De acordo com o Panorama Agrícola 2020-2029, desenvolvido pela Organização para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU) e pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o número de pessoas que passam fome no fundo elevou-se em 60 milhões nos últimos anos, alcançando 690 milhões de pessoas, em 2019. Com a pandemia, estimam que esse número possa aumentar de 80 a 130 milhões em 2020, chegando, portanto, a 820 milhões de famintos no mundo. Algo como quatro vezes a população do Brasil, ou seis vezes a do México, ou dez a da Argentina. É muita gente. Sinal de que vai ser preciso robustecer a segurança alimentar mundial, nos próximos anos.
Para isso, se diz que o mundo vai precisar de melhores políticas agrícolas, mais inovação e investimentos para construir sistemas de agricultura mais produtivos e dinâmicos. Tudo isso o Brasil já tem ou está em boa posição para conseguir, justo na faixa tropical do planeta, de onde deve sair grande parte dos alimentos para a segurança alimentar mundial. E, se o futuro está nos trópicos, há outra oportunidade para o país na difusão e venda de tecnologias agrícolas. Isto porque o Brasil fez verdadeira revolução agrícola a partir dos anos 1970/80, criando tecnologias de produção para o ambiente tropical, que estão na raiz da explosão agrícola brasileira: de 1977 a 2020, por exemplo, nossa produtividade de grãos mais que triplicou, enquanto a área plantada nem chegou a dobrar.
São vantagens comparativas sólidas para o país, que fortaleceu ainda mais o seu conceito como fornecedor de alimentos estratégico e confiável durante a pandemia, inclusive atendendo protocolos sanitários de exigentes clientes internacionais. A essa altura, é até bom se perguntar: o que ganha o mercado nacional, o consumidor brasileiro, com todo esse protagonismo do país na produção alimentar internacional? Ganha, por exemplo, em qualidade, pois o país vende alimentos para os mercados mais exigentes do mundo e, hoje, já é uma realidade agricultores avançados adotarem certificações de produtos e processos, ou seja, estão atuando com padrões produtivos acima da legislação.
A hegemonia internacional do nosso agro também foi favorável ao orçamento das famílias. No início dos anos 1990, os alimentos representavam cerca de 40% das despesas de famílias com orçamento domiciliar de dois a três salários mínimos e, em 2018, essa proporção havia caído para 21%, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento da produção e da produtividade da agropecuária brasileira tornou o alimento mais barato, liberando recursos das famílias para outros tipos de consumo, com reflexos positivos em outros setores da economia.
Agronegócio é convergência. Um mercado interno de mais de 200 milhões de pessoas é base de confiança para desenvolver um agro robusto e investir continuamente em sua evolução. Hoje, o campo brasileiro está passando às mãos da terceira ou quarta geração dos ousados agricultores que fizeram aquela revolução agrícola 40, 50 anos atrás. E tudo indica que estão repetindo aquela onda inovadora, só que agora com 4G, sensores, internet das coisas e bioeconomia, unindo produtividade, tecnologias de vanguarda, planejamento ousado e um instinto de competitividade herdado de pais e avós. A revolução agrícola dos trópicos continua.
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