Rimas e versos que contam a vida simples do homem do campo num ritmo tão gostoso que nos faz parar e ouvir e sentir e sorrir e chorar e morrer de saudades…
Uma forma engraçada e linda de falar e de declamar que revela, em cada um de nós, o caipira que realmente somos e secretamente adoramos ser.
Aqui na roça nóis si deita
sempre muito agarradinho
nóis si inrósca, si ajeita,
passa a noite coladinho
Nossa cama di madêra
é ondi nóis faiz o ninho
i passa a noiti intêra
trocanu nossos carinho
Nóis véve cum amô
Anqui na nossa paióça
cum as bença di nosso sinhô
cuidâno da nossa roça
Quanu di noite esfria
Nós ajunta us cubertô
i juntinho si inrudia
tocanu nosso calô
I ansim nós passa a vida
eu i minha companhêra
às veiz nóis inté qui briga
mais é coisa passagêra
Adespois vem a vontade
di dá uns beijo moiádo
i nu finzinho da tarde
nóis fica juntinho agarrado.
sempre muito agarradinho
nóis si inrósca, si ajeita,
passa a noite coladinho
Nossa cama di madêra
é ondi nóis faiz o ninho
i passa a noiti intêra
trocanu nossos carinho
Nóis véve cum amô
Anqui na nossa paióça
cum as bença di nosso sinhô
cuidâno da nossa roça
Quanu di noite esfria
Nós ajunta us cubertô
i juntinho si inrudia
tocanu nosso calô
I ansim nós passa a vida
eu i minha companhêra
às veiz nóis inté qui briga
mais é coisa passagêra
Adespois vem a vontade
di dá uns beijo moiádo
i nu finzinho da tarde
nóis fica juntinho agarrado.
Poesia caipira tradicional
Você já ouviu algum desses “causos”? Confesse! Você se emocionou quando ouviu, não é mesmo?
É que nosso coração é caipira, assim como o de todos que se identificam com a linguagem e a vida simples do homem do campo. A representação da vida caipira, do cotidiano das fazendas brasileiras é a representação de todo brasileiro.
A poesia caipira tem uma característica só dela: é feita no dialeto caipira! Ele imita o som das palavras, escritas como são ouvidas no meio rural, ignorando os graves erros de ortografia e gramática. Escreve-se como se ouve falar! Baseado no dialeto popular regional, que reflete o jeitinho delicioso do expressar acaipirado do interior, repleto de sons originais que brotam no seio do povo.
São palavras de um poeta, que peregrinando pelo interior, é impregnado de rusticidade, camaradagem e humildade, proporcionando alegria e diversão, mostrando a tristeza, falando das coisas do coração, do dia a dia do lavrador quase inculto, em uma linguagem que eles compreendem e aceitam!
Dialetos caipiras
A grande variedade de dialetos por todo o país, a diversidade cultural de cada região, a origem baseada em diversas raças e tribos, sobretudo miscigenadas, e também as classes sociais diferenciadas, enfim, tantos fatores essenciais permitem (ainda bem!) que o seu palavrório, a sua linguagem própria e o fato social não sejam totalmente escravizados pelos grilhões da gramática.
O preconceito da “cultura” instituída e dos “pouco sabidos”
Há intelectuais que, preconceituosos em relação à poesia caipira, situam-na nas camadas mais incultas, atrelando-a ao linguajar vulgar, por conter tantas transgressões ao vernáculo. São aqueles que defendem, intransigentemente, a obediência incondicional às normas gramaticais, mas não se apegam ao sentimento, ao lamento do caipira, ao poético, ao amoroso, ao amistoso…
Eles que continuem em seus círculos de “cultura” fechados, escuros, obtusos e empoeirados e deixem para nós, as caipirices, a alegria de sorver o tom, o som e o ritmos do homem mais simples e, por isso mesmo, mais sábio!
A poesia caipira não desafia a linguagem culta! Ela apenas não se se submete a regras gramaticais ou de quaisquer outros vieses. Faz parte certamente da Língua que é, na verdade, a síntese de todas as formas de expressão dos pensamentos, desejos e emoções de um povo.
A poesia caipira se encaixa perfeitamente para ser declamada em teatros, festas juninas e nos meios escolares. Na sua essência, é uma imitação do falar caipira, da gente do mato, que pouco acesso teve à escola. Não se deve entendê-la como uma maneira de cultivar a desordem gramatical, mas, sim, compreender que ela está retratando o contexto social, voltada ao povo que fala daquele jeito e, desta forma, entende o seu mundo, indiferente à beleza gramatical, mas consagrando a expressão da língua isolada do seu contexto maior, mas apegada ao seu mundo mais perto do trabalhador rural.
Há, pois, preconceito contra esse tipo de poesia, embora nela exista muita arte, principalmente porque mostra, com expressões próprias do povo que morou ou ainda mora na zona rural, os seus sentimentos, o seu interior, a sua alma. Nela comparece muita beleza, encantando a quem se dirige, que ri, acha engraçado e, às vezes, conforme suas letras, até chora. Em síntese, um potencial artístico maravilhoso.
E você? O que acha?
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