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Como sobreviver ao período de seca

Agricultor pisando com suas botas de borracha sobre o solo esturricado
O fenômeno tem chegado a lugares que antes nunca tinham experimentado
 
O período de seca ou a estiagem prolongada são verdadeiros pesadelos para o produtor rural.
 
No entanto, vale lembrar que a seca nem sempre é uma característica de uma região específica. O Nordeste, por exemplo, é uma área muito conhecida pela forte estiagem, principalmente pela ausência de umidade. Mas esse fenômeno tem chegado a lugares que antes nunca tinham experimentado tão longos períodos sem chuvas.

Má notícia: não existem soluções para evitar esse fenômeno!
 
Boa notícia: há iniciativas que ajudam os agricultores a lidar com esse cenário e resistir.

Há como prever esses períodos?

Apesar do avanço da tecnologia, os especialistas não conseguem prever com exatidão a ocorrência de períodos de estiagem além de 90 dias. No entanto, existem métodos que ajudam os governos e a população a estar preparados e assim reduzir o impacto no agronegócio. Os dois mais reconhecidos para a previsão de seca são:
  • estatísticos: se baseiam no estudo da interação oceano-atmosfera, fenômeno que é o maior responsável pela variação climática;
  • dinâmicos: se baseiam em modelos de circulação atmosférica global, que funcionam com base nas diferenças entre pressão e temperatura e movimenta o ar ou massas de ar.

Então, como lidar com o período de estiagem?

Plantio de culturas adaptadas e resistentes. Devido às dificuldades na coleta de água, muitos produtores apostam em plantas regionais, que são mais resistentes ou tolerantes aos períodos de estiagem. Entre essas culturas, estão a acerola, o sorgo, o umbu, a palma forrageira e o caju. Essas plantas produzem bem mesmo em condições mais adversas, contribuindo para boas safras em período de seca.

Rotação de culturas. O esquema de rotação de culturas é uma estratégia sustentável não só para reduzir a erosão do solo e elevar a produção, mas também para ajudar o agricultor a conviver com a seca.

Trata-se de uma técnica de alternância de plantio de diferentes tipos de plantas em determinado local e em um período específico. É diferente da sequência de culturas, na qual se utiliza apenas um tipo de vegetação na área total do terreno. Na rotação, por sua vez, cultivam-se diferentes culturas em um mesmo espaço.
 
Na prática, o terreno de plantio é dividido em um uma série de áreas separadas, onde as culturas de um mesmo tipo são plantadas juntas. Todos os anos, as plantas mudam de área, de forma que cada grupo obtém as vantagens do novo terreno.
 
A rotação com a cultura de milho, por exemplo, tem sido utilizada de forma estratégica nessas condições, uma vez que essa planta apresenta elevados níveis de nitrogênio e carbono, e produz uma grande quantidade de resíduos — mais de seis toneladas por hectare. Isso está diretamente ligado à técnica do plantio direto, que veremos a seguir.

Plantio direto. O plantio direto é uma técnica de cultivo do solo em que não se faz aração nem gradagem no plantio. Deixa-se a superfície do solo coberta por resíduos vegetais de palhada ou de plantas vivas.
O maior benefício dessa estratégia em relação à seca é a capacidade que o composto orgânico aplicado sobre o solo tem de reter água. Isso é muito importante porque, em regiões de altas temperaturas, os índices de transpiração dos vegetais e de evaporação da água do solo são muito altos. O resultado é a decomposição das raízes e a morte de microrganismos essenciais para o desenvolvimento da planta.
 
O plantio direto, por sua vez, é capaz de impedir que as temperaturas fiquem muito elevadas na superfície do solo, minimizando a evaporação da água e auxiliando a ação microbiana. A palhada, por exemplo, pode reduzir a temperatura em até 19oC na superfície.

Armazenamento de água. Para garantir o abastecimento ao longo do ano, é preciso armazenar água das chuvas de modo adequado. Existem diversos métodos para captar e depositar os recursos hídricos na propriedade e, entre os principais, encontramos os citados abaixo.

Cisterna calçadão
É formada por um calçadão de cimento em uma área de uns 200m², de modo que a água que cai sobre essa superfície é direcionada para o interior de uma cisterna enterrada ou construída em um terreno mais baixo. 

Cisterna enxurrada
Funciona de modo similar à cisterna calçadão. Ela é construída enterrada na terra, apenas com a cobertura para fora, em forma de cone. A zona de recolhimento de água é o próprio terreno. No entanto, quando chove, antes de a água escoar para o interior da cisterna, ela passa por cerca de três caixas pequenas, onde ocorre um processo de decantação para retirar as impurezas.

Barragens subterrâneas
São construídas em terrenos onde se formam córregos ou riachos no inverno. É feita por meio de escavação de uma vala até a parte impermeável do solo. Após isso, forra-se uma lona de plástico e fecha-se a vala. Essa barreira prende a água da chuva que escoa no subterrâneo. Dessa forma, o solo fica encharcado. Daí, então, constroem-se poços a cerca de 5 metros de distância — que podem ser do tipo cacimba ou tubulares — para armazenar a água da barragem.

Poços
Existem diversos tipos de poços, que variam conforme o método de escavação, profundidade e material utilizado. Entre os principais estão:

  • cacimba ou poços amazonas: escavados manualmente e, devido à sua pouca profundidade, não exige licenciamento do governo;
  • poço tubular profundo: com diâmetro entre 4 e 36 polegadas e profundidade podendo chegar aos 2 mil metros, é feito por meio de uma sonda perfuratriz e exige autorização governamental.

Uso de tecnologias e técnicas de plantio. Para lidar com a estiagem, o produtor pode empregar outras formas de plantio ou algumas soluções tecnológicas que economizam água e auxiliam no planejamento da cultura.

Captação direta no pé da planta
Também chamada de captação in situ, o método envolve a aração do solo em faixas para formar sulcos, que ficam dispostos ao longo de faixas de terras altas e largas (camalhões), onde as plantas são cultivadas. A água da chuva é captada e armazenada nesses sulcos, reduzindo a necessidade de irrigação. 

Hidroponia
A hidroponia é o cultivo de plantas sem o uso de terra (solo), especialmente utilizado no plantio de hortaliças. O vegetal fica suspenso em uma estufa e imerso em uma solução nutritiva diluída em poucos litros de água. Cada pé de alface, por exemplo, demanda apenas 3 litros de água ao longo de todo o seu ciclo de produção — e a água ainda pode ser reaproveitada! A economia hídrica chega a 85%.

Agricultura de precisão
A agricultura de precisão (AP) emprega a tecnologia da informação na produção agrícola. Em suma, são utilizados diversos sistemas de hardware e software agregados às máquinas do campo para coletar e analisar dados do solo e do clima. Dessa forma, é possível automatizar etapas da produção e planejar o plantio e aplicação de pulverizadores agrícolas e adubos, entre muitas outras atividades.

No período de estiagem, a AP será útil pois terá contribuído para que o solo tenha seu valor nutricional bem equilibrado, fortalecendo a lavoura para enfrentar condições climáticas adversas, como as altas temperaturas e a falta de umidade.
Além disso, a agricultura de precisão mune o produtor com diversos recursos que o ajudam a se preparar melhor para futuras intempéries. Uma dessas ferramentas são os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) — ou Geographic Information System (GIS).
 
O SIG é constituído por uma série de componentes de hardware e aplicativos que coletam e fornecem dados espaciais sobre o clima e solo a fim de detectar tendências meteorológicas, como o período de seca, e avaliar como isso pode afetar a colheita.

Garantia Safra. O governo em seus diversos níveis tem ajudado os produtores rurais em épocas de estiagem por meio de programas de auxílio financeiro. Uma das principais iniciativas é o Garantia Safra. Trata-se de um benefício concedido a famílias que perderam pelo menos 50% da sua plantação em razão da seca ou de enchentes.
Esse auxílio é liberado somente a produtores rurais de cidades que tenham decretado calamidade pública ou estado de emergência resultantes desses problemas. Então, vale a pena avaliar se você tem direito a essa remuneração.
 
Todas essas técnicas e recursos formam uma infraestrutura adequada para lidar com o período de seca. Inúmeros produtores em todo o país têm sido bem-sucedidos por meio dessas práticas, apesar dos longos períodos de estiagem.
 
A tendência é que surjam cada vez mais iniciativas e tecnologias que amparem o produtor nessas situações adversas e, por isso, é fundamental que o empreendedor busque informações a fim de garantir a produtividade.

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