes não são aptas para a dupla poda. Além de não tolerarem geadas, as videiras entram em dormência e não se desenvolvem em temperaturas mínimas abaixo de 10°C. Outros fatores a serem considerados são a exposição geográfica, a topografia do terreno e o relevo.
A prática começou a ser testada no início da década de 2000, quando o então pesquisador da Epamig, Murillo de Albuquerque Regina, retornou de doutorado na França, onde avaliou que as condições necessárias para se produzir uvas sadias e aptas para a obtenção de vinhos finos, eram bastante semelhantes às características do inverno na região cafeeira do Sul de Minas. Entre os meses de maio e agosto tem-se na região o clima ideal para a produção com qualidade, caracterizado pela combinação de dias ensolarados, noites frias e solo seco.
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como o “pai dos vinhos de inverno”
Os primeiros vinhos obtidos pela técnica chegaram ao mercado no início da última década e logo conquistaram espaço no circuito gastronômico e premiações nacionais e internacionais. Atualmente, a prática tem se expandido entre outras regiões que possuem características semelhantes, amplitude térmica, altitude e pouca precipitação no inverno.
De acordo com o documento oficial, estão permitidas as variedades Syrah, Merlot, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Marselan, Tempranillo, Petit Verdot, Pinot Noir e Grenache para vinhos tintos e rosados. Já para os brancos, os viticultores devem produzir suas garrafas com cortes de Sauvignon Blanc, Viognier, Marsanne ou Chardonnay, desde que estejam na área delimitada de 4.239,6 km².
O reconhecimento como Indicação Geográfica impulsiona o desenvolvimento socioeconômico dessas regiões. Os pequenos produtores se tornam mais competitivos no mercado e a região, com sua produção controlada, ganha uma proteção legal contra falsificações e uso indevido dos nomes reconhecidos. Apenas dois vinhos brasileiros possuem Indicação Geográfica na modalidade Denominação de Origem: Vale dos Vinhedos (RS) e Altos de Pinto Bandeira (RS). Nestes casos, além da fama da região, o registro exige que as características do vinho sejam diretamente influenciadas pelo terroir.
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dupla poda ganha mercado no Sul de Minas – Foto: Epamig
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brasileiro mais bem pontuado pelo Guia Descorchados 2022
A obtenção da Indicação de Procedência (IP) foi fruto de um trabalho de estudo intenso de um grupo de engenheiros agrônomos, enólogos, a Embrapa e a associação Anprovin, incluindo Murillo de Albuquerque Regina, considerado o “pai da dupla poda no Brasil”. Além disso, a indicação também é um reconhecimento nacional que atesta a qualidade dos rótulos produzidos na região, fato que é confirmado pelas premiações em concursos mundiais de grande tradição no mundo dos vinhos.
Em 2024, por exemplo, as vinícolas mineiras Barbara Eliodora, Casa Geraldo e Sacramentos estavam na lista dos 10 melhores vinhos brasileiros da revista britânica Decanter. Com a nova IP reconhecida pelo INPI, os produtores já estão liberados para rotular suas garrafas com o novo selo. Segundo o instituto, a Indicação de Procedência, como é o caso do selo obtido pelo Sul de Minas, se refere ao “nome geográfico de um país, cidade, região ou uma localidade de seu território que se tornou conhecido como centro de produção, fabricação ou extração de determinado produto ou prestação de determinado serviço”.