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Dia de Combate à Poluição por Agrotóxico
Considerado muitas vezes como um vilão necessário, o agrotóxico é um composto químico utilizado nas plantações com o intuito de inibir a ação de pragas e micro-organismos que prejudicam a produção agrícola
  
Em grandes produções agrícolas, os agrotóxicos são usados sob a alegação de que são necessários para aumentar a produção de alimentos. O uso de agrotóxicos é muito comum e além de livrar a plantação de insetos, ervas daninhas, roedores e germes, esses produtos acabam ficando impregnados no próprio alimento que está sendo cultivado.
 
Assim, os agrotóxicos acabam sendo tóxicos também para quem consome esses alimentos como outros organismos vivos, animais e seres humanos.
 
Por esse motivo, a preocupação com o uso de agrotóxicos nos alimentos é cada dia mais frequente. Além disso, os pesticidas podem contaminar o próprio meio ambiente, tornando o solo menos fértil e prejudicando toda a fauna e flora ao redor.

Modos pelos quais os agrotóxicos podem entrar no nosso organismo

Esses compostos podem entrar no nosso organismo pela contaminação aquática quando atingem o solo ou as águas.

Na cadeia alimentar, os pesticidas podem chegar ao nosso corpo através da ingestão de plantas cultivadas com agrotóxicos ou por meio do consumo de animais que se alimentam dessas plantas. O mesmo é válido para o consumo de peixes e outros animais aquáticos de águas contaminadas.

Os agrotóxicos também podem chegar ao nosso organismo por meio do contato direto com a pele, através da inalação ou pela ingestão acidental.

Doenças causadas por agrotóxicos nos alimentos

Por se tratar de um dano a longo prazo, é muito difícil associar o uso de agrotóxicos com o desenvolvimento de certas doenças. A pesquisa fica ainda mais complicada devido à imensa variedade de agrotóxicos usados nas plantações.

Porém, existe um banco de dados conhecido como Pesticides-Induced Diseases Database que compila diversos estudos no mundo inteiro sobre a relação entre o uso de agrotóxicos e doenças. Segundo essa compilação, existem evidências científicas contundentes de que as doenças abaixo podem ser desencadeadas pela exposição a longo prazo a pesticidas.

1. Diabetes

As pesquisas indicam uma relação entre os agrotóxicos e a diabetes do tipo 2. Isso porque estudos já indicam que a exposição a agrotóxicos, especialmente a organofosforados, parece induzir a obesidade e causar a diabetes em camundongos. Foi observado que a presença de agrotóxicos no organismo tende a aumentar a ingestão de alimentos, os níveis de glicose e o colesterol total no sangue. Todos esses fatores contribuem para o desenvolvimento de diabetes do tipo 2.

2. Asma

Estudos indicam que a incidência de asma aumentou junto com o uso de agrotóxicos. Vários tipos de pesticidas como inseticidas, fungicidas e herbicidas têm sido associados com o desenvolvimento de asma.

3. Doença de Parkinson

A doença de Parkinson é uma das doenças neurodegenerativas mais comuns. Ocorre quando as células nervosas presentes no cérebro são danificadas e não conseguem mais produzir dopamina, hormônio que dentre outras funções ajuda a controlar o movimento dos músculos.

Uma pesquisa de 2008 publicada no periódico Journal of Agromedicine também avaliou os efeitos da rotenona presentes em agrotóxicos orgânicos usados em jardinagem e foi constatada uma relação entre a substância e o surgimento de doença de Parkinson.

4. Defeitos congênitos

A maioria dos bebês que morrem ainda no primeiro ano de vida morrem por causa de defeitos congênitos. De acordo com estudo publicado no periódico científico Occupational and Environmental Medicine, mulheres expostas a desreguladores endócrinos no ambiente de trabalho apresentaram um risco 2 vezes maior de hipospádia (uma má formação no órgão genital do bebê) e 5 vezes maior de ter um feto com múltiplos defeitos congênitos.

Embora esse risco exista, ele é maior para mulheres que são expostas a grandes concentrações de agrotóxicos e ainda não há estudos de que o acúmulo de pesticidas no organismo a longo prazo cause danos graves ao feto.

5. Desregulação endócrina

O nosso sistema endócrino é composto não só de hormônios, mas também de glândulas responsáveis por sua produção como a glândula tireoide, as gônadas, as glândulas adrenais e as glândulas pituitárias. Alguns compostos encontrados em agrotóxicos podem ter uma estrutura química muito parecida com a de certos hormônios produzidos naturalmente no nosso corpo. Assim, esses compostos podem confundir o organismo e se ligar a receptores hormonais, prejudicando suas funções. É como se a substância presente no agrotóxico se passasse por um hormônio e impedisse a sua ligação ao receptor celular, bloqueando a sua função e causando um desequilibro hormonal no organismo.

Os efeitos endócrinos causados por agrotóxicos que vão se acumulando no corpo com o passar dos anos podem incluir:

  • Diminuição da qualidade do sêmen;
  • Desenvolvimento de diabetes;
  • Problemas como a obesidade;
  • Puberdade precoce;
  • Anomalias no útero;
  • Cistos ovarianos;
  • Câncer de mama;
  • Aborto precoce e outras complicações na gravidez;
  • Infertilidade;
  • Distúrbios neurológicos e doenças neurodegenerativas;
  • Disfunção na tireoide;
  • Alterações na próstata;
  • Câncer nos testículos.

6. Câncer

Diversos tipos de câncer como na bexiga, nos ossos, no cérebro, no fígado, no pâncreas, na próstata e a leucemia são algumas das principais doenças causadas por agrotóxicos nos alimentos, de acordo com algumas evidências.

A maioria dos estudos afirma que um tipo de câncer que afeta o sistema linfático como o linfoma de Hodgkin e o linfoma não-Hodgkin são os com maior risco de serem observados devido ao uso prolongado de agrotóxicos. Essas formas de câncer são o terceiro tipo de câncer mais comum em crianças e o sétimo tipo mais frequentemente diagnosticado em adultos.

Além da incidência desse tipo de câncer ter acentuado com o aumento do uso de agrotóxicos ao redor do mundo, foi constatado que crianças que viviam em regiões agrícolas tinham um risco maior de apresentar tumores ósseos malignos, linfoma de Hodgkin e osteossarcomas.

7. Doença de Alzheimer

Uma das formas mais conhecidas de demência, o mal de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva que afeta a saúde do cérebro. Foi observado um aumento muito grande de diagnósticos de doenças de Alzheimer nas últimas décadas, o que coincide com o aumento do uso de pesticidas após a década de 1970.

Muitos estudos têm mostrado um aumento de doenças que afetam as habilidades cognitivas, comportamentais e psicomotoras como a doença de Alzheimer em pessoas expostas a agrotóxicos. Os inseticidas são a classe de agrotóxicos que mais podem causar neurotoxicidade e doenças que afetam a saúde mental.

8. Distúrbios de aprendizagem e desenvolvimento

Pesquisadores acreditam que o grande aumento de distúrbios físicos e mentais em crianças como os distúrbios de aprendizagem, emocionais ou comportamentais sejam uma consequência do aumento da exposição a substâncias tóxicas no meio ambiente.

De acordo com estudos publicados por revistas científicas sobre pediatria, exposições acidentais a níveis altos de agrotóxicos podem ter relação com alguns tipos de câncer infantil e também com doenças como autismo e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.

Como a criança pequena ainda está se desenvolvendo, ela acaba ficando mais exposta aos danos causados por agrotóxicos, por exemplo. Por esse motivo, o cérebro de uma criança é muito mais sensível aos efeitos de pesticidas tóxicos do que o cérebro adulto. Assim, mesmo em níveis baixos, a criança pode sofrer mais do que um adulto as consequências de ser exposta precocemente a alimentos que contenham resíduos de agrotóxicos.

9. Disfunção reprodutiva e sexual

Como já foi dito acima, a desregulação endócrina pode afetar muito o sistema reprodutivo humano. Vários estudos conduzidos em laboratório e estudos epidemiológicos mostram que a exposição a compostos tóxicos presentes nos agrotóxicos, mesmo em quantidades pequenas, pode prejudicar a capacidade reprodutiva. Além disso, tais efeitos negativos podem ser observados tanto em homens quanto em mulheres.

Qual a solução?

Uma solução eficaz para esse problema seria investir em agroecologia. Trata-se de uma técnica de plantio que usa apenas adubos naturais. Além da produção de produtos orgânicos mais saudáveis e nutritivos, o sistema contribui para a sustentabilidade já que não ocorre a contaminação nem dos alimentos nem do meio ambiente. Uma tendência importante também é o desenvolvimento e aplicação de bioinsumos o que já vem atendendo culturas em larga escala.

Medidas simples podem reduzir a quantidade de agrotóxicos residuais nos alimentos, como:

  • Lavar bem com água corrente os alimentos antes do preparo: Segundo estudo publicado em 2014 na revista científica Food Additives & Contaminants, lavar os alimentos apenas com água já reduz em 60 a 70% os níveis de agrotóxicos nesses produtos.
  • Cozinhar adequadamente os legumes: Estudo publicado em 2010 no periódico Food and Chemical Toxicology indica que usar um método adequado de cozimento pode reduzir entre 10 a 80% a presença de agrotóxicos nos alimentos cozidos.

Ainda serão necessários alguns anos de pesquisa para saber o real impacto dos agrotóxicos no nosso organismo. Até lá, vale a pena investir em alimentos mais saudáveis e produzidos sem o uso abusivo dessas substâncias para evitar as doenças causadas por agrotóxicos nos alimentos que vimos acima.

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