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Hoje é Dia do Homem Pantaneiro, o guardião do Pantanal

Homem pantaneiro no seu cavalo
O Pantanal sofre. O pantaneiro sofre
  
Numa época em que vemos um dos mais importantes e ameaçados biomas do planeta em chamas, sofrendo com uma severa estiagem e por atos criminosos que devem ser investigados e punidos severamente, tendo seus animais mortos pelas chamas ou pela sede, muitas propriedades rurais arrasadas, temos que fazer uma reflexão não só pelas condições catastróficas por que passa o Pantanal, mas principalmente por aquele que vive para protege-lo e dele tirar seu sustento.

O Pantanal sofre. O pantaneiro sofre. A região vive sua pior tragédia ambiental das últimas décadas. A degradação criminosa do bioma provoca estiagem histórica, e o menor nível do rio Paraguai dos últimos 50 anos.
 
Um dos fatores associados à falta de chuva no Pantanal e em outros biomas brasileiros é a degradação da Amazônia. Segundo pesquisadores, com a aceleração do desmatamento da Amazônia, ao longo dos anos, o período de chuvas tem encurtado e as secas se tornaram mais severas na região central e sudeste do país. A realidade da seca no Pantanal se torna ainda mais complicada devido a uma situação recorrente na região: a expansão do desmatamento no bioma e em seu entorno.
De acordo com o Inpe, até o ano passado foram desmatados 24.915 km² do Pantanal, correspondente a 16,5% do bioma. O número equivale, por exemplo, a pouco mais de quatro vezes a área de Brasília.
 
Um levantamento do Ministério Público de Mato Grosso do Sul apontou que cerca de 40% do desmatamento na área do Pantanal do Estado podem ter ocorrido de forma ilegal, pois não foram identificadas autorizações ambientais.

Ainda segundo pesquisadores, a principal causa da expansão do desmatamento no Pantanal é o crescimento da agricultura predatória na região, aquela agricultura que aqui na RuraltecTV consideramos que não tem nada de pop. A situação da maior área úmida contínua do planeta é dramática e, consequentemente, de sua gente.

O Dia do Pantaneiro

Em meados dos anos de 1980, a Sociedade de Defesa do Pantanal (Sodepan), criada numa fase mais aguda do contrabando de peles de jacarés, iniciou um movimento para resgatar as tradições pantaneiras. Nasceu o “Dia do Homem Pantaneiro“, 4 de outubro, celebrado pela primeira vez na centenária fazenda Rodeio, Nhecolândia, em Corumbá, em Mato Grosso do Sul. Essa região de planície é um dos primeiros centros criatórios de bovinos pós-Guerra do Paraguai.

Nesse encontro dos pantaneiros, foi inaugurado um monumento aos pioneiros com a seguinte frase do pecuarista e escritor Gabriel Vandôni de Barros, o Doutor Gabi: “Destes campos partiu o esforço mais vigoroso e perseverante pelo desenvolvimento da pecuária mato-grossense. E ao surgir a expansão do criatório para o extremo Norte de Mato Grosso e toda a região amazônica, é sobretudo na Nhecolândia que os novos pioneiros vieram encontrar as matrizes, já com alto índice de aprimoramento genético, para a multiplicação dos rebanhos brasileiros”.
 
O homem pantaneiro adaptou-se às condições excepcionais do Pantanal, enfrentando seca e cheia, tal qual a raça rústica do cavalo pantaneiro, e hoje questiona-se a perda da cultura e êxodo rural com as mudanças introduzidas por fazendeiros de fora do bioma. Corumbá é o município que detém 44% do território do ecossistema brasileiro.

O Pantaneiro

O homem pantaneiro tem em sua formação a presença do índio em todas as suas características. É um povo que vive da natureza com os elementos, terra e água, e agora fogo e seca, cujas limitações imprimem à sua vida uma forma integrada e bem diferenciada dos outros povos. Um estilo de vida aparentemente duro e difícil para quem não está habituado com aquele modo de viver. Entretanto, com o tempo passou a ser parte intrínseca do seu meio, onde convive em harmonia com a natureza, com a família e consigo mesmo.

O homem do campo, como também é chamado pelos habitantes locais, entende os fenômenos naturais sem mesmo nunca tê-los estudado em escola formal. Sabe quando plantar, quando colher, quando apartar o gado. Mas o que se pode ver é que a intromissão da tecnologia atrapalha o seu modo de ser porque o meio ambiente obedece ao ritmo de viver do homem. Prova disso são as novas estradas, os desmatamentos, até mesmo os caminhões que transportam o gado de fazenda a fazenda, ou da área rural para a urbana para minimizar o tempo gasto no transporte das boiadas, pois acaba lhes tirando a mão-de-obra. A modificação leva para o extermínio do viver e a ecologia nunca mais será a mesma.

O patrimônio inerente a este espaço natural exige sua identificação e sua manutenção dentro de sua característica. A violação destrói a sua cultura tentando impor outra que não a sua própria. O viver na imensa área do Pantanal, com suas adversidades não apresenta nenhuma dificuldade, nem rusticidade, porque já está acostumado com isso. Afinal de contas, já nasceu ali, cresceu ali e convive ali. Convivendo na realidade de uma região inóspita, tem como meio de transporte mais utilizado o cavalo pantaneiro, resistente ao trabalho dentro d’água, e as embarcações de variados tamanhos e tipos.

Distante dos recursos das cidades, o homem do Pantanal aprendeu a retirar do ambiente que o cerca as substâncias especiais para utilização medicinal, herança dos índios – antigos habitantes – e dos povos vizinhos como os paraguaios e bolivianos. Peão ou fazendeiro, integrado a tudo que o rodeia, sabe que as ações da natureza, enchentes e secas, são responsáveis pela riqueza e vida no Pantanal. As distâncias e o difícil acesso às demais regiões fizeram-no acostumar-se ao isolamento e à solidão, o que é quebrado quando ele manifesta o sentimento de cooperação no manejo do gado ou na participação de festas tradicionais em fazendas vizinhas.

Sustentabilidade

O homem está ali há pelo menos 250 anos, vivendo em harmonia com a natureza. O primeiro registro oficial de atividade pecuária data de 1737, fato que deveria ter conduzido o Pantanal a se tornar uma área com marcante ação antrópica, observa Urbano Gomes, pesquisador da Embrapa Pantanal. “Então, como explicar uma região, a maior planície inundável da terra, ocupada com atividade econômica há quase 300 anos, possa ser considerada o ecossistema mais conservado do Brasil?”, questiona ele.

Sua explicação: “a resposta envolve vários aspectos, sociais, ambientais e econômicos, importantes, se considerarmos uma tendência de correlação negativa entre pobreza e desequilíbrio ecológico, ou seja, quanto maior a pobreza de determinada região maior a pressão sobre os recursos naturais de maneira geral. A pecuária de corte enriqueceu e conservou o Pantanal. Assim sendo, a meta de conservação do Pantanal passa, necessariamente, pelo fortalecimento da bovinocultura tradicional dessa região. A sustentabilidade desta atividade econômica garante a conservação da região”.

De acordo com o mapa de cobertura vegetal dos biomas do Brasil realizado pelo Ministério de Meio Ambiente (MMA), o Pantanal é considerado o ecossistema mais conservado do Brasil, com a maior percentagem de cobertura vegetal nativa (86,8%) e menor área com ação antrópica (11,5 %). Entretanto, praticamente 95% da região é constituída de propriedades privadas, das quais, 80% da área é utilizada para bovinocultura de corte.

Essas características de conservação estão indo por terra, pois a cada dia que passa, as interferências antrópicas aumentam, a degradação aumenta e as consequências estão se tornando catastróficas como vemos nos dias de hoje. O pantaneiro enfrenta todas essas adversidades, mas não sabemos até quando resistirá. Desejamos muita força para esses abnegados e muita sorte para passar por essa situação difícil. Não temos muito o que comemorar nesse dia por essa situação drástica, mas temos que reforçar a importância desse personagem tão importante desse ecossistema tão extraordinário e valioso para a humanidade. Muita força companheiro.
 
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