Esterco bovino permite reutilização de água com aumento de produtividade no plantio de milho e frutíferas
Três caixas d’água de mil litros, alguns metros de cano e um balde de esterco bovino. Pronto! Com apenas isso, transformamos problema em solução.
Utilizando esta tecnologia de fácil acesso, mais de 70% das residências rurais do país estariam aptas a produzir cerca de três mil litros de biofertilizante.
Desta forma, além de aumentar a produtividade e a rentabilidade de seu empreendimento agrícola, o produtor rural economizaria água e ainda contribuiria para a preservação deste recurso valioso.
Reúso e biodigestão
Criada pela Embrapa para substituir a fossa séptica comum, onde as fezes e a urina humana muitas vezes contaminam lençóis freáticos, a fossa séptica biodigestora permite reaproveitar tanto a água da descarga quanto substâncias presentes nas fezes e urina humana.
De acordo com pesquisadores da Embrapa Instrumentação, a biodigestão, facilitada pela presença do esterco bovino, torna solúveis os nutrientes presentes nas fezes e na urina.
A água que sai da fossa tem uma quantidade de nutrientes que não é desprezível. Tem também uma matéria orgânica dissolvida, que também é bom e ajuda a corrigir a acidez do solo e outras coisas importantes pra produtividade agrícola.
O uso do efluente tratado, associado a outros nutrientes, permitiu atingir produtividades iguais àquelas observadas em culturas submetidas a adubação mineral, sem a preocupação de colocação de micronutrientes, porque isso já vem com o efluente e tudo isso ajuda muito o produtor porque é muito importante tanto para a produção de grãos quanto de massa verde.
Em pequenas propriedades, o plantio de milhos muitas vezes é destinado à produção animal ou à pecuária leiteira. Como o efluente tem muito nitrogênio, que é o principal nutriente que o capim e as gramíneas utilizam, elas respondem muito bem.
A Embrapa quer criar um protocolo que possa embasar uma legislação que regulamente o reuso do esgoto em áreas rurais – ainda inexistente no Brasil. Isso é possível, vários países fazem isso e não há nada de muito novo.
No caso da fossa biodigestora, a recomendação da Embrapa é de que o uso do efluente se dê diretamente no solo, sendo desaconselhado o uso de irrigação por aspersão para evitar contato com os alimentos.
Além disso, devido à elevada presença de nutrientes, o uso excessivo da água tratada pelo sistema pode gerar a salinização do solo e prejudicar a produção.
Fossa séptica biodigestora – a estrutura
A fossa séptica biodigestora, além de evitar a contaminação do lençol freático, produz um adubo orgânico líquido que pode ser utilizado em hortas e pomares.
A estrutura é simples. Três caixas-d’água conectadas entre si são enterradas para manter o isolamento térmico. A primeira delas é ligada ao sistema de esgoto e recebe, uma vez por mês, 20 litros de uma mistura com 50% de água e 50% de esterco bovino fresco. Este material, junto com as fezes humanas, fermenta. A alta temperatura e a vedação das duas primeiras caixas eliminam os patógenos. No final do processo, o líquido está sem micróbios e pode ser usado como adubo.
Pelos estudos da Embrapa, esse tipo de sistema é ideal para uma família composta por cinco pessoas que despejam 50 litros de água e resíduos por dia. Se houver mais gente, a sugestão é colocar mais uma caixa de mil litros.
Para as propriedades que já estão com os lençóis freáticos contaminados, a Embrapa recomenda o uso de um clorador entre o cano de captação de água do poço e o reservatório. Isso elimina os microorganismos e garante água potável.
Para montar a fossa séptica biodigestora você vai precisar de três caixas-d’água de mil litros cada. Como ficarão enterradas, recomenda-se o uso de caixas de fibra de vidro ou de cimento, pois esses materiais suportam altas temperaturas e duram mais.
Antes de cavar os buracos no solo para colocar as caixas, você vai precisar furá-las para inserir os tubos de PVC. Utilize uma serra copo diamantada de 100 mm para fazer os furos. Caso não tenha essa ferramenta, marque o furo usando o cano como modelo e, com uma broca de vídia, de 1/4 de polegada, faça pequenos orifícios. Com uma talhadeira, finalize o buraco e depois o lime com uma grosa. Os tubos e conexões devem ser vedados com cola de silicone na junção com a caixa.
Cave no solo três buracos de aproximadamente 80 cm cada para colocar as caixas. Conecte o sistema exclusivamente ao vaso sanitário. Não o ligue a tubos de pias, pois a água que vem delas não é patogênica. Além disso, sabão e detergente inibem o processo de biodigestão.
Utilize um tubo de PVC de 100 mm para ligar a privada à primeira caixa. Para facilitar a vazão, deixe este cano com uma inclinação de 5% entre o vaso e o sistema. Para não correr o risco de sobrecarrega, não use válvulas de descarga. Prefira caixas que liberem entre sete e dez litros de água a cada vez que é acionada. Coloque uma válvula de retenção antes da entrada da primeira caixa para colocar a mistura de água e esterco bovino.
Ligue a segunda caixa à primeira com um cano curva de 90 graus. Feche as duas tampas com borracha de vedação de 15 por 15 mm e coloque um cano em cada uma delas que servirá de chaminé para liberar o gás metano acumulado. Não vede a terceira caixa, pois é por ela que você irá retirar o adubo líquido.
Entre as três caixas, coloque um T de inspeção para o caso de entupimento.
Caso você não queira utilizar o adubo, faça na terceira caixa um filtro de areia para permitir a saída de água sem excesso de matéria orgânica. Coloque no fundo uma tela de nylon fina. Sobre ela, ponha uma camada de 10 cm de pedra britada número três e 10 cm da de número um, nessa ordem, e mais uma tela de nylon. Depois, coloque uma camada de areia fina lavada. Instale um registro de esfera de 50 mm para permitir que essa água vá para o solo.
Fonte: Embrapa
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