A região Nordeste vem se destacando no cenário nacional, sendo considerada por alguns especialistas a nova fronteira do leite no país
Entre os anos de 2005 e 2008, o Nordeste apresentou o segundo maior crescimento do país, ficando atrás apenas da região sul, tendência que se mantêm nos dias atuais. As adversidades climáticas, marcadas por má distribuição de chuvas e falta de grandes áreas adequadas à agricultura, restringem a utilização da terra, sendo a pecuária uma alternativa de menor risco.
No contexto da produção de leite, existe, nesta região, um grande potencial para a produção de alimentos, principalmente devido às altas temperaturas e luminosidade durante grande parte do ano, o que favorece crescimento de forrageiras tropicais.
No entanto, grande parte da produção ainda está concentrada em áreas do semiárido, que hoje corresponde a 53% do território do nordeste. Esta região é caracterizada pela irregularidade de chuvas, com precipitações anuais médias que giram entre 500 e 1000 mm, com grandes extensões abaixo de 700 mm, inviabilizando ou comprometendo a produção de forragens ou grãos.
Diante desta realidade, surgem alguns questionamentos: Conseguimos manter boas médias de produção por vaca ou por área, em regiões onde a cana-de-açúcar ou o milho para silagem não se adaptam às condições climáticas? Nestas condições, não existiria uma dependência por compra de grãos que inviabilizaria os projetos? É possível produzir leite de maneira competitiva nestas regiões?
A resposta é sim! Exemplos disso estão nos números de produtividade de rebanho alcançados em estados como Alagoas e Pernambuco, que evidenciam o potencial destas regiões. E com certeza, um dos grandes diferenciais está na utilização da palma forrageira na alimentação dos rebanhos.
Potencial da palma
Quando se fala em alimento de alta qualidade para vacas leiteiras, temos como referência os volumosos tradicionalmente utilizados em várias regiões do Brasil, como a cana-de-açúcar, silagem de milho e silagem de sorgo. E qual seria o grande diferencial destas forrageiras? O grande potencial de produção de matéria seca e energia por hectare, além da boa disponibilidade dos seus nutrientes.
Surpreendentemente, a palma apresenta todas estas características e com o grande diferencial de estar muito bem adaptada às condições climáticas do semiárido, graças aos seus mecanismos fisiológicos que a tornam muito menos dependente de água. Em situações de manejo intensivo, a palma forrageira pode alcançar produtividades de matéria seca e de energia por hectare ainda maiores do que a cana-de-açúcar e a silagem de milho, se tornando uma opção de alimento muita estratégica em algumas regiões.
Diminuição dos custos alimentares
Em tempos onde o preço dos insumos alimentares como milho, soja, casquinha de soja e polpa cítrica apresentam variações constantes e são extremamente dependentes do mercado (commodities), um dos grandes desafios é conseguir fornecer ao animal o nível adequado de energia (CNF – carboidratos não fibrosos) na forma de amido ou outros constituintes, sem que o custo da dieta extrapole o orçamento e as metas de margens de lucro da propriedade.
Dentro deste contexto, a palma tem papel fundamental, uma vez que sua inclusão diminui a dependência de concentrados energéticos, além de seu custo de matéria seca ser menor do que outros alimentos, contribuindo significativamente na redução das despesas com alimentação (R$/Litro de Leite).
Tudo isso é possível pelo fato da palma, apesar de ser considerada um volumoso, apresentar, em sua constituição, grande porcentagem de carboidratos não fibrosos (CNF), constituído por açucares, amido, ácidos orgânicos e pectina, que são rapidamente disponibilizados para a fermentação ruminal.
Quais cuidados devemos tomar?
Fornecer uma fonte de fibra na dieta (Balancear FDN – fibra em detergente neutro). A palma apresenta características de um alimento concentrado, com baixo teor de fibra alto conteúdo de carboidrato não fibroso, além de pouca capacidade de estimular a ruminação.
Mas CUIDADO: a utilização exclusiva de palma pode levar a problemas como o timpanismo (empazinamento), diarreia, diminuição da gordura do leite, acidose metabólica, diminuição do consumo de matéria seca e perda de peso.
Portanto, a escolha do volumoso que deverá ser associado à palma deve levar em consideração o equilíbrio entre o carboidrato fibroso e não fibroso.
Fornecer fonte de proteína. A palma apresenta baixo teor de proteína, necessitando de complementação proteica vinda de alimentos como soja, ureia, torta e caroço de algodão, cevada, do próprio volumoso, dentre outros.
Quantidade de palma oferecida
Esse é um dos grandes questionamentos dos produtores que utilizam palma nos seus rebanhos. No entanto, o mais importante não é a quantidade a ser fornecida, e sim como está sendo fornecida, principalmente com relação ao consórcio com outras fontes de fibra e o equilíbrio entre carboidrato não fibroso e fibra efetiva (FDN).
Trabalhos mostram consumo de matéria seca variando entre 1,1 a 1,8% do peso vivo para vacas em lactação, ou seja, uma vaca de 500 Kg consumiria entre 5,5 e 9 Kg de matéria seca de palma forrageira, ou um consumo entre 42 e 90 Kg de matéria natural. Nestes experimentos, mesmos com altos consumos (90 Kg de palma), não ocorreram problemas de diarreia nas vacas. Em contrapartida, vacas que consumiram 60 Kg apresentaram algum problema, evidenciando que os malefícios causados pelo fornecimento de palma forrageira não estão relacionados ao alto teor de umidade da palma e sim ao balanceamento da dieta.
A utilização da palma já é uma realidade em várias regiões do semiárido brasileiro. No entanto, paradigmas, conservadorismo e falta de adoção de tecnologias inibem a expansão deste alimento para outras regiões.
O conhecimento do real potencial da palma e sua correta utilização através das adequações de fibra e proteína na dieta são de extrema importância a fim de explorar todo o potencial deste alimento.
É importante salientar que os baixos custos da tonelada são conseguidos a partir de sistemas intensivos de plantio, nos quais se alcançam produtividades maiores que 400 toneladas por hectare. Portanto, pensar que a palma é uma cactácea pouco exigente em fertilidade é um grande erro e a escolha de solos férteis, adubações (orgânica e química) e irrigação devem ser levadas em consideração, uma vez que apresentam excelente resultado.
Para as questões relacionadas à quantidade para a alimentação, o ideal é consultar um veterinário ou zootecnista. Não faça nada sem a orientação de um profissional.
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