Símbolo brasileiro da conservação da biodiversidade
Hoje, dia 29 de novembro, é o Dia Nacional da Onça-pintada, símbolo brasileiro da conservação da biodiversidade. A possibilidade de festejar e atrair especial atenção para a espécie, em uma data comemorativa, foi concretizada a partir da Portaria do Ministério do Meio Ambiente (MMA) número 8 de 16 de outubro de 2018. O documento também reconhece a Panthera onca como símbolo brasileiro da conservação da biodiversidade.
Durante a Conferência das Partes (COP 14) da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), em 2018, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), as Ongs World Wildlife Fund (WWF), Wildlife Conservation Society (WCS), Panthera e representantes de mais 14 países onde a espécie é encontrada, lançaram o Plano de Conservação da Onça-Pintada para as Américas 2030 (Jaguar 2030 Conservation Roadmap for the Americas) e anunciaram a criação do Dia Internacional da Onça-Pintada (International Jaguar Day) que também será celebrado em 29 de novembro.
A data é importante para unir esforços em ações de divulgação sobre a importância ecológica, econômica e cultural da espécie. A data tem o objetivo de aumentar a conscientização sobre as ameaças enfrentadas pela espécie e intensificar os esforços de conservação para garantir sua sobrevivência. Além disso, pretende reforçar o papel do felino como espécie-chave – essencial para a manutenção de um ecossistema saudável – e, assim, construir a base para um futuro sustentável da vida silvestre e das pessoas.
A RuraltecTV já publicou um BlogFauna sobre esse belíssimo e importante animal. A onça é o maior felino das Américas, e por ser topo de cadeia alimentar e necessitar de grandes áreas conservadas para sobreviver, ocorre somente em áreas preservadas. O felino é encontrado em outros 17 países.
Por serem animais predadores, localizados no topo da cadeia alimentar, e necessitarem de grandes áreas preservadas para sobreviver, são consideradas indicador biológico de qualidade ambiental. A ocorrência desses felinos em uma região indica que ela oferece condições que permitam a sua sobrevivência.
Segundo a Avaliação do risco de extinção da Onça-pintada Panthera onca (Linnaeus, 1758) no Brasil, publicada na revista Biodiversidade Brasileira do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) a espécie ocorria em todos os biomas brasileiros, mas hoje está extinta nos Pampas, e é classificada como criticamente em perigo na Caatinga e na Mata Atlântica, em perigo no Cerrado e vulnerável no Pantanal e na Amazônia. Nos biomas em que ela se encontra mais ameaçada, a perda e fragmentação de habitat leva ao isolamento das populações. Não existem números oficiais sobre a quantidade de onças-pintadas no Brasil. Segundo o biólogo e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), Roberto Fusco, que há mais de 15 anos estuda o animal, o que há são estimativas, geralmente calculadas com base em informações muito localizadas e a partir de diferentes metodologias. “Existe uma extrapolação. Na Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga, por exemplo, a população provavelmente é menor que 300 indivíduos. Já no Pantanal é inferior a mil, enquanto que na Amazônia é menos do que 10 mil”, explica o pesquisador.
Quando analisadas apenas as ocorrências do animal na Mata Atlântica, por exemplo, a espécie é classificada como criticamente em perigo, por já ter perdido 85% de seu habitat, ocupando apenas 3% da região. Dados da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam que o desmatamento no bioma cresceu 27,2% entre 2018 e 2019 na comparação com o período entre 2017 e 2018.
Na Caatinga, por sua vez, a onça-pintada também está criticamente em perigo, ocupando 19% do bioma. No Cerrado, está classificada como em perigo, ocupando 32% da savana brasileira. Já no Pantanal e Amazônia, onde existem as maiores populações, elas se encontram em situação vulnerável, em grande parte pela perda de indivíduos por retaliação e caça ilegal, além do avanço da agropecuária.
De forma geral, as principais ameaças à espécie continuam sendo a perda e a fragmentação de habitat, ocasionado pela expansão agrícola, que tem resultado na quebra de conectividade e no isolamento entre as populações de onças. Outro fator é a morte de indivíduos pela caça ilegal e pela retaliação por parte de proprietários rurais, devido à predação sobre rebanhos ou animais domésticos. A caça também impacta na redução da abundância das presas da onça, como antas e queixadas. Um outro fator que está contribuindo para o desaparecimento da espécie nos últimos tempos é que as onças-pintadas estão começando a ser um substituto para o osso de tigre com propósitos de medicina tradicional devido à aproximação do comércio asiático com a América Latina.
Durante o segundo semestre de 2020, os incêndios que atingiram o Pantanal, destruindo lugares como o Parque Estadual Encontro das Água, que concentra a maior população de onças-pintadas no mundo, colocou mais pressão sobre o status de conservação da espécie no bioma.
ESFORÇO DE CONSERVAÇÃO
Em razão do declínio populacional das onças-pintadas, cada vez mais têm surgido projetos que buscam a conservação do animal. O desaparecimento desses predadores pode gerar impacto em todo o ecossistema, por meio de um efeito cascata, que começa com o aumento de suas presas, geralmente herbívoros, que por sua vez impacta a composição e estrutura da vegetação. Essa bagunça no ecossistema pode trazer efeitos imprevisíveis, como a perda de biodiversidade, alteração na composição do solo, aumento de espécies exóticas e até mesmo na liberação de patógenos, o que pode potencialmente afetar a saúde humana.
Assim, a espécie desempenha papel importante no ecossistema porque seleciona naturalmente as presas mais fáceis de serem abatidas (em geral indivíduos inexperientes, doentes ou mais velhos) fazendo o controle populacional, o que resulta em benefício para a própria população de presas. Porém, fazendeiros abatem esses predadores para proteger seus rebanhos. O desmatamento e a fragmentação do habitat são outras ameaças enfrentadas pela espécie que era encontrada dos Estados Unidos até a Argentina, mas perdeu mais de 50% de sua distribuição original. Hoje ela é considerada extinta em El Salvador, no Uruguai e provavelmente nos EUA.
O esforço integrado entre os países (Brasil, Argentina e Paraguai) tem resultado na recuperação da população de onças pintadas no chamado Corredor Verde, região que compreende a bacia do Alto Paraná. O número de onças no Corredor saltou de uma população efetiva estimada em 50 indivíduos em 2008 para os atuais 100 indivíduos, o que significa uma grande conquista. A meta, segundo o Centro Nacional de Pesquisas e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), do ICMBio, é atingir 250 indivíduos até 2030.
Além das áreas de proteção para as onças, é desenvolvido o Projeto Onças do Iguaçu, que tem como missão conservar a onça-pintada como espécie-chave para a manutenção da biodiversidade da região do Parque Nacional do Iguaçu, administrado pelo ICMBio. A equipe estuda o deslocamento, comportamento, dieta das onças e monitora os animais por meio de armadilhas fotográficas. Também atua junto à comunidade levando e obtendo importantes informações para a convivência harmoniosa entre pessoas e onças.
Muitas outras ações têm ajudado na conservação das onças-pintadas no Brasil. Preservar a onça-pintada exige medidas efetivas de combate à caça ilegal e de preservação ao seu habitat natural, que já soma 50% de perda ao longo de sua distribuição pelo continente americano – o único onde ela pode ser encontrada.
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