Secretaria de Agricultura de São Paulo orienta pecuaristas e desenvolve estudos para controle do carrapato com o uso de produto natural e controle biológico
Os carrapatos apresentam ampla distribuição no Brasil, com diversas espécies descritas até o momento, afetando tanto os animais de companhia quanto os animais de produção. Entre as espécies que afetam os animais, o carrapato-estrela ou carrapato-do-cavalo (Amblyomma cajennense) é muito conhecido pela população rural, por apresentar baixa seletividade quanto aos seus hospedeiros, parasitando outros animais, como cachorros e capivaras e até mesmo o ser humano.
No entanto para a bovinocultura, em especial a leiteira, o mais problemático dos carrapatos é o “carrapato do bovino” (Rhipicephalus microplus), figurando entre os principais ectoparasitas (parasitas externos) da cultura.
A bovinocultura de corte brasileira ainda é predominantemente composta por animais com elevado grau de sangue de linhagens zebuínas, com destaque para raça Nelore, geneticamente muito resistente às infestações por carrapatos. Já na leiteira, predominam animais mestiços oriundos de cruzamentos com linhagens taurinas, em especial da raça holandesa, mais sensíveis às infestações por carrapatos.
Por esse motivo, os carrapatos representam um grande desafio aos pecuaristas de leite, já que muitos são pequenos proprietários e têm na atividade leiteira a principal renda econômica da família e que pode ser drasticamente afetada por este parasita, trazendo prejuízos à saúde dos animais do rebanho e, consequentemente, “ao bolso” do produtor. Grandes infestações reduzem a capacidade de produção de leite e podem levar bezerros à morte por anemia. São danos econômicos, ambientais e à saúde dos animais e das pessoas que trabalham com eles.
Prejuízos
São pelo menos três os principais problemas decorrentes de uma alta infestação por carrapatos na bovinocultura leiteira. Primeiro, o próprio hábito hematófago do carrapato, que pode causar uma perda constante de sangue, além da alta infestação, em especial em bezerros, o que pode levar à anemia e à morte. Isso por si só já é um grande problema. Segundo, é o processo alérgico, que causa incômodo severo, impedindo o animal de se alimentar e, como consequência, há perda da capacidade leiteira. Por sua vez, a irritação na pele do animal pode promover feridas, as quais se tornam porta de entrada para outros parasitas e bactérias. Terceiro, o carrapato é transmissor da Babesia bovis, Babesia bigemina e do Anaplasma marginali, que são parasitas de hemácias.
Além desses três maiores prejuízos diretos ao pecuarista, ocorrem na esteira prejuízos na indústria do couro.
As lesões, oriundas da coceira e de sangramentos, favorecem a postura de ovos de larvas de moscas, como as varejeiras, causando as conhecidas bicheiras (miíase), que além de causarem dor e desconforto ao animal, após a sua morte, leva a grandes perdas no processamento do couro.
Outro problema decorrente é a contaminação do leite em função do uso equivocado de carrapaticidas, que expõe os produtores e/ou funcionários à inalação do produto. Portanto, as Boas Práticas Agropecuárias devem ser sempre seguidas, entre elas o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e, principalmente, obedecer a indicação e a quantidade corretas do produto.
Normalmente, a recomendação na embalagem é a diluição em quatro a cinco litros de calda por animal; como a maioria das bombas costais usadas pelos pecuaristas tem capacidade para 20 litros, então uma bomba pulveriza quatro ou cinco animais. Mas, na tentativa de economizar, muitas vezes o produtor usa 20 litros para pulverizar de 15 a 20 animais. Ao fazer isso, não acabará com a infestação, pois terá apenas feito uma ‘nebulização’ nos carrapatos. Os carrapatos não irão morrer, mas no contato com o carrapaticida aquela cepa começa a desenvolver resistência ao princípio ativo. Na próxima vez, o pecuarista usará mais produtos ou fará mais pulverizações, em um ciclo constante, interminável, prejudicial e caro.
Há, ainda, outro fator que tem influência na maior infestação por carrapatos, e ocorre quando há um melhoramento genético do rebanho. O motivo é que o gado misto tem o componente das raças zebuínas, mais resistentes ao carrapato. Quando se usa a genética taurina, como a holandesa ou outras raças europeias para o aumento da produção de leite, é introduzido um “sangue mais doce”, ou seja, mais propício aos carrapatos, aumentando, dessa forma, as infestações. O produtor, ao melhorar a genética, deve estar atento a este fato para se antecipar ao problema e fazer o controle adequado.
Capacitar os produtores e fazê-los compreender o ciclo biológico e a aplicação correta de produtos, nas épocas adequadas, tem sido o maior desafio da extensão.
Métodos de controle
- Os banhos carrapaticidas devem ser feitos de acordo com a indicação da bula e em todo o corpo do animal, mesmo nas partes mais escondidas e no sentido contrário do pelo, de baixo para cima, próximo ao corpo do animal e contra o vento. O animal deve ser contido para um banho mais adequado.
- As pulverizações, de cinco a seis, devem ser feitas em intervalos de, no máximo, 21 dias, para quebrar o ciclo no animal e diminuir a infestação futura nas pastagens. Há outros produtos, como os injetáveis, mas não são indicados para vacas leiteiras.
- Evitar os horários de sol, dar preferência ao final da tarde, para não haver perda de produto.
- Após o tratamento, a infestação irá diminuir de forma considerável, porém muitos animais podem continuar infestados, principalmente aqueles que têm “sangue doce”, na verdade, sangue europeu. Esses animais devem ser separados para continuar o tratamento.
- Fazer os testes de resistência a carrapaticidas. Como os carrapatos vivem em uma única área, o mesmo carrapaticida que serve ao vizinho pode não ser o mais adequado para o rebanho do outro. É preciso saber qual o melhor carrapaticida para aquela situação específica. Os testes podem ser feitos em empresas e/ou faculdades; a Embrapa Gado de Leite, em São Carlos, realiza os testes gratuitamente.
- Usar os carrapaticidas nas épocas mais adequadas. A época mais adequada é aquela em que os fatores de temperatura e umidade forem desfavoráveis aos micuins. O clima seco e quente é o ideal para o controle porque as larvas não sobrevivem muito nessas condições. No Estado de São Paulo, essa condição é bastante variável de uma região para outra, então é preciso estar atento para esse fator que irá, com certeza, contribuir para a erradicação ou redução dos carrapatos nos animais e, consequentemente, nas pastagens.
Assista aos vídeos sobre o controle de carrapatos:
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