Entre produções industriais e artesanais, o país conta com 30 mil fabricantes de cachaça! É um setor muito importante pois gera emprego e renda para um número significativo de pequenos e médios produtores rurais e suas famílias.
Para se ter uma ideia, os alambiques distribuem para consumo, em média, 11 litros/ano por pessoa. Com esse nível de produção, os produtores devem estar atentos no impacto ambiental que a atividade provoca e na necessidade de valorizar seu produto ante o consumidor.
O alambique sustentável
A produção sustentável é a saída. Focados em diminuir o desperdício de recursos naturais e economizar, produtores fazem das práticas sustentáveis um diferencial.
Analise as dicas a seguir e avalie como aplicá-las no seu alambique para que sua produção se adeque às boas práticas de sustentabilidade.
Vinhoto – O que fazer com ele?
O vinhoto é o resultado final da cadeia produtiva da cachaça. É rico em nutrientes, como cálcio e potássio, e um ótimo adubo, que pode ser utilizado em várias atividades agrícolas ou mesmo na alimentação animal.
ATENÇÃO! Não utilize o vinhoto indiscriminadamente. Feita de forma errada, a adubação com vinhoto pode causar graves impactos ambientais, poluindo águas e solo.
LEMBRE-SE! Confira na Secretaria do Meio Ambiente da sua região quais são as normas técnicas que definem a melhor utilização do vinhoto e visam impedir a poluição das águas. Cada local tem parâmetros diferentes.
Fermentação – Quais cuidados devem ser tomados?
O fermento ou “pé-de-cuba” é um conjunto de micro-organismos utilizado na fermentação da cana-de-açúcar. Ele pode ser reutilizado várias vezes, mas é necessário que se tome cuidados especiais.
Comece certificando-se que as leveduras tenham características mínimas que garantam a sua qualidade. São elas:
- velocidade de fermentação,
- tolerância ao álcool,
- rendimento,
- resistência e
- estabilidade.
Com as especificações técnicas de qualidade, é possível conservar o pé-de-cuba e reduzir significativamente o gasto com a compra de novas leveduras.
Durante a produção de cachaça, preocupe-se com os seguintes procedimentos:
- Correto tratamento do caldo e preparo do mosto.
- Quantidade adequada do fermento.
- Controle adequado da temperatura.
- Uso correto de antissépticos e antibióticos.
- Ventilação adequada da sala.
- Acesso restrito de pessoas que não estejam trabalhando na produção.
- Limpeza dos equipamentos.
Sem esses cuidados, é possível que haja contaminação de outras bactérias, gerando fermentação indesejada e consequente desperdício.
Envelhecimento – Usando madeiras nacionais.
A produção de cachaça sustentável tem muito a ganhar com a utilização de madeira oriunda do Brasil para o processo de envelhecimento, feito em barris.
O mais comum é utilizar o carvalho, que não é nativo do país. Mas o uso de jequitibá-rosa ou cerejeira evita a necessidade de importação, além de diminuir a acidez da bebida.
Outras madeiras brasileiras que podem ser aplicadas no envelhecimento da cachaça:
- Araruva (Centrolobium tomentosum)
- Amendoim (Pterogyne nitens)
- Cabreúva ou bálsamo (Mycrocarpus frondosus)
- Grápia (Apuleia leiocarpa)
- Castanheira (Bertholletia excelsa)
- Ipê-roxo (Tabebuia heptaphylla)
Uma alternativa ainda mais sustentável é plantar as madeiras na propriedade ou mesmo fomentar o plantio das espécies utilizadas na região de produção do aguardente, de acordo com as características ecológicas de cada espécie arborícola utilizada (adaptação da espécie à região), o que diminui o impacto ambiental e ainda é mais barato do que comprar de regiões longínquas.
Água – Uso e reuso racionais
O uso desse recurso natural deve ser cuidadoso, a fim de evitar grandes desperdícios, ruins tanto para a conta de água quanto para o meio ambiente.
Conheça duas dicas para economizar água:
- Reutilize a água aplicada na lavagem de vasilhames e em outros equipamentos. Misturada ao vinhoto, ela pode ser usada para regar canaviais. Evite, porém, utilizar esses resíduos em plantações de frutas e legumes ou perto de afluentes.
- Armazene e reaproveite a água de resfriamento e o condensado de caldeira. Como não contém poluentes, essa água pode ser utilizada para vários fins, desde a irrigação até a lavagem das dependências do alambique. Se for devolver ao curso do rio, não deve alterar a temperatura da água em mais de 3ºC.
Bagaço da cana – Reúso gerando economia.
Por fim, não podemos nos esquecer do bagaço da cana-de-açúcar, outro resíduo da produção de cachaça que pode ser aplicado em vários lugares. Veja só:
- Combustível nas caldeiras e nos alambiques de fogo direto, que ainda geram cinzas ricas em silício e potássio e podem ser utilizadas como fertilizante químico nas lavouras.
- Alimentação animal, que, depois de algumas análises e correções, pode oferecer os nutrientes necessários a baixo custo.
Produção de cachaça sustentável traz benefícios
Listamos algumas das principais ações que fazem do seu alambique uma empresa mais sustentável e economicamente mais rentável. Outras atitudes do dia a dia, como separação de resíduos para reciclagem (como garrafas e tampas) e o uso de combustíveis renováveis, como a biomassa, também podem agregar mais à produção.
O alambique orgânico
Há uma grande diferença entre ser sustentável e ser orgânico!
Além de tudo o que foi citado anteriormente, a produção de cachaça orgânica exige que o produtor tenha em mãos o Certificado de Autorização de Produção de Alimentos Orgânicos.
Confira cinco normas para que a produção de pinga artesanal seja considerada orgânica:
- A cana-de-açúcar utilizada na produção de cachaça artesanal deve ser cultivada sem o uso de agrotóxicos ou produtos químicos e colhida sem a queimada das palhas;
- Para o controle de pragas, fazer o uso de forma biológica, com predadores naturais, como as vespas Cotesia flavipes para combater a broca;
- Usar apenas ingredientes orgânicos no processo de produção; por exemplo, as leveduras;
- A fermentação deve ser feita apenas com o uso de fermentos exclusivamente naturais. Durante a fermentação, também utilizar apenas ingredientes orgânicos, como o suco de limão para corrigir a acidez do mosto;
- Evitar o uso de veículos motorizados no corte e no transporte da cana, pois a queima de combustível pode afetar a qualidade da haste. Além disso, causa poluição ao planeta.
Mercado de cachaça orgânica
O mercado de orgânicos em geral está ganhando espaço nas prateleiras de supermercados e empórios. Os consumidores estão cada vez mais ávidos por produtos naturais e produzidos com sustentabilidade, bem-estar animal e com relevância social. Empresas que produzem com sustentabilidade têm maior valor agregado e se destacam na hora do cliente decidir qual marca levar pra casa.
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