Níveis de gases de efeito estufa na atmosfera já são altos o suficiente para destruir o clima por décadas, senão séculos
O painel da ONU sobre mudança climática soou um alerta terrível na segunda semana de agosto, dizendo que o mundo está perigosamente perto de um aquecimento fora de controle, e que os humanos são “inequivocamente” os culpados.
Os níveis de gases de efeito estufa na atmosfera já são altos o suficiente para garantir a destruição do clima por décadas, senão séculos, alertaram os cientistas em um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Além disso, as ondas de calor letais, os furacões gigantescos e outros eventos climáticos extremos que estão acontecendo agora provavelmente se tornarão mais severos.
Descrevendo o relatório como um “alerta vermelho para a humanidade”, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu o fim do uso do carvão e de outros combustíveis fósseis altamente poluentes.
“Os alarmes são ensurdecedores”, segundo Guterres no comunicado. “Este relatório deve soar como uma sentença de morte para o carvão e os combustíveis fósseis, antes que destruam nosso planeta.”
O relatório do IPCC chega apenas três meses antes de uma grande conferência climática da ONU conhecida como COP26 em Glasgow, na Escócia, onde as nações estarão sob pressão para prometer ações climáticas muito mais ambiciosas e financiamento substancial para acompanhá-las.
Baseando-se em mais de 14.000 estudos científicos, o relatório oferece a imagem mais abrangente e detalhada de como a mudança climática está alterando o mundo natural – e o que ainda pode estar por vir.
A menos que ações imediatas, rápidas e em grande escala sejam tomadas para reduzir as emissões, diz o relatório, a temperatura global média provavelmente ultrapassará o limite de aquecimento de 1,5 ºC nos próximos 20 anos.
Até agora, as promessas das nações de reduzir as emissões têm sido insuficientes para reduzir o nível de gases de efeito estufa acumulados na atmosfera.
As emissões “inequivocamente causadas por atividades humanas” já elevaram a temperatura média global em 1,1 °C em relação à média pré-industrial, e a teriam aumentado mais 0,5 °C sem o efeito moderador da poluição na atmosfera, diz o relatório.
Isso significa que, mesmo que as sociedades se afastem dos combustíveis fósseis, as temperaturas aumentarão novamente pela perda desses poluentes transportados pelo ar.
Cientistas alertam que um aumento de mais de 1,5 °C acima da média pré-industrial poderia desencadear uma mudança climática descontrolada com impactos catastróficos, como um calor tão intenso que as pessoas morreriam apenas por estar ao ar livre.
Qualquer aquecimento adicional também aumentará a intensidade e a frequência de extremos de calor e chuvas fortes, bem como de secas em algumas regiões. Como as temperaturas variam de ano para ano, os cientistas medem o aquecimento climático em termos de médias de 20 anos.
“Temos todas as evidências de que precisamos para mostrar que estamos em uma crise climática”, disse Sonia Seneviratne, três vezes coautora do IPCC e cientista climática da ETH Zurich.
Alerta para o Brasil
O Observatório do Clima classificou o relatório do IPCC como “arrepiante” para os governos do mundo inteiro. “A linguagem do relatório é muito forte e reflete o sólido consenso científico sobre o problema. O IPCC diz claramente que é inequívoca a interferência humana no clima. Não é mais um debate sobre se as ações humanas dão causa à crise climática, mas do quanto”, diz Stela Herschmann, especialista em Política Climática do Observatório do Clima.
Segundo a organização, o Brasil deve chegar à COP26 ainda mais pressionado. “Os resultados do IPCC implicam que a redução drástica do desmatamento na Amazônia será um elemento essencial da conta da estabilização do clima nos próximos anos. Para azar da humanidade, o presidente do Brasil é Jair Bolsonaro, que quer ver a floresta no chão. Para azar de Bolsonaro, os brasileiros e o resto do mundo não vão aceitar isso calados”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.